quinta-feira , 25 abril 2024
Goiânia

Exclusivo: leia a íntegra do texto (com a apologia do vandalismo) que Samuel Silva apagou do seu Facebook

No mundo da internet, é assim: postou, colocou alguma coisa no ar, não adianta apagar porque tem sempre alguém que copia e printa.

É o caso do estudante Samuel Silva, um dos 21 presos pela polícia por atos de vandalismo e incitação à violência na noite de terça-feira, em Goiânia, quando estabelecimentos comerciais foram depredados.

Depois que foi solto, Samuel escreveu uma longa ladainha, onde defende abertamente os atos de vandalismo, faz as acusações de sempre ao trabalho da polícia, nega as declarações que deu à TV Anhanguera e justifica a depredação de estabelecimentos comerciais como um “ato político”.

Ele retirou o texto do seu Facebook provavelmente sob orientação de um advogado, já que está sendo processado e a peça, com certeza, agrava a sua situação jurídica. Apagou, mas não adiantou.

O blog 24 Horas já havia capturado o post que Samuel Silva deletou. Aqui está ele, na íntegra, fazendo a apologia do vandalismo, exatamente como foi pendurado pelo rapaz na sua conta no Facebook:

Samuel Silva

Tá, eu iria apenas me manifestar após ter provado minha inocência mas o fato de eu ter cedido duas entrevistas, que foram desonestamente distorcidas, e ter aparecido no jornal fizeram as coisas saírem do controle. Serei sucinto, mas ainda assim o texto é longo: 1. Sim, eu e cerca de 20 manifestantes fomos detidos ontem no ForaMarconi e passamos a noite na delegacia até o pagamento de fiança. 2. A ROTAM, detentora de sua “fé pública” está nos acusando por dano. Fomos presos em ”flagrante” pelo vandalismo realizado ontem, sendo que a voz de prisão foi realizada cerca de 40minutos após o vandalismo, já distante de onde o mesmo ocorreu, quando um grupo de manifestantes já dispersos se reuniram para que em um grupo maior não fossem um alvo tão fácil quanto pequenos grupos. Caminhávamos em busca de um local mais iluminado e movimentado, visando maior segurança, quando alguns P2 que nos seguiam mandaram nossa localização à ROTAM que, com vários carros, nos cercaram e realizaram seu procedimento de detenção tão preocupados com direitos civis e humanos. Mochilas foram revistadas. A do Robson foi aberta e retiraram nossas subversivas garrafinhas d’água. Pouco depois, reuniram todas as mochilas apreendidas e colocaram pedras recém recolhidas do lado para forjar “evidência” do “vandalismo”. Dois menores portavam drogas, as quais foram também colocadas como posse dos manifestantes de maior enquanto os menores já eram encaminhados ao órgão de menores infratores. Fomos gentilmente tratados com chutes, xingamentos (mas alguém tem que avisar à esses militares que chamar alguém de viado ou bixa não configura ofensa, isto é, chamar alguém de homossexual não é ofensivo, ofensivo é ser homofóbico como eles) e outras formas de truculência. 3. Fomos ao 8 DP, depois de uma agradável amostra de direção defensiva da ROTAM que se repetiu em outros momentos da noite, no qual já nos esperavam a MídiaNinjaGO, membros da Frente de Luta GO, e advogados voluntários da OAB. A polícia tirava fotos e filmavam-nos sem nosso consentimento. Um PM fez questão de falar para me filmarem, porque segundo ele a mensagem na minha camiseta era política e incentiva a bagunçava. Na mesma estava escrito: Angry Pacifist. 4. Não lembro com detalhes o que falei aos dois jornalistas com quem conversei. Posso dizer que a reportagem da TV Anhanguera foi estrategicamente editada, e o que esse site afirma está completamente distorcido: http://goias24horas.com.br/14677-ate-manifestante-preso-reconhece-que-nao-houve-protesto-so-vandalismo-e-quebra-quebra-criminoso/ . Primeiramente, sobre o “violento protesto”, vamos deixar claro que propriedades foram sim depredadas, isto é um fato, mas eu não vi nenhuma agressão física a ninguém, exceto é claro, da polícia para com quem estava no protesto. De fato presenciei a maioria das grandes depredações. Um policial ficou indignado que eu possa ter presenciado o mesmo e não ter a impedido. Ora, por acaso eu deveria arriscar minha integridade física, sob forte fogo de balas de borracha e bombas, para preservar a integridade daqueles carros luxuosos? Novamente indago, como em outros textos, quais são nossas prioridades, pessoas ou coisas? A frase, colocada fora de lugar, de que “aí não era mais manifestação” se referia não à depredação em si. É clarividente que um protesto não deixa de ser um protesto por causas de ataques à lojas, não cheguei nem perto de afirmar o que foi divulgado pelo goias24horas, que inclusive só divulga matérias governistas. Se de um lado eu não cheguei nem a segurar uma pedra em todos os protestos de junho e julho, eu também aprendi a não condenar aqueles que assim canalizam sua indignação. O que eu tentei enfatizar na entrevista era o que eu consideraria um quebra-quebra político e um banal. Identifico a depredação que visa uma causa a defender ou um símbolo a se combater um protesto político. Daria como exemplo disso desde a pichação “Abaixo a ditadura”, em tempos de outrora, quanto a pichação “Copa para quem?” ontem colocada. Assim como o assalto à bancos, na ditadura, visando arrecadar fundos para lutar contra a repressão, quanto a depredação de agências atualmente, que mostram fúria popular em relação à maneira que funciona nosso sistema financeiro. Nunca vandalizei nada, mas nem por isso não sou capaz de reconhecer o ato político que pode estar envolvido nas depredações. O que citei como ‘quebrar por quebrar’ se referia à quebra dos carros nas ruas (não nas concessionários) enquanto nós fugíamos das balas. Posso até estar errado, mas aquilo à mim não configura um ato visando uma causa tal as que já citei. Pelo que identifiquei, foi uma atitude realizada no calor do momento, sem reflexão, canalizada sobre o que estava na frente. Deste momento em diante, a manifestação realmente tinha acabado, o que havia era apenas corre-corre, com cada um tentando garantir sua segurança. Neles incluídos manifestantes que depredaram e manifestantes que não depredaram. 5. Enfim. Posso afirmar por mim e pelo Robson com toda honestidade que somos inocentes de tudo quanto fomos acusados. Entre os crimes que queriam colocar em nossa ficha, se encontrava até formação de quadrilha. Os presos nem se conheciam. Os companheiros de cela, a maioria presa no mesmo momento que nós, também negaram qualquer tipo de depredação. Dois deles, posso testemunhar, inclusive foram presos sem nem participarem da mesma, chegaram atrasados quando o grupo já estava disperso procurando um lugar seguro, se reuniram com a gente e acabaram sendo presos. O que acontece, e todos concordamos, é que o detimento tinha um intuito simples, produzir bodes expiatórios. A polícia não poderia deixar um ato depredador como o de ontem ocorrer sem que eles mostrassem serviços e detivessem suspeitos (para eles, mesmo que nada tenha sido flagrado, já somos culpados). Tive o azar de estar entre o grupo que estava no lugar errado na hora errada, mesmo sem ter feito nada de errado. Protestar, caros amigos, não é crime. E apesar de inevitável vergonha de ter meu rosto associado à atos que não fiz e à ideias que não defendi, tenho total ciência da minha integridade e de tudo realizei. Não tenho vergonha de ir às ruas e presenciar tudo com meus olhos. Prego pacificidade, não passividade. Até Gandhi reconhecia que, apesar da não-violência engajada ser totalmente superior à violência com meio para um fim, esta por sua vez também é totalmente superior à mera passividade que governantes e midiáticos tanto clamam a nós. Desafio a qualquer um a me desmentir e achar alguma imagem minha incitando ou realizando violência ou depredação. Eu estava de bermuda e camisa branca, sem mochilas. Se alguém conhece alguém que presenciou o ocorrido, pergunte se teve alguém descrito como eu fazendo algo ilícito. 6. Sou estudante e manifestante político, não realizei nenhum crime e fui preso, tratado e divulgado como criminoso. Entendo aqueles indignados com o vandalismo que tanto discordam e que queiram que os responsáveis respondam por isso. Mas não se enganem, não se iludam com o que está sendo passado. Os presos do dia 30 de julho, focados em manifestar indignação com o coronel, digo, governador Marconi Perillo são PRESOS POLÍTICOS. Os responsáveis pela depredação nem foram pegos, estavam bem protegidos com máscaras e conseguiram fugir. Quem foi preso são os bodes expiatórios encontrados. Se alguém se importa com justiça, manifestem solidariedade aos presos. Provaremos nossa inocência, aguardem.

Especial agradecimento ao pessoal da Frente de Luta, que permaneceu do lado de fora da delegacia durante todo procedimento, sem dormir e com frio, e conseguiram levar mantimentos para nossa cela, de forma que ninguém passou fome e sede. Agradeço à MídianinjaGO, exemplo de jornalismo que eclodiu nos protestos e que tende a mudar a forma que a cobertura dos mesmos é feita. A todos que foram à delegacia protestar contra a repressão e os abusos de poder da polícia. Aos advogados voluntários da OAB, que deram um show trabalhando toda a madrugada para garantir um tratamento constitucional dos detidos. Ao meu pai, porque compreendo que não é fácil receber uma ligação de madrugada e ter que buscar um filho na delegacia, ainda mais devido a uma injustiça. E por fim aos companheiros de cela, presos políticos neste 30 de julho de 2013. Como comentamos nesta noite em branco, “manifestante não é detido, manifestante ocupa a cela!”

Aos PMs que agora vão ficar investigando o facebook de quem foi preso, um beijo! Teus abusos batem na minha inocência e voltam!
É coincidência que a paz social de que dizem defender seja a paz dos privilegiados?
“Democracia é barulho, quem gosta de silêncio prefere ditaduras” Vladimir Safatle

Viajarei amanhã, preciso espairecer. Mas logo voltarei, tenho uma defesa a realizar.

 

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