sexta-feira , 29 março 2024
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Pablo Kossa, sobre a Operação Miquéias: “O lance é torcer pela condenação de quem meteu a mão onde não devia. Literalmente”

Veja artigo do multimídia Pablo Kossa sobre a Operação Miquéias, publicado no jornal digital A Redação:

 

Sexo, grana e poder

Usar sexo para esquemas é tática eficaz
Goiânia – Quando a Polícia Federal trouxe ao público a Operação Miqueias, ficou claro que se tratava do modus operandi mais elementar possível. A mistura de sexo, grana e poder, um levando ao outro e o outro levando ao um, existe desde que o mundo é mundo. Esses três quesitos se entrelaçam de tal forma que é difícil perceber o que é a coxa, a barriga, a boca ou o gemido de cada um.

É a velha história do ovo e da galinha, pois não sabemos qual dos elementos é o original. Por exemplo, fulano é poderoso por ser rico e pegar todas, pega todas por ser rico e poderoso, ou é rico por ser poderoso e pegar todas? Não há resposta. Não há causa e consequência. Todos fatores caminham juntos e são inseparáveis.

Colocar uma gostosa, ops, uma pastinha para convencer político tiozão a fazer um esquema com a grana dos servidores públicos, e ainda deixando o cara colocar algum no bolso, é uma tática que tem grande probabilidade de ser exitosa. O poder de convencimento de um belo espécime que sexualmente atrai o interlocutor é bem mais significativo do que alguém que lhe é indiferente. Simples assim.

Além disso, caso o ato sexual seja consumado, a coisa fica ainda mais complexa. O grau de intimidade criado pela relação deixa tudo mais confuso, mais propício a concessões que não seriam feitas caso o desenrolar da conversa tivesse sido feita em ambiente formal. O que não se resolve no escritório, na cama adquire outra perspectiva.

Dizem que não devemos entrar em assuntos pessoais na esfera pública. Concordo. O que um ou mais adultos fazem de forma consensual entre quatro paredes só diz respeito aos mesmos. Contudo, a coisa muda de figura se dinheiro da previdência de servidores públicos é colocado na jogada. O que era da esfera privada se torna da pública no mesmo ato. Logo, não podemos ter pudor para esmiuçar o que de fato rolou. Parabéns para a Polícia Federal pelo uso de seu aparato de inteligência de forma tão eficaz.

Minha avó me ensinou que quando a esmola é demais, o santo desconfia. Os homens públicos que gostaram dos contatos das pastinhas deveriam ter aprendido isso. E também deveriam saber que dinheiro de previdência deve ser zelado. Afinal, o futuro de muita gente está ali naquele fundo. Brincar com isso é coisa séria. Embolsar um por fora e pegar uma gata no meio do negócio só deixa tudo mais feio ainda. Agora não dá mais para chorar sob o leite derramado.

O lance é torcer pela condenação de quem meteu a mão onde não devia. Literalmente.