sexta-feira , 29 março 2024
EleiçõesGoiás

Artigo de Carlos Alberto Santa Cruz mostra como Friboi tomou o PMDB de assalto e “humilhou” Iris

O experiente e respeito jornalista Carlos Alberto Santa Cruz escreveu um artigo imperdível no Diário da Manhã. As palavras estão publicadas na edição desta quinta-feira. Santa Cruz, que conhece Iris como poucos, mostra como o velho cacique perdeu o comando do partido e hoje é apenas um espectador das estripulias de Jr. Friboi.

Leia o texto:

A fábrica de dossiês e o candidato dos sonhos

DIÁRIO DA MANHÃ
CARLOS ALBERTO SANTA CRUZ

O candidato da oposição dos sonhos do Palácio das Esmeraldas é Júnior Friboi, sócio do BNDES, devedor de dois bilhões de impostos ao Estado de Goiás, com mais de dez mil ações trabalhistas e centenas de outras por acidente do trabalho, com vítimas até mutiladas.

O rei do gado acaba de anunciar que alugou (a arrobas de dinheiro) o marqueteiro Duda Mendonça para o milagre de boiadeirar votos para ele como candidato ao governo de Goiás. Duda é aquele que escapou do Mensalão por relevantes serviços prestados à Justiça.

O genial marqueteiro outra vez vai inovar e surpreender, pois dará um choque de gestão na comunicação, e usará na campanha de Friboi uma linguagem absolutamente bovina para confirmar a vocação de nossa sociedade agropecuária. A trila sonora da propaganda de televisão deverá ser a mais original da nossa goianidade – o berrante, harmoniosamente tocado pelo próprio Friboi, a exemplo do que fez, quando chegou para tomar de assalto o PMDB de Iris, atiçado, de Brasília, pelo PT de Lula e pelo PMDB de Michel Temer.

Com esse berrante, Friboi vai encher as urnas de votos, acreditem.

O perigo é repetir no fim da campanha a tragédia de “O Menino da Porteira,” de Luizinho: “Nem que o meu gado estoure/e eu precise ir atrás/ nesse pedaço de chão/ berrante eu não toco mais”. Porque ao fim da eleição, a vaca já foi pro brejo, “e aonde a vaca vai,/o boi vai atrás”. Pode até existir milagre. Mas esse de eleger Friboi pelo voto… Júnior Friboi já foi longe demais, muito mais do que imaginavam os seus seguidores mais bem remunerados e exaltados. Incrivelmente, conseguiu ser candidatado do PMDB contra a vontade de Iris, depois de desafiá-lo exaustivamente, e até humilha-lo. Cuidado, gente. Ninguém desafia e humilha Iris impunemente.

Há mais de 30 anos que Iris é senhor absoluto do PMDB, desde quando se elegeu governador em l982. Durante todo esse tempo, o seu prestígio foi testado, mas nunca confrontado. Assim que se elegeu pela primeira vez, com a eleição de Mauro Borges para o Senado, contra o seu voto e vontade, pois o seu candidato era Lázaro Barbosa, que ele reina sem nenhuma contestação.

Em 83, Mauro Borges, já eleito senador, não pode sequer ser candidato, porque Iris o trocou por Nelito Brandão. De uma vez, o ex-deputado Luiz Soyer, o peemedebista de mil costados, que presidira o partido nos tempos de chumbo da ditadura militar, tentou ser candidato ao Senado na segunda vaga do partido. Iris mandou o PMDB, por baixo do pano, votar em Mauro Miranda, na época um nome desconhecido no partido. Luiz Soyer perdeu feio.

Henrique Santillo era governador do PMDB, e Iris rompeu com o seu governo e ainda lhe tomou o partido. O ex-prefeito Nion Albernaz deixou o PMDB porque Iris não aceitou sua candidatura ao governo. O ex-governador Henrique Santillo e o governador Marconi Perillo tiveram que procurar outra legenda, forçados por Iris. Iris sempre mandou e desmandou no PMDB.

Até que apareceu esse empresário multimilionário, chamado de rei da carne, rei do gado ou até de sócio do BNDES, chegou ao PMDB sem pedir licença, arrastando esporas, de chapéu atolado e tocando berrante, arrombou a porta e tomou conta da histórica legenda. Um despautério.

Júnior Friboi desceu no PMDB de para quedas, roubou todas as flores do jardim, matou o cão, calou o dono da casa que agora já não tem mais voz para protestar. Não bastasse isto, insultou-o e desafiou-o publicamente, e agora ainda está escolhendo o cargo que o velho estadista tem que disputar – o que melhor ajudar à sua anunciada candidatura ao governo de Goiás.

Lá no arraial peemedebista as bolas estão trocadas, as coisas estão invertidas, e revertidas, e subvertidas. Em política e em eleição, trocar Iris por Júnior Friboi é prova de que o partido não quer mesmo disputar o governo de Goiás.

Iris e Friboi, dois homens ricos, riquíssimos. Só que Friboi é mais. Nesse terreno, Iris perde. Para o rei do gado, o dinheiro vem por gravidade. É uma máquina de fazer dinheiro.Nasceu e cresceu no coice das boiadas ou no volante dos caminhões boiadeiros. É trabalhador e determinado, mercê dos ensinamentos do pai, o velho Zé Mineiro, lá da fazenda Larga, em Posse. Mora nos Estados Unidos há muito tempo e gagueja o inglês.Não há nada mais bisonho do que o inglês na boca de um caipira. Não se sabe em qual o idioma Friboi tem mais dificuldade de se expressar: – inglês ou português.

Friboi não tem qualquer experiência em administração pública.Nunca sequer concorreu a síndico de prédio.Em matéria de votos é um fiasco. Parece que o eleitor tem mais medo dele do que o diabo da cruz. Há dois anos como candidato ao governo de Goiás, nunca chegou a 5 por cento das intenções de votos. Na última pesquisa Serpes veiculada pelo jornal “O Popular” Friboi, com propaganda massiva da empresa Friboi, como candidato a governador, ainda perdeu mais de 50 por cento dos pontos da pesquisa anterior, caindo para 2 por cento da preferência popular. Este é o perfil do candidato do PMDB ao governo de Goiás. Se for candidato contra o governador Marconi Perillo será tucado antes do primeiro banho.

Depois de Marconi, Iris é o maior líder popular de Goiás. Já foi prefeito de Goiânia por três mandatos. Foi governador duas vezes, senador e ministro de estado também duas vezes. Depois de Marconi, foi o governador que mais realizou em Goiás. Em todas as pesquisas de opinião pública, Iris é o mais votado, depois de Marconi.

Mesmo com Iris candidato, o PMDB/PT ainda perde para Marconi. Se for de Friboi, mesmo com todo o dinheiro do BNDES, o PMDB tende fechar para balanço. Vai ser uma surra de dar bicheira.

Não existe candidatura de Antônio Gomide, prefeito de Anápolis, porque Júnior Friboi é candidato de Lula, da presidenta Dilma e do PT nacional. Além de ser indicado pelo PMDB nacional, que fez intervenção branca no PMDB estadual. E mais: a empresa multinacional Friboi está listada como a maior financiadora da reeleição da candidata do PT.

O ex-presidente Lula tem mágoas profundas do governador Marconi Perillo que lhe avisara da existência do Mensalão em visita que fizera a Goiás. . Quando o deputado Roberto Jeferson lancetou o tumor, o governador goiano confirmou à imprensa nacional que o presidente Lula sabia de tudo, pois lhe avisara com antecedência. Lula não caiu do governo, mas nunca perdoou Marconi por isto. E passou a persegui-lo sangrentamente.

Agora mesmo, o secretário nacional de Justiça do governo Lula, Romeu Tuma Júnior, o Tuminha, acaba de lançar um livro, expondo as vísceras do governo Lula e da ditadura militar. Lançado e esgotado recentemente, já na terceira edição, o livro “Assassinato de reputações – um crime de Estado”, é chamado pela imprensa nacional como o “livro bomba”, de tão explosivo. O assunto foi abordado pela revista “Veja” neste mês de dezembro.

No livro, revela que o Palácio do Planalto lhe encomendara um dossiê falso contra o governador Marconi Perillo. Eis o que diz textualmente sobre o assunto.

“Durante todo o tempo em que estive na Secretaria Nacional de Justiça, recebi ordens para produzir e esquentar dossiês contra uma lista inteira de adversários do governo. O PT de Lula age assim. Persegue seus inimigos da maneira mais sórdida. Mas sempre me recusei.Tentaram me usar para esquentar um dossiê contra o governador de Goiás, Marconi Perillo, só porque ele avisou o Lula da existência do Mensalão. Depois, quiseram incriminar o ex-senador Tasso Jereissat. Havia uma fábrica de dossiês no governo”.

Fala da existência de conta do Mensalão no exterior, nas ilhas Cayman. Passa pelo assassinato de Celso Daniel, prefeito de Santo André e diz que Lula colaborara com a ditadura militar, passando informações a seu pai, Romeu Tuma, à frente do Dops paulista, nos momentos mais arreganhados da ditadura militar. No livro, Tuminha chega a elogiar a posição de dedoduro de Lula.

“Acho que o Lula prestou um grande serviço ao país.Por se portar dessa forma, ele chegou aonde chegou. Sabe, essa violência nas manifestações de hoje com blak blocs? Se fosse no tempo do Dops com o Lula não se criava. Lula combinava tudo com o Tumão(ex-chefe do Dops e ex-senador). Quando fazia as manifestações dos metalúrgicos era tudo tranqüilo. O lula conseguia manter as manifestações sob o controle dele” – escreve o autor do livro Assassinato de Reputações – um crime de Estado”, Romeu Tuma Jr., o Tuminha, que participou do estado clandestino, nos tempos de chumbo da ditadura militar, trazendo essa prática para o governo do PT, sob a orientação do então presidente Lula.

Aqui em Goiás, está tudo como dantes no quartel de Abrantes. A oposição não se entende, engalfinhando-se em brigas paroquiais e até freqüentando as páginas policiais. O prefeito do PT em Goiânia é um fracasso só, nas ruas e na Câmara Municipal.O PMDB teima em manter a candidatura de Júnior Friboi, apesar dos 2 por cento de intenção de votos, além da humilhação imposta a Iris.

No governo é só alegria. A popularidade de Marconi está ascendente. O estado virou um canteiro de realizações, e no ano eleitoral, o governo deve inaugurar uma obra atrás da outra.

Agora mesmo, no dia l4 último, a base aliada do governo, sob o comando do vice-governador José Éliton,

Realizou em Goiânia o encontro político. O sucesso foi tão grande que surpreendeu o próprio governo. O encontro parecia um comício de abertura de campanha vitoriosa. E ali ficou claro que a chapa do governo para as próximas eleições está montada: Marconi governador de novo: José Éliton vice de novo e Vilmar Rocha senador. Ao fim do encontro, havia um pensamento unânime: “esta será a eleição mais fácil pra o governador Marconi Perillo. O resto foi festa.

(Carlos Alberto Santa Cruz, jornalista)