Em artigo na Folha de S. Paulo, desta segunda-feira, o presidenciável Aécio Neves elevou o tom das críticas à presidente Dilma Rousseff.
Ele ironizou as vaias contra a petista durante a abertura da Copa da Confederações e direcionou os ataques à queda na aprovação do Governo Federal. “A chefe da nação precisa manter serenidade para encontrar um caminho consistente a fim de reverter o quadro de dificuldades que o país está enfrentando.” Aécio encerra o artigo em tom de ironia: “Não será surpresa se os mesmos que, irresponsavelmente, acusaram a oposição pelo episódio do Bolsa Família concluírem que foi a mesma oposição que arregimentou 70 mil torcedores para vaiar a presidente da República. Ó vida!”
Leia o artigo:
Os velhos
Ao lembrar a figura do Velho do Restelo, personagem de Camões que simboliza o pessimismo diante dos novos tempos, a presidente Dilma Rousseff parece ter se esquecido da trajetória do próprio partido.
Quando a caravela do Plano Real estava pronta para zarpar, em 1994, o Velho do Restelo petista foi o primeiro a insistir: não vai dar certo. Assim também já havia acontecido com a Constituição de 1988, que o PT ameaçou não assinar.
Ou, ainda, quando expulsou dos seus quadros os deputados eleitores de Tancredo, desprezando o caminho mais curto para o reencontro do Brasil com a democracia.
Para decepção desse Velho do Restelo, o que deu errado foram suas previsões -a ditadura militar chegou ao seu fim, a Constituição inaugurou um novo tempo e o Plano Real trouxe estabilidade e prosperidade para o país. O Brasil pôde então singrar por mares nunca dantes navegados.
A queda da aprovação da presidente não deveria abalar o governo federal como o fez.
A chefe da nação precisa manter serenidade para encontrar um caminho consistente a fim de reverter o quadro de dificuldades que o país está enfrentando.
E, também, para enfrentar a perda de credibilidade internacional manifestada, agora, pela agência Standard & Poor’s ao alertar para uma perspectiva negativa da economia brasileira.
Há um episódio exemplar que resume a facilidade com que governantes se entregam à avaliação rósea dos bajuladores. Dizem que, na época da ditadura, a dona do “Jornal do Brasil” compareceu a um almoço com o então presidente Costa e Silva. Ele teria se queixado da severidade dos editoriais em relação ao governo.
A interlocutora explicou que o veículo adotava uma postura de “crítica construtiva”. “Agradeço, mas eu gosto mesmo é de elogio”, teria dito Costa e Silva, em resposta que parece estranhamente atual.
A analogia literária do Velho do Restelo cedeu lugar à galhofa do ministro da Justiça, que comparou a oposição a um personagem de desenho animado de sucesso. Aquele que vive reclamando: “Ó céus, ó vida, ó azar, ó dia…”.
A lembrança é boa porque, na verdade, o personagem combina com os próprios petistas, obrigados a receber quase todos os dias notícias ruins: o pibinho (“ó céus!”), a volta da inflação (“ó azar!”), o caos logístico (“ó dia!”).
Tendo em vista o nervosismo e a intolerância manifestados pelo governo nos últimos tempos e a sua crescente tendência autoritária de desqualificar toda e qualquer crítica, não será surpresa se os mesmos que, irresponsavelmente, acusaram a oposição pelo episódio do Bolsa Família concluírem que foi a mesma oposição que arregimentou 70 mil torcedores para vaiar a presidente da República. Ó vida!
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