Leia artigo de Ricardo Noblat, publicado nesta segunda-feira, no jornal O Globo:
Pobre Dilma!
Receita simples de um experiente observador da política brasileira para que o governo de Dilma se recupere já e vença as eleições do próximo ano:
– É preciso mudar e muito a relação política com a sociedade, o Congresso, os partidos, os governadores e prefeitos, as entidades empresariais, sindicais e populares. Além de mudar sua comunicação e a gestão e execução dos principais programas do governo.
E por fim:
– É preciso reavaliar prioridades e manter o rumo da política econômica para crescer sem inflação e distribuindo renda. É preciso também ouvir as críticas, demandas e reivindicações da cidadania. Além de ouvir as ruas e ir para as ruas defender e debater com o povo o plebiscito e a reforma política. No mais, é preciso mobilizar a base social e política do governo para defendê-lo e defender a obra do PT.
Que tal? Moleza?
Apresento-lhes o autor da receita para salvar o governo que mais perdeu pontos de uma única vez desde que pesquisas começaram a ser aplicadas no país: José Dirceu de Oliveira, ex-coordenador da campanha vitoriosa de Lula em 2002 para presidente da República, ex-ministro-chefe da Casa Civil, deputado federal cassado por seus pares, e finalmente condenado pela Justiça como chefe da quadrilha do mensalão.
Em resumo, ele recomenda uma mudança radical de comportamento do governo faltando 15 meses para a eleição que poderá estender o mandato de Dilma por mais quatro anos – ou não.
A mudança não é radical porque seus ingredientes sejam. É radical porque implica em virar o governo pelo avesso, a presidente pelo avesso.
Mudar a relação com a sociedade… Com os políticos, os líderes sindicais, o povo…
Perguntem a Dilma se ela enxerga problemas na sua relação com a sociedade, os políticos seus parceiros, os líderes sindicais, e o povo que até recentemente a sustentava no mais alto pedestal jamais alcançado por um presidente.
Talvez admita que enfrente alguns problemas com os políticos, sim, mas por culpa deles. Os políticos querem empregos e dinheiro sem limite. E chantageiam o presidente.
Pobre Dilma!
Os sindicalistas se parecem com os políticos. E se ela ceder aos seus apelos será o fim. De resto, não disfarçam seu despreparo. E falam muitas bobagens.
Mais de uma vez – pobre Dilma! – ela foi obrigada a mandar alguns deles calarem a boca. Ou a interromper a reunião com eles porque tinha mais o que fazer. Admira a paciência de Lula, mas a dela é menor. Fazer o quê?
José Dirceu propõe a mudança da gestão e da execução dos principais programas do governo. O que quer dizer com isso? Que os programas, verdadeiras joias da coroa do governo, estão sendo mal conduzidos?
Até aqui só quem dizia uma coisa dessas era a oposição.
Os principais programas do governo são mal geridos e mal executados…
Quero só ver Dilma concordar. Caso concorde assinaria o atestado de óbito de sua administração.
Agora é fácil falar em ouvir as críticas e demandas das ruas porque elas começaram a gritar. Mas quem foi capaz de prever que todo esse desmantelo ocorreria? Quem foi?
Não é justo cobrar das pessoas o que elas não estão preparadas para dar.
Jamais passou pela cabeça de Dilma aspirar à presidência.
Ela não pediu para suceder Lula. Acreditou que poderia dar conta do recado se contasse com os conselhos inteligentes dele.
Enganou-se.
Lula não esconde dos mais íntimos que também se enganou ao indicar como candidata a mulher que dizia ser melhor gestora do que ele.
Dilma está ameaçada de passar à História como a presidente que marcou o fim da Era do PT no poder.
Pobre Dilma!