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Opinião

José Dirceu ataca a Globo: “Como quem sonega 615 milhões pode se dizer a defensora da sociedade?”

Veja artigo do mensaleiro José Dirceu sobre as denúncias de sonegação fiscal pela Rede Globo, publicado pela imprensa nacional:

 

Silêncio ruidoso da sonegação da Globo

JOSÉ DIRCEU 19 de Julho de 2013 às 17:05

Como uma imprensa que se acha no direito de omitir informações sobre a sonegação de R$ 615 milhões pode se dizer defensora dos interesses públicos?

Se você é leitor e espectador apenas da chamada grande imprensa, provavelmente não está sabendo que a Receita Federal multou a Rede Globo de Televisão em R$ 274 milhões por não ter recolhido impostos. A informação, gravíssima, foi revelada pelo blog “O Cafezinho” e, mesmo depois de confirmada pelas autoridades, foi escondida pela grande mídia —isso quando não totalmente omitida.

Para não dizer que não houve qualquer cobertura, veículos da Rede Record registraram a notícia da multa, a realização de um protesto no Rio de Janeiro em frente à sede da Rede Globo, no começo do mês, e as declarações do deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) sobre sua intenção de abrir uma CPI para investigar a denúncia de sonegação fiscal por parte do maior conglomerado de mídia do país. A Folha de S.Paulo também deu a notícia, mas com vários dias de atraso, levantando dúvidas sobre se buscava mesmo informar seus leitores e confirmando o corporativismo entre as grandes empresas de mídia brasileiras.

No resto do que se convencionou chamar “grande imprensa”, apenas silêncio.

A questão é mais grave do que parece: o que está em jogo não é só um debate sobre o espírito de corpo da mídia ou sobre o controle da informação, a discussão é sobre a seriedade do jornalismo nacional. A Rede Globo foi multada pelo não recolhimento de R$ 183 milhões em Imposto de Renda em meio a supostas irregularidades na compra dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002. Considerando a correção monetária, o valor chega a R$ 615 milhões.

Que outro escândalo, político ou financeiro, envolve cifras maiores do que essa? Como uma imprensa que se acha no direito de omitir informações sobre a sonegação de R$ 615 milhões pode se dizer defensora dos interesses públicos?

Afinal, o dinheiro recolhido em impostos é usado para financiamento de políticas públicas. Logo, a Rede Globo está sendo acusada se não repassar à Receita Federal R$ 615 milhões que poderiam ter beneficiado milhões de pessoas. É de dinheiro de todos os brasileiros que estamos falando. Se a grande mídia nativa acredita que tem o direito se omitir sobre o assunto, como se não fosse algo de interesse público do país, essa mesma mídia não pode ser considerada séria. Não pode dizer que representa seus leitores ou telespectadores.

O caso todo é muito nebuloso. Os fiscais da Receita suspeitam que a Rede Globo usou uma empresa de fachada no exterior com finalidade de não recolher impostos no Brasil. A Globo negou e disse, em nota oficial, apenas que “os impostos devidos foram integralmente pagos e todos os procedimentos deram-se de acordo com as legislações aplicáveis”.

A reportagem da Folha de S.Paulo sobre o caso diz que a Globo declarou à Receita cerca de R$ 1,2 bilhão em investimento —operação que conta com isenção de impostos— na compra de participação de uma empresa nas Ilhas Virgens Britânicas. Mas os fiscais suspeitam que essa empresa foi usada pelo grupo tão somente para intermediar o pagamento dos direitos dos jogos da Copa, de forma a escapar da cobrança de impostos no Brasil.

A Receita não fala oficialmente sobre o caso e afirma que está investigando o vazamento das informações publicadas pelo blog “O Cafezinho”. Mas o caso não parou por aí. Novas revelações feitas em primeira mão também pela mídia alternativa apontaram que uma ex-funcionária da Receita foi condenada à prisão por crimes contra o Fisco envolvendo quatro empresas, dentre as quais a Rede Globo. A ex-funcionária é acusada de desaparecer com três volumes dos processos de autuação contra a Globo de uma delegacia da Receita no Rio de Janeiro, em 2007.

Depois do sumiço dos papéis, a Globo cedeu cópias dos documentos para ajudar a recompor os autos. Em seguida, a Receita não aceitou a defesa da empresa e, em 2009, a Globo aderiu ao Refis (Programa de Recuperação Fiscal), parcelando seus débitos. A Globo disse que não conhece a ex-funcionária da Receita e que não sabe qual foi sua motivação ao desaparecer com os documentos.

Os fatos falam por si só. São gravíssimos e mereceriam, se nossa mídia fosse séria, uma investigação minuciosa também por parte de jornalistas investigativos. Mas, em vez disso, nossa mídia prefere se omitir, prestando um desserviço ao público, sendo desmascarada por blogueiros e jornalistas que vêm mostrando uma disposição de informar muito maior que a da imprensa tradicional. Os poucos veículos que noticiaram a autuação da Rede Globo o fizeram de forma acanhada e evidentemente cedendo à pressão desencadeada pelos meios de informação alternativos.

Se a “grande mídia” pretende estar à altura da missão jornalística maior que é o dever de informar, tem a obrigação de recuperar a dianteira na revelação dos próximos lances desse escândalo. Esse é, definitivamente, um caso que serve de termômetro sobre os interesses ligados à comunicação.

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