Veja análise assinada pelo jornalista Daniel Gondim, repórter de política, publicada no Tribuna do Planalto:
Gomide é o nome do PT para 2014
Popularidade em Anápolis e articulações pelo interior fortalecem prefeito, que conquista apoio interno para obter indicação do partido
Daniel Gondim – Repórter de Política
Com projeto eleitoral cada vez mais delineado, Antônio Gomide participa de todos os encontros do PT no interior do Estado
O prefeito de Anápolis, Antônio Gomide (PT), está em vantagem para ser o nome do seu partido nas eleições de 2014. Percorrendo o Estado em encontros regionais da sigla e respaldado pela popularidade conquistada com a administração no município, o petista conseguiu apoio interno e, atualmente, é considerado como o melhor nome que a sigla pode apresentar para a chapa majoritária do grupo de oposição ao governador Marconi Perillo (PSDB).
A prioridade do PT é reeleger a presidente Dilma Rousseff (PT), o que significa que a aliança com o PMDB é a prioridade do partido também em Goiás. Em junho, a Tribuna divulgou que um emissário do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou de reunião com petistas goianos para transmitir o recado de que, no Estado, há até a possibilidade da sigla ficar fora da chapa majoritária, o que seria uma forma de dar contrapartidas estaduais para que, nacionalmente, partidos como o PSB abracem a ideia da reeleição da presidente.
Isso, porém, não impede que o PT se articule com os olhos voltados para 2014. Por isso, caso o PMDB ou outros partidos não consigam apresentar nomes para o Palácio das Esmeraldas ou, no mínimo, o partido tenha o direito de indicar um nome para a vice ou o Senado, os petistas já querem ter alguém “engatilhado”.
Nesse sentido, a avaliação é que, no momento, Gomide seria mais competitivo do que outros pré-candidatos do partido, como o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, e o deputado federal Rubens Otoni (PT). A praticamente um ano das eleições, o cenário ainda pode mudar, mas, desde já, o chefe do Executivo anapolino é o petista mais forte do momento, de acordo com grande parcela do partido.
Tudo isso, porém, ainda é tratado com sigilo dentro do PT. “Não existe esse consenso. O PT está trabalhando pela união da oposição e nem começou ainda essa discussão de nomes. Estamos evitando isso para não criar conflitos. Claro que quando andamos as pessoas, até de fora do PT, sugerem o Antônio Gomide e o Paulo Garcia, mas o partido mesmo ainda não entrou nessa discussão”, garante Rubens Otoni.
Encontros regionais
A preferência de Antônio Gomide sobre Paulo Garcia dentre os petistas tem, basicamente, dois motivos. O primeiro é o desempenho do anapolino na eleição municipal de 2012, quando ele foi reeleito para o segundo mandato com quase 90% dos votos válidos no município.
O segundo é que, além de prestígio em Anápolis, Gomide também começou um trabalho importante para estender sua popularidade a todo o Estado, o que pode provar justamente esse objetivo de viabilizar uma possível candidatura. Nesse sentido, os encontros regionais promovidos pelo PT no Estado serviram para que o anapolino divulgasse os feitos de sua administração em Anápolis.
Entre abril e junho de 2013, o PT fez 12 reuniões no Estado. Ceres, Porangatu, Valparaíso, Simolândia, Caldas Novas, Goiandira, Goiás, Caiapônia, Teresina de Goiás, Rio Verde, Indiara e Anápolis receberam o encontro, que teve como objetivos discutir os rumos da sigla para as eleições de 2014.
Gomide esteve em todos os encontros, nos quais ele tem participação importante. Governando a terceira maior do Estado, o petista de Anápolis sempre discursou sobre as mudanças proporcionadas por sua primeira administração no município, o que lhe rendeu a grande votação na eleição em 2012.
“Passa um vídeo que mostra uma rua esburacada, depois mostra a mesma rua asfaltada. Mostra uma creche abandonada, depois ela toda reformada. É um vídeo de candidato, muito bem feito e que passa essa ideia de como o Gomide transformou a cidade”, conta um petista que esteve nos encontros regionais.
Mesmo com tudo isso, Gomide não admite a possibilidade de ser candidato. “Meu foco na administração de Anápolis tem me dado a condição de ser bem avaliado em pesquisa, mas nunca coloquei meu nome e não sou candidato hoje a 2014. Sou sim candidato a fazer um bom trabalho com prefeito em 2013 aqui em Anápolis. O reflexo da gestão e do trabalho é que tem dado a condição das pessoas lembrarem do meu nome”, afirmou Gomide na sexta, 19, em entrevista à Rádio CBN.
Problemas
Gomide, porém, também terá de superar desgastes para se tornar, de fato, um consenso dentro do PT. Um deles, por exemplo, está até relacionado ao irmão, o deputado Rubens Otoni, que, na avaliação de muitos petistas, desenvolve um trabalho próprio, paralelo ao do restante do partido. O seminário “Goiás de todos nós”, gerido pelo parlamentar, é citado como exemplo disso.
No caso de Gomide, porém, a avaliação é a de o anapolino não deve ter desgastes por isso. “Há uma desconfiança com o Otoni, que tem um trabalho forte no interior, mas mais voltado para ele. O Gomide já é diferente. Ele recebe todos os petistas que vão até Anápolis, ajuda sempre que pode. Disso, o PT não pode reclamar dele”, argumenta uma liderança do PT.
Além disso, na quinta, 18, uma atitude de Gomide pode gerar reclamações. Na inauguração de uma creche em Anápolis, o prefeito recebeu o governador Marconi Perillo e, em seu discurso, teceu elogios ao tucano. “Muito obrigado governador e parabéns pelo brilhante trabalho no nosso município e em todo Estado de Goiás”, disse o petista, que, depois do evento, esteve junto com o chefe do Executivo estadual na abertura do Governo Junto de Você no município.
Rubens Otoni, porém, faz questão de minimizar o episódio dos elogios ao governador. “Você não estava lá, você não pode falar de algo que não viu, senão pode comer mosca. Não teve isso, e depois ele [Gomide] ainda deu declarações dizendo que o tempo do PSDB acabou”, diz o parlamentar, afirmando que o encontro em Anápolis faz parte da relação entre políticos.
“É relacionamento normal de um governante com outro governante. Sempre vai haver, o prefeito tem a responsabilidade de se relacionar de maneira formal e educada com outros”, argumenta Otoni.
Se conseguir se viabilizar dentro do PT, Gomide também poderia sofrer com dificuldades em relação ao PMDB, por exemplo, já que os peemedebistas são reticentes em relação ao petista e seu irmão. Uma das críticas é que, em 2010, a baixa votação de Iris Rezende em Anápolis na eleição estadual é creditada aos petistas, que não teriam se empenhado em pedir votos ao ex-prefeito de Goiânia.
Nesse sentido, Gomide poderia, por exemplo, ter tido um gesto de aproximação com o PMDB e ter oferecido a vice na chapa para a prefeitura de 2012. Em outras oportunidades, os peemedebistas fizeram essa opção. Em 2008, Iris buscou Paulo Garcia e, no ano passado, o prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela (PMDB), levou o ex-deputado estadual Ozair José do PP para o PT como forma de fortalecer a aliança. Em Anápolis, porém, Gomide preferiu manter como vice o petista João Gomes, que também tinha ocupado o cargo no primeiro mandato.