Doze anos se passaram desde que 26 trabalhadores foram resgatados de uma rotina de exploração e perigo na fazenda Santa Mônica, no município de Natividade, no Tocantins. Na maior parte desse tempo, o pecuarista e dono da propriedade, Emival Ramos Caiado Filho, não sofreu todas as consequências legais por confiscar carteiras de trabalho, descontar dos salários valores referentes à comida que servia aos seus empregados, obrigá-los a jornadas de até 13 horas diárias sem descanso semanal e oferecer como abrigo barracões sem energia elétrica, banheiro ou camas – conforme mostrou a Repórter Brasil em agosto de 2010.
Mas uma decisão de maio do desembargador do Trabalho Brasilino Santos Ramos determinou que o nome do fazendeiro – que é primo do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil) – volte para a “lista suja” do trabalho escravo, utilizada por bancos e empresas para vetar negócios com empregadores que utilizam mão de obra forçada em suas atividades econômicas. A reportagem procurou o governador para comentar a inclusão do primo na lista, mas não obteve resposta.
Alvo da fiscalização em 2010, ele foi condenado administrativamente pelas ilegalidades em outubro de 2014, mas desde então empreende uma batalha jurídica para retirar seu nome do registro. Uma liminar do Superior Tribunal de Justiça manteve seu nome fora da lista entre julho de 2015 e maio de 2021. No ano passado, o STJ reviu o caso e concluiu que ele não deveria tramitar naquela corte.
Com isso, seis anos após a concessão da liminar a seu favor, Caiado entrou na “lista suja”, mas permaneceu só por 10 meses, até abril de 2022, quando foi novamente beneficiado por uma decisão do judiciário – dessa vez, do Tribunal do Trabalho. A alegria do empresário durou pouco: desde o dia 31 de maio deste ano, Emival Ramos Caiado Filho é um dos 89 empregadores que submeteram trabalhadores à condição análoga à escravidão no Brasil.