Veja editorial da rádio 730:
Voto secreto no Congresso é uma garantia do regime democrático que impede vinganças como as do regime chavista
A Câmara dos Deputados aprovou por unanimidade o fim do voto secreto. Até quando deseja agradar o Parlamento brasileiro se equivoca. Ao contrário do que sugere a opinião publicada, diferente da opinião pública, o voto secreto é uma garantia do sistema democrático. Os políticos sabem que não perdem apoio popular se tiverem a escolha divulgada quando livram um colega da cassação, por exemplo. Ex-craques, não, mas escroques do Congresso Nacional possuem mais de um mandato. Em nada pesa na urna o fato de não prestarem para nada além de envergonhar a classe já muito emporcalhada. O dramaturgo Nelson Rodrigues disse que toda unanimidade é burra. E quando 452 deputados federais são unânimes é porque a burrice foi cavalar.
O coordenador da bancada goiana e também líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes, se opôs inicialmente ao projeto. Jovair queria ressalvas ao menos para eleição da Mesa Diretora da Câmara e na apreciação de vetos da Presidência da República. Está correto, pois o deputado que vota com a consciência pode ser vítima de vingança dos chefes dos dois poderes. Jovair foi vencido por um delas, o presidente da Câmara, o potiguar Henrique Eduardo Alves. Nas mais de quatro décadas como deputado federal, Alves disse nunca ter visto maior dano à imagem da Câmara que a manutenção do mandato de Natan Donadon. É modéstia de Alves. A sua eleição a presidente é melhor para o prestígio da Câmara do que ter representante na Papuda?
Sandro Mabel, deputado por Goiás, alertou para casos graves, como o de Hildebrando Pascoal, condenado por cortar pessoas com motosserra. Em setembro de 1999, 394 deputados optaram pela cassação de Pascoal. Se a votação tivesse sido aberta, com a identificação aparecendo no painel, quantos cassariam ameaças do nível de Pascoal? Catorze setembros depois, quantos teriam aparecido retalhados com motosserra? O raciocínio vale para o enfrentamento ao governo. Claro que nenhum presidente da República tem o nível de crueldade de Hildebrando Pascoal, mas a motosserra age nas emendas ao Orçamento e nas nomeações. Se votar contra o Palácio do Planalto, o governo liga a motosserra. Não retalha, mas retalia e a vindita pode se estender à unidade da federação de quem contraria o governo. Não é obra deste governo, é uma tradição nefasta, vem de bem antes de os Alves mancharem com seus intermináveis mandatos o belíssimo Rio Grande do Norte.
Descendo o litoral, encontra-se Alagoas, cujo infortúnio supremo não é a seca, mas a qualidade de seus políticos. Um deles, Renan Calheiros, novamente preside o Senado e pode limpar o populismo impelido pelo conterrâneo regional Henrique Alves. Triste país o que espera faxina feita por alguém do caráter de Renan Calheiros, mas é do jogo. Espera-se que haja menos senadores demagogos e eles impeçam a aberração aprovada na Câmara por unanimidade.
Os tempos de chavismo em que vivemos vão acabar precisando da discrição no Congresso Nacional. Um próximo passo nas repúblicas bolivarianas é cassar, condenar e prender os inimigos do regime. Tem sido assim na Venezuela e foi assim com o senador boliviano corajosamente trazido ao Brasil. Em nome do populismo tiram o anonimato, em nome do populismo vão tirar os mandatos. As práticas imputadas a Donadon são costumeiras e até menores do que os crimes atribuídos à maioria dos membros do Congresso. Com a votação nominal e às vésperas de uma reeleição dependente de verbas, coitado de quem não cassar os adversários do cofre.