“Hem? Hem? Figuração da minha cabeça. Se arrepare…”, contou o velho, ao grosso modo, a ilustração do escorpião e do sapo.
“Faz tempo” disse raspando a garganta e tirando o pigarro. “Na lagoa vivia um sapo que era tido como meio de transporte dos bichinhos que não sabiam nadar. Montavam na ‘cacunda’ dele e chegavam ao outro lado daquela imensidão de água. Um dia chegou o escorpião, escondendo a feiura do ódio de sua cara de cascavel em um bonito sorriso. Queria atravessar, pois corria a notícia de fogo naquela mata e quem ficasse daquele lado morreria torrado em chamas mais quentes que do ‘caldeirão do diabo’, dizia ele. O sapo matutou, e mesmo advertido por outros bichos, ficou com pena das lágrimas do peçonhento do escorpião. ‘Ele chora igual que fosse menino bonzinho’, argumentou. ‘Cê promete que vai manter seu ferrão longe das minhas costas?’, quis saber o bondoso sapo. ‘Sou um pobre, coitado. Veneno já não tenho mais’, respondeu o escorpião dum jeito que dava dó. E foi assim que os dois saíram para a travessia. Ah, mas acontece que quando eles chegaram na margem segura do lago, onde dava pé, o escorpião não se conteve. Cravou o ferrão nas costas do sapo e depositou toda peçonha que podia. Antes de morrer, o sapo viu nas feições do escorpião um gavião, um corvo e a um vulto preto, embaçados com a voz franzina de seu passageiro: desculpe-me, agradeço a carona. Mas essa é a minha índole. E assim morreram o sapo e todos os outros bichinhos, que não conseguiram atravessar o lago, lambidos pelo fogo. O Escorpião foi embora feliz.”
Questão de índole. Na minha opinião a ilustração mostra a situação dos produtores rurais de Goiás, que confiaram nas palavras sedutoras de Caiado antes das eleições. Em busca da própria vantagem ele chegou a afirmar que “criar uma taxa significava para ele ‘assaltar’ os agricultores”.
Pois olhem e vejam. Digo e repito: Caiado, escorpião. Agro, sapo. E a taxa, o veneno.
Cristiano Silva
G24H