Vinicius de Moraes, Ronaldo Bôscoli, Roberto Menescal, Chico Buarque, Tom Jobim, João Gilberto e Carlos Lyra frequentaram o Edifício Palácio Champs Élysées na Avenida Atlântica nº 2856, em Copacabana. O destino? Apartamento 303 do bloco Louvre, onde morava a família Leão. Uma das filhas do advogado Jairo Leão era chamada de Caramujo e Jacarezinho do Pântano, de tão tímida que era. Mas foi ungida para receber aqueles cantores armados com seus seus violões para a criação de uma revolução no mundo musical dos anos 50.
Ali nasceu a Bossa Nova. Naquele mesmo cantinho surgiu um gênio chamado Carlos Lyra, compositor e autor de clássicos da nossa canção como “Minha Namorada” e Maria Ninguém”.
Lyra deixou um legado marcante. Por exemplo, ele e Vinicius de Moraes convidaram Nara Leão para ser a voz feminina da peça musical criada pelos dois, Pobre Menina Rica, em 1963, o que marcou sua carreira profissional. O musical é uma história de amor de uma moça de classe alta carioca com um mendigo poeta.
Carlos Lyra e seus parceiros fizeram parte da resistência à ditadura. Um exemplo é a Marcha da Quarta-Feira de Cinzas, música dele em parceria com Vinicius de Moraes, considerada música de fundo da deposição do presidente João Goulart e da ascensão do marechal Castelo Branco. A canção foi feita na antevéspera de os militares chegarem ao poder. Meses antes do golpe, em meados de 1963, ela anunciava: “Acabou nosso carnaval, ninguém ouve cantar canções/ ninguém passa mais brincando feliz/ e nos corações saudades e cinzas foi o que restou”.
O Brasil perde um gênio. O cantor e compositor Carlos Lyra morreu na madrugada deste sábado (16), no Rio. O compositor de 90 anos foi internado com um quadro de febre na quinta-feira (14) no Hospital da Unimed, na Barra da Tijuca. Após alguns exames, foi detectada uma bactéria. A causa da morte não foi confirmada.