O ano era 2010. Já militava no jornalismo há algum tempo e não foi essa a primeira vez, que estive na casa de Bariani Ortêncio para gravar uma reportagem com o escritor, compositor, produtor musical, folclorista e sobretudo, uma pessoa que esbanjava simpatia e simplicidade.
Hospitaleiro, nos deixava a vontade. O ambiente acolhedor de sua ampla biblioteca e escritório onde criava suas publicações, era o último onde passaríamos para começar a gravação. Exímio contador de causos.
Enquanto contava, nossa equipe se deliciava com um café fresquinho e muitas quitandas enquanto conversávamos descontraidamente. Todas as matérias feitas no local, tinham essa atmosfera de acolhimento.
Advertir que a nossa reportagem estava atrasada para produzir a próxima, era um argumento em vão. As horas passavam com mais celeridade diante daquele ser de personalidade simples, semblante sereno e de riso fácil.
Bom de conversa, sabia lidar com maestria com as letras. Dono de um magnetismo impressionante, era difícil se despedir do intelectual que possuía a verve afiada de pesquisador, escritor, folclorista que trazia também, a sensibilidade de compositor. Livros publicados? Mais de cinquenta.
Waldomiro Bariani Ortêncio, o proprietário do antigo Bazar Paulistinha, que entrou em uma das composições mais populares, de Tião Carreiro e Pardinho com a música, Pagode em Brasília, exerceu muitas funções durante seu centenário de vida, celebrado em julho deste ano. Foi o criador do Peixe na Telha, também foi alfaiate e sempre esteve cercado de amigos. Um deles, o mineiro Guimarães Rosa. O autor do clássico “ Grande Sertão Veredas” que dizia a frase que se popularizou: “ … é junto dos bão que a gente fica mió…” está aos saltos de alegria para receber o paulista que se naturalizou goiano. Se é verdade que esses encontros ocorrem em nossa passagem, o Céu está em festa.
O escritor incentivador de gerações que iniciavam carreira na literatura, deixa um grande legado, mas também, um vazio na cultura e em nossos corações. O grande consolo, reside nas memórias afetivas dos que tiveram o privilégio de bater dois dedos de prosa com Bariani Ortêncio.
Por Ednair Barros
jornalista