quarta-feira , 20 novembro 2024
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No artigo dominical em O Popular, Cileide Alves diz que “Brasil precisa de um Madiba”

Veja artigo da jornalista Cileide Alves, de O Popular, publicado neste domingo:

Brasil precisa de um Madiba

Morto quinta-feira, aos 95 anos de idade, Nelson Mandela é um dos poucos líderes incontestáveis do mundo contemporâneo, como o foram em meados do século 20 líderes como Mahatma Gandhi, da Índia, ou Martin Luther King, nos Estados Unidos.
A morte de Mandela sensibilizou o mundo pelo que ele representou não apenas na luta contra o cruel apartheid na África do Sul, mas pelo caminho que escolheu enfrentar nesta luta, o da reconciliação nacional entre negros e brancos e a busca pela paz interna.
Por uma dessas coincidências que não passam despercebidas, a mesma edição do POPULAR com a notícia da morte de Mandela exibiu a seguinte manchete: 1,8 milhão de goianos já foram vítimas de crimes. De acordo com pesquisa realizada por vários órgãos, entre eles a Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), 31% dos goianos declaram terem sido vítimas da violência alguma vez na vida, contra uma média nacional de 32,6%. Índice que é maior entre os goianienses: aqui 34,2% da população se declararam vítimas.
Em Goiás, 15,2% confiam na PM, contra média de 18% no Brasil. Cerca de 10% dos goianos disseram que já foram insultados ou agredidos verbalmente por um PM e 6%, agredidos fisicamente. A confiança na Polícia Civil é um pouco melhor: 17% dos goianos confiam nesta instituição.
O medo e a falta de fé nos aparatos de segurança do Estado se transformaram em um dos mais graves problemas dos grandes centros urbanos no País. Casos relatados diariamente pela imprensa, como o de dois universitários mantidos por dez horas amarrados, amordaçados e vendados no porta-mala de um carro em Goiânia, depois de rendidos na volta da universidade na quinta-feira à noite, minam as esperanças no Estado e em um mundo de paz.
Os índices de violência nem a dor de mais de um terço da população vítima direta do crime têm sido suficientes para provocar uma grande mobilização contra a violência e pela pacificação da sociedade, ao estilo do que o Madiba dos sul-africanos fez em seu país.
Faltam ao Brasil líderes comprometidos com as dores de seu povo, estadistas que pensem menos em como vão se eleger ou se reeleger. Enquanto as pesquisas de marketing político forem mais importantes do que a dor da população e o populismo, o fio condutor das ações de governo, índices como esse continuarão a aumentar.
Mandela disse certa vez que celebrou “o ideal de democracia e da sociedade livre, que todas as pessoas vivam em harmonia e com oportunidades iguais” e que este era um ideal pelo qual esperava viver, mas que, se necessário, também um ideal pelo qual estava preparado para morrer. Este é o Madiba que não existe em nosso país.
Agora uma pausa para férias. Até a volta e que 2014 seja o ano de reconquista da paz.

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