quarta-feira , 20 novembro 2024
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[Opinião] Jornalista analisa movimento queremista que Iris acaba de fundar no PMDB

Iris funda movimento queremista

* Helvécio Cardoso

Disseram que ele não vinha. Olha ele aí. Iris Rezende rides again. Falaram que tinha morrido. Pois é! Morreu, mas passa bem.

Na manhã de hoje, 27 de fevereiro, o velho cacique pintou a cara, fez soar os tambores de guerra e reuniu a bugrada para, de tacape e borduna, subir contra os friboistas. Reunido com pelo menos 30 lideranças interioranas (segundo assegurou minha fonte), o morubixaba do PMDB anunciou que vai topar parada com Júnior Friboi na convenção eleitoral do partido. Disse que vai disputar a indicação de governador. Disse mais que aceita Friboi na chapa majoritária, a vice-governador ou a senador, à escolha do freguês, mas quer mesmo é ser candidato a governador.

Iris sempre foi tinhoso,o  que Friboi, nenenzão, nunca foi. Ele recebeu ali os próceres interioranos que se abalaram de longínquos rincões para suplicar-lhe que seja candidato a governador, que vá para o confronto com Friboi. Todos usavam, na lapela, um boton onde se lia: “Eu quero Íris”.

Esse novo movimento foi armado. Na verdade os queremistas foram induzidos pelo próprio Íris a querê-lo. Dias atrás, ele industriou um de seus auxiliares a colher assinatura dos notáveis do PMDB em um manifesto, cujos termos ditou, pedindo-lhe postulasse a candidatura de governador. Hoje, foi a reunião dos queremistas. Amanhã, não duvide,ó leitor de pouca fé, que muitos carros estarão circulando por aí ostentando um decalque onde se lê: “Eu quero Íris”.

Segundo um queremista presente à reunião, minha fonte, Íris teria dito que já deu muito refresco ao inimigo. Ele teria dito que deixou Friboi a vontade para cabalar votos na convenção, fazer proselitismo interno, viabilizar-se eleitoralmente. Ocorre que Friboi, como se diz na gíria dos políticos, “não decolou”. Todas as pesquisas de intenção de voto, tanto as sérias como as fajutas, mostram Friboi estacionado abaixo dos 15%, enquanto ele, Íris, aparece cabeça a cabeça com Marconi, liderando o páreo. Em algumas pesquisas Marconi lidera, em outras quem lidera é Íris.

Íris já deu colher de chá demais, agora chega! A essas alturas, está mais do que evidente que Friboi não tem estofo para derrotar Marconi e se eleger governador, nem com Duda Mendonça na causa. Cem dudas não seriam bastante para levantá-lo.

O fato é que com Íris o PMDB compete;  com Friboi, já está derrotado. Com Íris pode ser que o PT se aproxegue mais, com Gomide de vice, o que seria a chapa dos sonhos dos queremistas. Com Friboi, o PT marcha sozinho, perigando Gomide passar o PMDB para trás.

Será que os peemedebistas estão dispostos a trocar o certo pelo duvidoso. Creiam-me: estão. E não é privação de sentidos, não. É puro e fisiológico imediatismo. O que Friboi oferece a muitos convencionais do PMDB é algo muito mais concreto do que expectativa de poder, coisa demasiado metafísica para o gosto ultrapragmático dos peemedebistas hodiernos – se é que me entendem.

Inúmeras fontes peemedebistas me davam como certo que Friboi venceria Íris na convenção eleitoral do PMDB, caso Íris se atrevesse a enfrentá-lo. Friboi teria usado argumentos irrespondíveis para convencer os convencionais que ele, Friboi, deveria ser o candidato, ainda que houvesse outro mais excelente. Que argumentos seriam estes, não me disseram, nem perguntei porque acho indiscreto especular sobre a vida financeira das pessoas, cujo sigilo, de resto,  é assegurado em Lei.

O fato verificado – a reunião de Iris com o comando do queremismo militante – comporta especulações de variadas ordens. Muitos são céticos quanto à real disposição de íris de enfrentar Friboi na convenção. Íris sempre foi avesso à luta interna aberta. Sempre teve aversão ao combate homem a homem. Negócio dele é na tocaia, é no abraço de jiboia. Uma vez que Friboi avança com a obstinação de um rinoceronte endiabrado, o mais plausível é que Iris abra alas para deixar a fera passar.

Pode ser que, desta vez, ao menos, ele surpreenda. É a primeira vez que Íris se vê realmente ameaçado em seu domínio sobre o PMDB goiano. Por isso só lhe resta o caminho da luta – ou recolher-se à solidão, cabisbaixo como um velho lobo expulso da alcateia.

Em todo caso, publicamente Íris ainda não admitiu que vai tourear o miúra de Formosa. Somente intra-muros ele assume que vai lutar. Mas, como ainda não assumiu oficialmente sua disposição de enfrentar o bicho-papão, fica sempre uma porta aberta para recuos em caso de necessidade.

Aguardemos os acontecimentos.

* Helvécio Cardoso é jornalista.

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