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Estadão afirma que CPI foi ato de perseguição de Lula contra governador Marconi Perillo

No dia em que a prisão do goiano Carlos Cachoeira completou um ano (28/02), o Estado de S. Paulo publicou editorial com o título “Impunidade” em que afirma categoricamente que a CPI instalada no Congresso foi arquitetada pelo ex-presidente Lula para perseguir o governador Marconi Perillo (PSDB).

Diz o texto:  “Já se suspeitava, de saída, que a missão da CPI não era investigar nada, e sim constranger o governador Perillo, de modo a desviar a atenção do julgamento do mensalão. Tratava-se de uma revanche do ex-presidente Lula contra Perillo, porque o tucano havia tornado público que avisara o petista a respeito da compra de apoio no Congresso. Tornou-se uma CPI explicitamente a serviço dos governistas para uma vendeta”.

Leia o editorial na íntegra:

Impunidade
28 de fevereiro de 2013
O Estado de S.Paulo

Hoje faz um ano que o bicheiro goiano Carlinhos Cachoeira foi preso durante operação da Polícia Federal contra o crime organizado em Goiás. O caso, como se sabe, foi o estopim do escândalo que revelou a extensão das ligações de Cachoeira com políticos e com a Delta, empreiteira favorita do governo petista. O episódio é representativo da leniência com o malfeito que predomina em parte do mundo político, justificando seu atual desprestígio. Por isso vale a pena lembrar da efeméride – e constatar que apenas um dos políticos envolvidos perdeu o mandato.

Os quatro governadores cujos nomes foram citados no escândalo – Marconi Perillo (PSDB-GO), Agnelo Queiroz (PT-DF), Siqueira Campos (PSDB-TO) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ) – não enfrentam nenhum dissabor por conta do escândalo. O caso de Cabral é particularmente notável, tendo em vista suas relações íntimas com Fernando Cavendish, o dono da Delta.

Na Câmara, a Corregedoria arquivou as sindicâncias que apuravam o envolvimento de Stepan Nercessian (PPS-RJ), Sandes Júnior (PP-GO) e Rubens Otoni (PT-GO), todos amigos de Cachoeira e beneficiários de generosos pagamentos do bicheiro. O processo contra outro amigão de Cachoeira, Carlos Lereia (PSDB-GO), que chegou a usar o cartão de crédito do contraventor para fazer compras na internet, ainda está em curso – somente em dezembro passado a Mesa Diretora da Câmara encaminhou ao Conselho de Ética um parecer pela cassação. Protógenes Queiroz (PC do B-SP), por sua vez, conversou diversas vezes com um araponga de Cachoeira, dando-lhe orientações sobre investigações da Polícia Federal, mas isso não foi o bastante para que o Conselho de Ética da Câmara abrisse processo.

O único parlamentar punido, por ora, é o ex-senador Demóstenes Torres, que admitiu ser “grande amigo” de Cachoeira, como atestam os quase 300 telefonemas entre eles, e que foi acusado de traficar influência em favor do bicheiro. Demóstenes, como se sabe, era o paladino da ética no Senado.

O caso Cachoeira é tão profícuo que criou o escândalo dentro do escândalo. Não bastasse a desenvolta atuação da quadrilha nas entranhas da República, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)que investigou o caso superou todos os limites da desfaçatez, mesmo para os padrões atuais das CPIs. Já se suspeitava, de saída, que a missão da CPI não era investigar nada, e sim constranger o governador Perillo, de modo a desviar a atenção do julgamento do mensalão.

Tratava-se de uma revanche do ex-presidente Lula contra Perillo, porque o tucano havia tornado público que avisara o petista a respeito da compra de apoio no Congresso. Tornou-se uma CPI explicitamente a serviço dos governistas para uma vendetta.

O tiro saiu pela culatra e, dia após dia, surgiram informações dando conta da rede de negociatas envolvendo Cachoeira e figuras importantes do mundo político e empresarial, notadamente Cavendish. Sua empreiteira, recordista de contratos com o governo federal e estrela do PAC, faturou quase US$ 900 milhões com obras em 20 Estados em 2011, ano anterior ao escândalo. Daí em diante, emergiram irregularidades e suspeitas em profusão, incluindo a informação segundo a qual ao menos 13 empresas de fachada tinham negócios com a Delta. Em junho de 2012, a Controladoria-Geral da União classificou a empresa como “inidônea”.

Nada disso constrangeu os deputados. O sigilo das empresas fantasmas que tinham negócios com a Delta, cuja quebra poderia revelar a extensão dos danos criminosos ao erário e o envolvimento de autoridades graúdas, manteve-se intacto. Os poucos parlamentares da oposição empenhados em levar o caso adiante ainda tentaram prorrogar os trabalhos para aprovar a quebra dos sigilos, mas os governistas impediram – a intenção era limitar o caso às relações da Delta no Centro-Oeste, para atingir o tucano Perillo, como queria Lula.

O relatório final dessa CPI que não puniu ninguém teve uma página e meia. Para retratar a impudência da caciquia política nacional, é o bastante.

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