quinta-feira , 19 dezembro 2024
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Artigo de Wanderley Faria é ato de lucidez em meio a festival de tolices na imprensa goiana

O artigo “O Basta dos Brasileiros”, do editor de Economia de O Popular Wanderley Faria, publicado na página de opinião do jornal, finalmente traz alguma luz ao debate sobre o sentido das manifestações que ocorrem em todo o Brasil – em meio a um verdadeiro festival de tolices que estão sendo escritas por jornalistas goianos nos veículos onde trabalham e mesmo nas redes sociais.

Pena que o texto seja curto – é tão bom que não incomodaria se fosse um pouco maior.

Wanderley levanta aspectos que passaram despercebidos até pelos melhores analistas da política e da economia dos grandes jornais brasileiros, como o custo da corrupção, a baixa competitividade, a elevada carga tributária e a ausência de infraestrutura adequada para o crescimento – fatores que têm, sim, muito ver com a eclosão da onda de protestos de rua.

Leia o artigo de Wanderley Faria, na íntegra:

 

O basta dos brasileiros

O Brasil foi sacudido, nos últimos dias, por um movimento sem líderes e que rejeita os políticos, bem como os partidos, mas com uma extensa lista de cobranças de promessas sempre repetidas e nunca cumpridas. O brasileiro perdeu a paciência. A maioria da população foi às ruas de forma pacífica e nem mesmo a ação dos vândalos, condenada por todos, tirou o brilho da importância desse ato de cidadania e democracia.

O estopim foram os protestos contra o aumento das passagens de ônibus em várias cidades do País, mas a voz rouca das ruas ampliou os gritos de insatisfação também contra a alta da inflação, elevado nível de corrupção, aumento da violência, a exagerada carga tributária e os gastos com a Copa do Mundo e com as Olimpíadas, enquanto faltam recursos para a saúde, educação e segurança.

É verdade que o Brasil tirou muitos cidadãos da pobreza nos últimos anos e foi bem-sucedido em criar uma nova classe média mais consciente e exigente, como bem observou o economista Angel Ubide, do Peterson Institute for International Economics, um centro de estudos econômicos e políticos de Washington. Também, nas últimas décadas, o País presenciou o crescimento econômico e a melhora do padrão de vida da população. Além disso, a taxa de desemprego está entre as mais baixas da história do País.

Mas, isso não significa que os brasileiros não tenham motivos para protestar. Têm e muitos. Os brasileiros pagam mais impostos do que qualquer outro país em desenvolvimento (36% do PIB) e, em troca, têm serviços públicos precários. O crescimento econômico é pífio, a alta da inflação corrói a renda do trabalhador e os gastos público estão elevados. A violência e a disseminação do crack também têm sua parcela na insatisfação popular.

Os protestos que acontecem agora no País são um reflexo deste movimento, de brasileiros crescentemente insatisfeitos com toda espécie de falta de respeito ao cidadão em suas diversas formas. Essa nova classe, como lembrou a revista britânica The Economist, desenvolveu uma relação inteiramente diferente com o governo. Cientes dos altos impostos que pagam, eles veem melhorias em suas condições de vida como um direito e estão dispostos a lutar com unhas e dentes por isso.

Num exercício de cidadania e democracia, o protesto dos brasileiros é um basta a má gestão e a corrupção, seja no Executivo, Legislativo ou Judiciário, pois o impacto das decisões em qualquer um desses Poderes na vida de cada um e, portanto, no bolso de todos, é grande.

A corrupção no Brasil, que custa R$ 95 bilhões aos brasileiros todos os anos, prejudica o aumento da renda per capita, o crescimento e a competitividade do País, compromete a possibilidade de oferecer à população melhores condições econômicas e de bem-estar social, e às empresas melhores condições de infraestrutura e um ambiente de negócios mais estável

 

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