No seu artigo dominical, a editora-geral Cileide Alves escreve em O Popular em defesa da liberdade de imprensa.
Diz Cileide que governos, de um modo geral, não gostam de imprensa livre e crítica.
Isso tanto é verdade que o PT não descansa um minuto atrás de uma fórmula para amordaçar a imprensa brasileira, a tal “regulação democrática dos meios de comunicação”.
Leia o artigo de Cileide Alves na íntegra:
A liberdade intocável
Em entrevista ao jornalista Alberto Dines, no Observatório da Imprensa, exibido na TV Brasil dia 21, o publisher da Folha de S. Paulo, Otávio Frias Filho, fez uma observação infelizmente precisa: “Todo governo age mais ou menos da mesma maneira em relação à imprensa. Ou seja, enquanto a imprensa elogia, é simpática, ‘a imprensa é uma beleza’, ‘a liberdade de imprensa é uma maravilha’”.
‘Mas tudo muda, quando a imprensa noticia aspectos vistos como desfavoráveis ou publica opiniões críticas: “Aí não importa se é governo de direita, liberal, de esquerda (…) Acho que todo governo, se pudesse, em termos ideais, suprimiria a liberdade de imprensa, a liberdade de expressão”, disse Frias Filho.
Hoje a maioria dos governantes (leia-se municipais, estaduais e ou federal) e os políticos de um modo geral defendem a imprensa livre de forma meramente protocolar, afinal precisam parecer democratas, mas partem para o ataque quando se veem criticados ou protagonistas de notícias que lhes incomodam.
Essa esquizofrenia entre discurso e prática marca o momento atual da democracia brasileira. É fácil encontrar exemplos disso. Na semana passada, a 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal manteve a censura prévia ao Grupo Estado, proibido desde 2009 de publicar notícias sobre a Operação Faktor (ex-Boi Barrica), a pedido do empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney, costumeiro orador em defesa de liberdades democráticas.
Essa decisão, curiosamente, foi tomada uma semana depois de outra, esta da 2ª Turma Cível do mesmo tribunal de Brasília, agora favorável à imprensa. O TJ negou o pedido de indenização do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) por danos morais contra a Editora Abril. “A liberdade de informação jornalística abrange também o direito de expressar opiniões, divergir, posicionar-se a respeito de fatos diversos”, diz a sentença.
No caso de Renan, a justiça considerou que “não houve invenção de fatos (o escândalo que o levou a renunciar à presidência do Senado) nem que a reportagem extrapolou o sagrado direito de informar”, derrubando a tese do senador de que as reportagens configurariam uma “campanha difamatória”.
Ações judiciais visam proibir os órgãos de imprensa de noticiar fatos jornalísticos para proteger a imagem de seus autores diante de seu público, para que se perpetuem nos cargos, para que mantenham intactos seus esquemas de poder e garantam a impunidade.
Mas qualquer que seja a decisão judicial não tem o poder de mudar o sentimento de uma população em relação aos políticos que a representa. Mesmo que os governos conseguissem suprimir as liberdades de imprensa e de expressão, não conseguiriam mudar o sentimento e a percepção dos eleitores a respeito de si próprios. Esse é o bem mais precioso de um cidadão que nenhum político consegue lhe tomar, e é ele que ajuda a sustentar a democracia contra todos os tipos de ataques.