sábado , 21 dezembro 2024
Opinião

A orquestra desafinada do governo Dilma, em O Popular, por Wanderley de Faria

Há tempos que o jornalista Wanderley de Faria, editor de fechamento de O Popular, se destaca no universo de articulistas da redação do jornal por fugir ao lugar comum e ao festival de obviedades, falta de informação e originalidades das tese defendidas.

Neste sábado, Wanderley brinda o leitor do Pop com outro texto bem articulado, equilibrado e muito contundente sobre a desafinação da orquestra da presidente Dilma Rousseff.

Vale a pena ler:

Desafinados

Um dia depois de a presidente Dilma Rousseff afirmar ter certeza de que a inflação vai fechar 2013 dentro da meta do governo, que atualmente é de 4,5% ao ano, com tolerância de dois pontos para mais ou para menos, o Comitê de Política Monetária (Copom) divergiu da presidente ao deixar claro, na ata divulgada pelo Banco Central na quinta-feira, que a alta recente do dólar vai pressionar a inflação no curto e no longo prazo e que será necessário continuar elevando a taxa básica de juros para reduzir os preços.

Essas são justamente as razões que levaram o BC a aumentar os juros na semana passada de 8% para 8,5% ao ano. A aposta predominante no mercado financeiro é de outro aumento de 0,5 ponto porcentual, no fim de agosto, com possibilidade de novos apertos na taxa até o fim do ano.

O Banco Central insiste que a insistência da inflação, mesmo tendo registrado recuo de 0,07% no IPCA-15 de julho, tem a ver com o consumo forte demais, com “a estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho” e com o “balanço do setor público em posição expansionista”. Eis aí outra divergência de tom e de conteúdo em relação ao diagnóstico apresentado por Dilma: de que “a atual política fiscal é robusta”.

Se fosse verdade, não precisaria de valer da chamada “contabilidade criativa” das contas públicas, manobra adotada pelo Tesouro Nacional para aumentar o superávit primário – a economia que o governo faz para o pagamento da dívida pública e ainda hoje o principal indicador de credibilidade fiscal. Se fosse realmente robusta, não precisaria insistir em ter 39 ministérios, nos quais há denúncias de gastança pública.

Não podemos deixar de considerar que em um ponto o Banco Central e o Palácio do Planalto demonstraram sintonia. O ponto de convergência está justamente em que a onda de pessimismo pela qual se deixam contaminar os agentes da economia (produtores e consumidores) contribuiu para acentuar a alta de inflação. O Copom chamou atenção para o fato de que, se não houver uma mudança na confiança das famílias e dos empresários, pouco efeito terão os esforços fiscais, a expansão da oferta de crédito e as concessões. E isso pode ter consequências para tomada de decisões de consumo e investimento.

A tarefa atual parece ser a de retirar a cortina de informações econômicas negativas que pesam sobre as decisões de empresários e consumidores. O problema é que a diferença está no tratamento a ser dado a onda de pessimismo. A presidente Dilma concentra seus esforços na força do discurso e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, na embromação, enquanto o Banco Central deixa claro que a melhor maneira de recuperar a credibilidade é adotar a dose mais adequada de juros. Ou seja, o BC está mais atento e decidido em combater a inflação e menos preocupado em promover o crescimento da economia. A orquestra está desafinada.