quarta-feira , 27 novembro 2024
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Pela primeira vez na história, um editor-chefe do POP é atacado em artigo publicado pelo próprio jornal

A editora-chefe de O Popular, Cileida Alves, foi atacada em artigo publicado hoje na página de opinião do próprio O Popular.

O autor da façanha é o médico Flávio Paranhos, que escreve regularmente no jornal.

Dr. Flávio contestou o artigo de Cileide, publicado no último domingo. Sob o título Off White, a jornalista bateu pesado na classe médica.

Na redação do POP, comenta-se que o artigo de Flávio Paranhos só saiu porque ele, Paranhos, é sobrinho de Luiz Fernando Rocha Lima, atual diretor de jornalismo do Grupo Jaime Câmara.

Nando, como Luiz Fernando é conhecido, teria exigido a publicação do texto, na verdade uma paulada como nunca se viu antes na história de O Popular: uma paulada no editor chefe do próprio jornal.

O médico Flávio Paranhos acusa Cileide Alves de fazer generalizações sobre a classe médica e pergunta se ela dispõe de pesquisas científicas respaldando as “verdades” que despejou contra os profissionais da saúde no artigo Off White.

No final, Paranhos insinua que a posição de Cileide é produto de “recalques e ressentimentos”, mas não dá maiores detalhes.

Veja o artigo:

O oposto de ciência

Flávio Paranhos

Costumo dizer que o jornalismo é o exato oposto da ciência. Enquanto esta se preocupa em compreender um fenômeno debruçando-se sobre ele e aprofundando até onde o método e técnicas disponíveis no momento permitem, desfazendo-se, no processo, de qualquer ideia pré-concebida que possa contaminar os resultados, aquele faz o exato oposto. O jornalismo não se interessa em compreender coisa alguma. Sob pretexto de tempo e espaço curtos, contenta-se com a casca de um fenômeno, deixando que ideias pré-concebidas o guiem no processo.

A postura da imprensa diante das recentes medidas anunciadas pelo governo federal em sua “política” de saúde pública, em geral, e o artigo Off White, da jornalista Cileide Alves, em particular, são emblemáticos nesse sentido.

Várias vezes lemos e vimos jornalistas entrevistarem prefeitos dizendo que médicos recusam ótimos salários, sem que em nenhuma delas viesse a informação complementar de que se tratava de favor de prefeito, com a dupla desvantagem de tornar o profissional um instrumento na mão do político e totalmente sem segurança de permanência. Além da obviedade de ser exceção, e não regra.

Sempre que se noticiou o veto da presidente ao projeto de lei do ato médico mencionou-se “diagnóstico e terapia”, retirando-se (lapso?) a palavra “nosólogico” (de doença) e não citando as várias ressalvas que vêm a seguir em relação ao diagnóstico e terapia das outras profissões.

As inúmeras e gritantes incoerências das propostas do governo passam batidas na imprensa. A ninguém, a não ser os médicos corporativistas, incomoda que se trate de “medidas emergenciais” de um governo que está no poder há dez anos, ou que se proponha mais dois anos de curso a título de prestação de serviço ao SUS, sendo que os dois últimos anos atualmente já são de internato inserido no SUS, seguidos de pelo menos três de residência também no SUS, ou que em nenhum momento o governo tenha se referido aos demais profissionais de saúde e, de repente, a justificativa para vetar o ato médico é que este alegadamente prejudica o papel destes profissionais de saúde no SUS.

A ninguém incomoda que todas as medidas anunciadas sejam temporárias (médicos estrangeiros sem validar o diploma, pra ficarem um tempo e irem embora, estudantes de “sétimo” e “oitavo” anos de medicina que não se fixarão por lá). Somente nós, os corporativistas, estamos atentos ao elitismo e demagogia embutidos em tais propostas. Elitismo, pois parte do pressuposto de que há cidadãos brasileiros que devem se contentar com estudantes trocados a cada dois anos ou estrangeiros sem diploma validado. Demagogia, pois joga toda a culpa do sistema numa classe profissional, lavando-se as mãos quanto a todo o resto. E canalhice, pois se fazem de surdos quanto à reivindicação de uma carreira decente para profissionais de saúde, com direitos trabalhistas garantidos, preferindo medidas que eliminem tais direitos. E o nome do partido é… dos trabalhadores.

De acordo com Cileide Alves, a caracterização negativa dos personagens médicos da novela Amor à Vidarepresenta o que a sociedade pensa a respeito de nós. Nem é preciso lembrar que boa parte da “opinião pública” é formada justamente pela cobertura acrítica da própria imprensa. Ou por suas escolhas editoriais. Já citei aqui o exemplo de reportagens que noticiaram falta de médicos ao serviço, sendo que eram todas as categorias que o faziam, com a justificativa de que “médico dá mais ibope”.

Para concluir que uma novela caracteriza o que pensa a população, seria necessário submeter tal hipótese a uma investigação científica quantitativa e qualitativa. Do contrário, o que se faz é a projeção de sua própria crença num dado que a confirma. Mas digamos que Cileide está certa e nós, médicos, sejamos um bando de corporativistas sem coração. O problema permanece. Um erro não justifica o outro. As medidas propostas continuam sendo demagógicas e elitistas. Não resolvem o problema de forma consistente. Jogam-no pra debaixo do tapete.

Atrair médicos para o interior não é um problema brasileiro, é mundial. Há poucos meses, na França, aconteceu algo idêntico. E os médicos de lá alegaram as mesmas coisas, que não é só uma questão de salário, mas de boas condições de trabalho. Note bem: estamos falando de um país infinitamente menor e com uma saúde pública que não é de mentirinha, como a nossa. Será que a novela L’Amour à la Vie também retrata os médicos franceses negativamente?

Não sou ingênuo. Tenho consciência de que há médicos antiéticos e, mesmo, desonestos entre nós, como há em qualquer outra classe profissional. Mas, repito, ainda que fôssemos 100% de sujeitos sem coração, o problema permaneceria. A saber, que as medidas propostas pelo governo federal são demagógicas, superficiais e elitistas. Portanto, coagir os médicos brasileiros, punindo-os por sua “arrogância”, pode até servir para saciar recalques e ressentimentos, mas não só não resolve o problema, como contribui para sua perpetuação.

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