sexta-feira , 26 abril 2024
Opinião

“Chega de Twitter”, anuncia editorialista e repórter em artigo na Folha de S. Paulo

Chega de Twitter
No fim de semana, numa mesa do Sagarana, o empório mineiro da Vila Romana, soube que meu colega André Barcinski havia deixado o Twitter. Desde maio. Eu era um de seus seguidores. É um cara inteligente, esperto e bem informado. Normal, portanto, que eu tenha demorado alguns meses a mais do que ele para tomar a mesma decisão. Adeus, Twitter!

Eu também descobri coisas legais e pessoas divertidas naquele mundo virtual de 140 caracteres para cá e 140 para lá. Comecei acreditando que seria uma boa ferramenta para me ajudar profissionalmente. Era como se eu estivesse entrando num bar cheio de gente da área de comunicação, políticos, militantes, escritores, e pudesse me relacionar com alguns deles. Além do mais, estava preparando um livro sobre a Semana de 22 e imaginei que seria útil estar presente ali. E foi mesmo.

Só que… A quantidade de gente idiota com quem tive que passar a conviver excedeu minhas expectativas e os limites de minha paciência -que não é tão pequena assim. Paulo Francis costumava dizer que nasce um otário a cada minuto. Eu diria que entra um otário no Twitter a cada minuto. Fui um deles.

Não tenho dúvida de que a estupidez, o ressentimento e a mesquinhez, para usar três palavras citadas pelo Barcinski em sua despedida, estão por toda parte, na rua, na chuva, na fazenda. Acontece que no Twitter pessoas com essas características entram numas de interagir com você. Provocam, agridem, dão indiretas e, quase sempre, fazem comentários de uma burrice astronômica. E você, quer dizer, eu, que sou ariano e gosto de um pugilatinho, acabo mordendo o anzol.

Barcinski conta que um dia se viu no teclado trocando 20 ou 30 frases sobre um assunto estúpido com uma pessoa mais estúpida do que ele. Quando percebeu, tinha desperdiçado mais de uma hora de sua vida. “Diabo, eu poderia estar lendo, jogando botão ou fazendo cooper, mas estava ali, discutindo a rebimboca da parafuseta com uma pessoa que eu nem sei se é de verdade.”

É uma experiência comum, pela qual muitos já passaram. Eu também. E cansei. O Twitter é o paraíso dos egonautas. O formato 140 caracteres incentiva intervenções agressivas. Já que o gênio que está ali para convencer a humanidade não tem muito espaço para argumento, o lance é tentar uma frase de efeito, de preferência que reduza o oponente a cocô do cavalo do bandido.

Dá uma enorme preguiça ver gente esgrimindo, ingênua ou desonestamente, argumentos que já considerava fajutos há 30 anos. Refiro-me sobretudo aos maiores chato-boys da rede social, os soldadinhos de chumbo da militância política. Gente que torce para partido político como adolescente torce para time de futebol. “Cala a boca, gambá!”. “Chupa, porco!”. É esse o nível da coisa. Tipo religioso. O baixo clero do alinhamento automático, da cabecinha maniqueísta, que fica ali repetindo um catecismo doutrinário boboca, como coroinha da ideologia. Ainda não apaguei minha conta, mas não vou mais lá. E estou sentindo um grande alívio. Não faz a menor falta. Ao contrário, é uma ausência que preenche uma lacuna.

Pretendo, contudo, permanecer no Facebook, onde tenho amigos e não seguidores, com a vantagem de ser um espaço mais despolitizado, sentimental, brega e, portanto, humano.

Marcos Augusto Gonçalves, 55, é editorialista e repórter da Folha. Escreveu o livro “1922 – A Semana Que Não Terminou” (Companhia das Letras).

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