As mensagens ignoradas pelo governo Bolsonaro descrevem um cenário de “caos” na terra indígena: “estive em Xitei e Surucucu [comunidades da terra indígena]. Está um caos. Postos lotados, pouca medicação. Não tem dipirona, paracetamol. Levamos doação, mas para poucos dias”, cita um áudio, transcrito pelo procurador da República Alisson Marugal numa recomendação expedida em 30 de novembro de 2022.
A transcrição prossegue: “Ô parente, deixa eu te falar uma coisa, você tá vendo a situação aqui? Um horror de curumim doente com malária e eu não tenho dipirona, não tenho paracetamol, não tenho medicamento de malária. Aqui é malária, mesmo!”
O governo Bolsonaro distribuiu cloroquina, um medicamento para malária, para combate à Covid-19 na pandemia, apesar de inexistirem provas científicas de eficácia da droga para o coronavírus.
Depois, o mesmo governo deixou faltar cloroquina para o combate à malária em terras indígenas, como nos territórios no noroeste do Amazonas e na terra yanomami.
A câmara indígena do Ministério Público Federal (MPF) distribuiu nota pela qual esclareceu que cobrou do governo de Jair Bolsonaro (PL) ações contra a fome, invasão de garimpeiros e as péssimas condições de saúde na terra indígena ianomâmi.
Contudo, o ministério apontou que houve omissão e que “as providências adotadas pelo governo federal foram limitadas”.
Ong Evangélica
Uma reportagem do jornal O Globo publicada nesta quinta-feira (24) apurou que as verbas existiam para sanar a grave crise no local, mas que o governo de Jair Bolsonaro possuía outras prioridades.
A entidade que mais recebeu recursos foi uma ONG evangélica chamada Missão Caiuá, que diz ‘estar a serviço do índio para a glória de Deus’. Nesses quatro anos, foram R$ 872 milhões enviados a essa organização sediada no Mato Grosso do Sul. Quase o dobro da segunda entidade que mais recebeu recursos, o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueiredo, com R$ 462 milhões”, aponta a reportagem.