Júnior Friboi é um grande empresário, mas ainda é pequeno na política. É o que diz análise publicada na edição deste domingo pelo Jornal Opção.
Veja o texto na íntegra:
Apenas 11 prefeitos em um universo de 246, 13 vice-prefeitos em cidades de pequeno porte, 99 vereadores, 190 diretórios e 2.467 filiados em um Estado com mais de 6 milhões de habitantes e 4,1 milhões de eleitores. Este é o exército do PSB, partido do empresário João Batista Júnior, o Júnior do Friboi, para disputar as eleições ao governo de Goiás em 2014. Os números são modestos se comparados às legendas gigantes e tradicionais da política goiana, como o PMDB de Iris Rezende (57 prefeitos em Goiás) e do PSDB de Marconi Perillo (52 prefeitos). Ocorre que, mesmo sem uma máquina política poderosa nas mãos, o megaempresário tem hoje, como principal projeto, a ascensão ao Palácio das Esmeraldas. Com ou sem as bênçãos de tucanos ou peemedebista.
O cenário atual não é favorável às pretensões de Júnior. Marconi Perillo será candidato à reeleição e de PT e PMDB, que tornaram-se como que irmãos siameses, sairá um candidato de oposição. Não há espaço para terceira via em Goiás. Há líderes de partidos que acreditam — ou fingem acreditar — que é viável uma força alternativa romper com a hegemonia do Tempo Novo ou um revival peemedebista. Contudo, os que propagam tal tese sabem que essa possibilidade não passa de um ensaio, de uma prospecção.
Ronaldo Caiado (DEM), Vanderlan Cardoso (sem partido, mas virtual novo filiado do PSC) e o próprio Júnior do Friboi estão rifando seus respectivos nomes. Afirmar que são candidatos ao governo do Estado é uma tática mais do que acertada, caso contrário serão suplantados. Contudo, há uma diferença básica entre os três. Tanto o líder dos Democratas quanto o empresário e ex-prefeito de Senador Canedo possuem capital político e já disputaram vários pleitos, algo que o megaempresário da JBS-Friboi ainda não experimentou.
Júnior do Friboi entrou para o PSB no dia 8 de julho de 2011, numa cerimônia pomposa com direito a orquestra sertaneja e berrante, tocado pelo próprio empresário. Desde essa data, ele vem adotando a estratégia de se impor. Segue os mesmos rumos de Henrique Meirelles, o ex-presidente mundial do Bank Boston e presidente mais longínquo da história do Banco Central — oito anos à frente da instituição financeira—, que se filiou ao PMDB goiano no final de 2009, com o vislumbre de disputar as eleições ao governo de Goiás em 2010. Apostando também na imposição vertical, acabou sendo sobrepujado e teve de ceder espaço a Iris Rezende.
Mas não necessariamente alguém que se aventure no mundo da política precisa ter no currículo uma disputa eleitoral para entrar na corrida ao governo estadual. O senador Blairo Maggi (PR) é o exemplo que mais se aproxima ao de Friboi. Maggi foi eleito governador de Mato Grosso em 2002, reeleito em 2006 e conquistou uma vaga ao Senado em 2010. Júnior é um dos fundadores da JBS-Friboi, o maior conglomerado do mundo no ramo de processamento de proteína animal. Blairo é o maior produtor individual de soja do planeta — só o seu grupo, a Amaggi, é responsável por 5% da produção anual do grão brasileiro.
Muito dinheiro, pouca política
Ao contrário do senador mato-grossense, Júnior ainda não vingou como uma figura política proeminente. A semelhança entre os dois termina no âmbito do ramo de negócio — carne e a soja —, em que cada qual ocupa posição de destaque. Mesmo detentor de cifras exorbitantes, Júnior do Friboi ainda não conquistou o status de liderança natural de partido importante no cenário nacional como é o PSB, o quarto na escala do País, atrás de PT, PMDB e PSDB: tem seis governadores, tendo os dois proporcionalmente mais bem votados do País (em Pernambuco e no Espírito Santo), além de prefeituras de seis capitais: Belo Horizonte, Cuiabá, Teresina, Fortaleza, Recife e Porto Velho. Friboi também não tem o brilho do governador de Pernambucano, Eduardo Campos, e está mais dependente do governo federal do que o presidente nacional de seu partido.
A JBS, empresa da família de Júnior do Friboi, fatura quase R$ 60 bilhões por ano, um valor superior à arrecadação do governo goiano. O empresário comprou recentemente um iate de R$ 15 milhões para passear em Miami, nos Estados Unidos, e teria um patrimônio pessoal de R$ 10 bilhões. Com tanto dinheiro em caixa, Friboi teria dito que havia reservado pelo menos R$ 30 milhões para financiar candidatos a prefeito de vários partidos para as eleições do ano passado. Ocorre que, com a campanha iniciada, vários aliados afirmaram que não receberam nenhum centavo do que havia sido prometido com tanta ênfase.
Os candidatos garantem que Friboi falava que ajudaria e que o dinheiro “estava saindo”, mas, quando procurado, não era encontrado. Ele mandava avisar que estava em viagem para os Estados Unidos, ou para São Paulo e Rio de Janeiro, e seus auxiliares não tinham autoridade para liberar nem mesmo mil reais para pôr gasolina nos carros. Na sede de seu partido, Júnior controla as despesas com mão de ferro. Costumava dizer que Barbosa Neto — presidente decorativo do PSB — não manda em nada e deve ser tratado como mais um de seus empregados.
Porém, fora do partido, os goianos ainda não viram dele nenhuma ação que seja consonante à sua potencial importância como personalidade de Goiás. Não há nenhuma entidade filantrópica e nem mesmo uma instituição de caráter social vinda de sua empresa ou de sua pessoa física — a JBS-Friboi anunciou que gastará R$ 50 milhões com publicidade, mas ainda não é uma empresa com responsabilidade social. A marca JBS nunca foi estampada em alguma das camisas dos três principais times de futebol de Goiânia (Atlético Clube Goianiense, Goiás Esporte Clube e Vila Nova) ou de qualquer outra equipe do interior do Estado.
Não há notícia de uma modalidade esportiva ou atleta que teve o patrocínio da marca — apenas a Festa do Peão de Barretos, no interior de São Paulo, é o que se sabe, já foi agraciada com o apoio do grupo. Se Júnior do Friboi posa como empresário da linha dos homens de negócios dos Estados Unidos, deveria ter copiado o estilo dos empresários de lá. Os “businessmen” costumam doar somas generosas às suas universidades de origem ou à área social, cultural e desportiva das cidades e Estados onde vivem. William Clay Ford, neto de Henry Ford — fundador da montadora que leva seu sobrenome —, por exemplo, é presidente do time de futebol americano da cidade de Detroit, considerada a capital americana do automóvel.
PMDB ou Campos
Ao que parece, Júnior do Friboi está mesmo interessado mais nos negócios da família do que na política. Nesta última semana, ele esteve viajando para a cidade americana de Denver, no Estado do Colorado, e também pela Austrália. Retornará ao Brasil após o dia 5 de abril. Enquanto faz viagens de negócios, seu nome está no epicentro de um terremoto político que abalou a estrutura de um dos protagonistas da política goiana: o PMDB. A cúpula nacional do partido teria feito um convite formal para que Júnior trocasse a legenda de Eduardo Campos pela de Michel Temer, passando por cima do diretório estadual, conduzido pelo deputado estadual Samuel Belchior.
O empresário teria então declarado que só abandonaria o PSB se tivesse garantias de que teria seu nome ungido pelo PMDB para disputar as eleições ao governo de Goiás, causando insatisfação e descontentamento na cúpula estadual do partido. Mais uma vez, Júnior do Friboi quis impor a política do “de cima para baixo”. A história mostra que os que sonharam em ter no PMDB a base para disputar eleições ao Estado pela imposição do poder econômico ou pelas circunstâncias convenientes, não teve um final feliz — a começar por Meirelles, que foi solapado por Iris em 2010.
O último caso foi o de Vanderlan Cardoso, que após as eleições vencidas por Marconi Perillo, em 2010, trocou o combalido PR pelo PMDB, na esperança de unificar seu capital político — mais de 500 mil votos — com a máquina eleitoral peemedebista. Ao perceber que não teria espaço dentro de um partido repleto de feudos e mandatários na fila pela oportunidade de disputar eleição majoritária, se viu obrigado a sair antes mesmo de conseguir consolidar seu nome entre as lideranças peemedebistas. Júnior do Friboi corre os mesmos riscos caso decida impor candidatura ao PMDB.
Entretanto, tal convite tem raiz em outra questão, que passa pela esfera federal. O PT está observando de perto os passos de Eduardo Campos. Não seria interessante ao projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff caso o “rebelado” governador de Pernambuco tenha em Goiás um palanque com os cifrões de Júnior do Friboi. Prevendo essa possibilidade em terras goianas, o PT também deve ter cobrado de Júnior do Friboi uma dívida de gratidão.
É válido lembrar que a JBS-Friboi é uma potência multinacional graças aos polpudos empréstimos feitos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), durante o governo Lula. Por isso, antes mesmo de tentar fechar qualquer acordo com Eduardo Campos, o empresário deve, primeiramente, colocar a mão na consciência e lembrar a quem, realmente, deve favores. Mas, pelo que se nota, esse exercício de memória não será necessário. Os petistas se anteciparam e por meio do PMDB nacional mandaram o recado de que, em 2014, Júnior do Friboi é obrigado a apoiar Dilma.
Não agradaria nenhum um pouco ao PT ver Júnior abraçando Eduardo Campos em Goiás durante uma eventual campanha presidencial. Mesmo negando que possa ser adversário dos petistas no próximo pleito ao Planalto, o presidente do PSB está operando à surdina seu projeto à Presidência da República em 2014. Há duas semanas, ele se encontrou com José Serra em São Paulo, graças ao intermédio de Jorge Bornhausen. Dias atrás, o governador socialista havia se reunido com Roberto Jefferson (PTB), delator do mensalão. Como se nota, todos esses encontros foram com tenazes desafetos de Lula e Dilma. Na conversa com o líder petebista, Campos disse que definirá sua candidatura em setembro.
Portanto, para Júnior do Friboi, será muito difícil se esquivar da amarra com Lula e com o PT. Caso o faça, será de uma coragem e ousadia — ou suicídio — poucas vezes vistas na política. Mas, como ele é um homem de negócios, deverá então contornar a questão filiando-se em alguma legenda alinhada ao projeto de reeleição da presidente petista. O PMDB seria o caminho natural. Mas sem as garantias aspiradas pelo empresário. O presidente estadual do partido já declarou que Júnior do Friboi é bem-vindo, mas, ao impor condição, começou pelo caminho errado.
Trocando em miúdos, os peemedebistas goianos gostariam de vê-lo apoiando o partido — principalmente em termos financeiros —, mas sua vinda não serviria de moeda de troca para garantir-lhe candidatura contra Marconi em 2014. Júnior do Friboi poderia ir então para o PT? É uma possibilidade. Entretanto, se o empresário sinalizar que se filiará ao Partido dos Trabalhadores, irá consciente de que deverá abandonar o discurso de candidatura ao governo. Nunca antes na história do PT goiano, a legenda esteve tão bem servida de candidatos com chances reais de faturar as eleições de 2014.
Com Paulo Garcia e Roberto Antônio Gomide — prefeitos de Goiânia e Anápolis, respectivamente — Júnior teria de ir para o fim da fila. Algo que, para ele, um magnata que poderia sozinho bancar sua candidatura, seria inconcebível. Ventilou-se então o que seria a chamada chapa da terceira via: Júnior do Friboi ao governo de Goiás, Vanderlan Cardoso na vice e Ronaldo Caiado ao Senado. Porém, dificilmente haverá condições para que essa aliança venha a se tornar realidade. Uma chapa integrando DEM e PSB seria inconcebível até que Eduardo Campos se decida sobre 2014.
Caiado, mesmo que isolado no DEM, já mandou avisar que é candidato. Mas, na política, o cedo é tarde, e até o segundo semestre do ano que vem tudo se definirá desde já, conforme as conversas de bastidores. Vanderlan é o mesmo caso. Quer ser candidato ao governo estadual com o apoio do PR de Jorcelino Braga e do PDT de Flávia e George Morais. Mas a temporada de conversações ainda está apenas começando. Não se pode descartar a possibilidade de uma composição entre o ex-prefeito de Senador Canedo e o próprio Marconi.
Todavia as circunstâncias políticas nublaram o céu de brigadeiro em que voava Júnior do Friboi. As chances de seu projeto político de disputar as eleições parecem distantes, muito aquém daquilo que se imaginava meses atrás. O empresário está neste momento enxergando o seu tamanho dentro do processo político de Goiás. Sua tática de fazer política apenas com o fator econômico está se mostrando desastrada. Não só com cifrões se constrói um projeto de poder em Goiás. É preciso mais do que isso para quem quiser ser o próximo inquilino da Casa Verde. Pelo menos é o que a história vem provando nos últimos anos.