Veja artigo de Pablo Kossa, publicado no jornal digital A Redação:
O ‘rolezinho’ de Goiânia
Evento de sábado não atinge seu fim real
Goiânia – Recebi pelo Facebook um convite para o agora famoso rolêzinho no Flamboyant. Com minha presença confirmada, eram 209 pessoas que garantiram que estarão nesse sábado, dia 18, às 19 horas, no shopping. O texto do evento é muito claro: trata-se de um protesto contra o apartheid social e étnico evidenciado com o susto que a classe média e alta paulistana tomou quando jovens de periferia ocuparam os templos de compra da cidade. Pauta justa.
Achei curioso quando dei uma olhada nas pessoas que, como eu, confirmaram presença. A maioria branca, universitária ou já formada, facilmente identificada como classe média. Estudantes, jornalistas, designers, servidores públicos, publicitários… Público que em nada difere de um show no Martim Cererê. Basicamente, minha turma. Ou seja, gente que nunca teve o menor problema para circular em qualquer shopping da cidade. Afinal de contas, All Star sujo é visto mais como estilo do que como símbolo de “gente diferenciada”.
Duvido que sequer 10% dos confirmados estarão de fato no Flamboyant. Eu confirmei, mas não vou. Fico imaginando o quanto seria “agressivo” nós ali no estacionamento do Flamboyant. Ouvindo rock alternativo ou música brasileira pelo som de algum dos nossos carros, indo buscar long neck de Heineken no Piquiras, postando fotos no Instagram, combinando para qual casa noturna iríamos após aquele esquenta e, ao final, todo mundo na fila para pagar o estacionamento. A administração do shopping com certeza agendaria o próximo rolêzinho indie para o sábado seguinte.
Quando o entorno de Goiânia fará seu rolêzinho de verdade nos shoppings de Goiânia? Quando a galera que ouve sertanejo universitário ou funk ostentação entrará no estacionamento do Flamboyant e ligará seu som automotivo que será ouvido até nos condomínios da GO-020? Esse sim seria incômodo e mostraria a separação real que existe em nossa cidade. E duvido que nós colaríamos nesse rolêzinho. Ali seríamos muito pretty fly for a white guy.
Lembro que estava no Flamboyant quando o Corinthians veio levantar a taça do Brasileirão no Serra Dourada, em 2005. Antes da partida, a Gaviões da Fiel ocupou o shopping. Cantando hinos nas escadas rolantes, andando em grupos e deixando os seguranças de cabelo em pé. Esse sim foi um rolêzinho de verdade no Flamboyant, ainda que não com esse nome. A reação do público e da administração do shopping nesse caso mostra que não temos coração aberto para receber a periferia em bloco dentro de um território que consideramos nosso, da classe média.
Acho que ainda teremos um rolêzinho de verdade em Goiânia. Não esse que confirmei presença, mas um com o povo real que também quer tirar onda no ar condicionado do shopping. Quando esse evento chegar, ficará explicitado que, como em São Paulo, os ambientes são fortemente divididos conforme a classe social. Aí sim será digno de notícia