quarta-feira , 17 julho 2024
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Na Tribuna, Vassil diz que Iris e Paulo Garcia ajudam Friboi e Marconi

Veja artigo de Vassil Oliveira, publicado na Tribuna do Planalto:

Iris e Paulo Garcia ajudam Friboi e Marconi

Escrito por Vassil Oliveira – Publicado em 26 Janeiro 2014.

Em bom goianês, o ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende (PMDB) está na muda. Muito calado. Tão na muda que vai ficando à parte.

Cresce nos bastidores políticos de Goiás a visão de que o empresário Júnior Friboi é o candidato do partido a governador. E ponto.

Com a facilidade do dinheiro na ponta da língua e coragem de sobra para gastar o que for preciso, custe o que custar o seu objetivo, Friboi ganha terreno e vai aos poucos consolidando a ideia de que ninguém mais o cerca – nem Iris.

A estratégia irista é clara, e ao longo de seus 55 anos de vida pública sempre foi eficaz: agir ao pé do ouvido, até a hora de dar o bote certeiro.

Iris até conseguiu marcar pontos no final do ano passado, início deste, com a ausência de Friboi do cenário político. Mesmo ele próprio fazendo uma inédita viagem ao exterior com a família.

Mas bastou o empresário voltar e, em mais uma de suas imperdíveis entrevistas, reafirmar que dinheiro tem, terá e gastará muito mais do que foi dito parágrafo acima, para que a reação surgisse: é ele o candidato; Iris está fora!

Entre governistas, a aposta é que Friboi será o adversário do governador Marconi Perillo (PSDB). E o clima é de comemoração. Ou de contrição: “Graças a Deus!”, suspiram.

Avaliam que Iris seria um adversário mais difícil, porque… 1) reuniria PT e outros partidos; 2) criaria uma frente ampla; 3) com um vice com cara de ‘novo’, teria discurso forte contra os envelhecidos quase 16 anos de Marconi e seu ‘tempo novo’ no poder.

Soma-se a isso a lembrança de que foi pequena a diferença de votos do peemedebista para o tucano na derrota de 2010 – e isso, mesmo sem ter um Ca­choeira a fomentar e produzir resultados -, e a constatação de que os tempos atuais são inclusive mais favoráveis – o desgaste do governador aumentou consideravelmente -, e tem-se, então, o cenário completo do cenário visto pelos governistas.

Iris exalaria o que calculam ser fatal: perspectiva de vitória.

Júnior Friboi é pouco temido por razões não muito claras, mas que tem a ver com arsenal bélico acumulado na Secretaria da Fazenda contra a holding de sua família (JBS) e a certeza de que ele vai acabar metendo os pés pelas mãos.

Para os marconistas, o em­presário fala demais, não fica uma entrevista sem dar um tropeço, ou, no dizer goiano, um tru­picão. Bão demais da conta, né, sô?!

Para tempos sombrios, o si­lên­cio de Iris está surdo demais.

Em política, silêncio bom é o que fala a favor. O do ex-prefeito está depondo contra. Está anunciando um Iris enfraquecido diante de um destemido endinheirado que, mesmo cometendo gafes a mancheia, avança para ser ‘o’ candidato. E, em sendo, que será de Iris?

Neste momento, a eleição dis­putada não é a que conta com o voto popular. É a que de­­pende de políticos e candidatos, que raramente se guiam por interesses coletivos, embora discursem em nome deles. A­gem para se consolidar. No meio desse povo, Friboi é mais popular que Iris. É o favorito. É ‘o’ cara.

Mais claro?

Friboi está vencendo Iris nos bastidores do PMDB. E o silêncio contumaz de Iris começa a ser visto como uma declaração de derrota.

É aí que entra a expectativa de um gesto, um sinal, um piscar de olho de quem tem, quem sabe, zap, sete-copas, um três que seja, pra jogar na mesa a qualquer momento, ou trucar.

Ninguém descarta Iris até que ele se levante da mesa. Mas, nessa peleja caipira, aquele que se deixa envolver pelo jogo adversário, blefe ou não, perde as estribeiras. Perde os tentos, cai fora.

Gomide

Há uma outra razão para Iris se mexer. O lançamento da candidatura do prefeito de Anápolis, Antônio Gomide, é um fato positivo. Coloca o PT em campo menos contra ele ou o PMDB, e mais na contramão de Júnior Friboi. Só que…

Só que as coisas não são tão simples. Gomide decidiu sair a campo não por razão própria. Ele foi incentivado pelo seu partido, contrariado com Friboi e aflito justamente pela perspectiva de que Iris está perdendo a partida interna.

O PT não vê firmeza em Friboi como nome com preparo político para enfrentar Marconi Perillo; em aliado disposto a defender o legado petista de Dilma e Lula na campanha; muito menos, como candidato capaz de empolgar a militância, ainda mais o eleitor.

Preto no branco: dinheiro é bom, pode garantir candidatura, mas, sozinho, não ganha eleição.

Sem falar nas ofensas gratuitas, esnobadas constantes e em diversas outras avenças protagonizadas pelo empresário que soam como provocação ao PT. E no fato de que o prefeito de Anápolis é a personificação de um tipo de governante que o goiano dá demonstração, em variadas pesquisas qualitativas, de ter como sonho de ‘consumo eleitoral’.

Gomide é para ser levado a sério como candidato a governador porque o PT não está ven­do saída, a não ser por ca­minho próprio. E porque começa a acreditar que pode ganhar. Parece pouco? Isso é muito. É gasolina para colocar fogo na eleição. Já acendeu lareira.

Com o silêncio de Iris, cresce a postulação de Gomide. Daqui a pouco, no final de março, tirar o petista do jogo será um parto impossível. E basta lembrar o desgaste que o PMDB, Iris em especial, tem em Anápolis pra se entender o que pode representar uma saída traumática de seu prefeito, do jogo estadual.

O que está ruim para Iris, pode piorar. Para Friboi, importa menos essa situação, porque ele vai se apresentar como filho da cidade, como eleitor local etc. Imaginem!

Caso alimente o desejo real de candidatura ao governo, e de ter o PT com ele, até o final de março Iris terá de dar mais que um sinal, terá de fechar com os petistas uma aliança de candidatura. E isso significa não só costurar esta parceria, mas, ao mesmo tempo, tirar Friboi definitivamente do jogo.

Paulo Garcia

E tem os sinais pouco compreendidos do prefeito de Goiânia, Paulo Garcia.

Paulo é irista de carteirinha. Ao entrar em confronto com Go­mide, independente de ter ou não razão, dá a entender que o faz a mando de Iris. É co­mo a mensagem tem sido entendida.

Isso tem resultado em desgaste para ele, mas principalmente para Iris dentro de boa parcela do PT. E tem permitido que seus posicionamentos sejam usados pelos adversários tucanos e por Friboi, adversário da candidatura de Iris.

O embate, apesar de mais suavizado, entre Paulo Garcia e Go­mide, neste momento, é tu­do que Friboi quer porque en­fra­quecer Iris e o PT. E tudo que Marconi Perillo poderia pe­dir a Deus para enfatizar o discurso de uma oposição cada dia mais dividida, fragmentada, enfim, fragilizada.

O que, por sua vez, permite: a Friboi, discursar como salvador da pátria peemedebista; ao tucano e seu grupo, alimentar a ideia de que, desse jeito, Mar­coni vai ganhar – de novo!

O ‘Marconi vai ganhar’ é uma forma subliminar de alimentar o medo daqueles que até se mostram dispostos a fi­car contra ele, mas que relutam diante da fraqueza do ‘outro lado’. “O Marconi vai ganhar. Vo­cê vai ficar contra e arcar com as consequências?” – eis a tradução do terror a assombrar os de alma inconstante.

Gomide está crescendo co­mo candidato dentro do PT mes­­mo com Paulo Garcia relutando em admitir o que está claro: é o seu partido que o quer na disputa.

Nem que seja para retirar seu nome no final de março; nem que seja para perder em outubro; nem que seja para garantir que os aliados cumpram compromissos naturais, como apoio fervoroso a Dilma.

Nem que seja para ganhar. Vai que.

E se o objetivo é ajudar Iris, ra­zoável se faz dizer que Iris pre­cisa do PT nesse tom, neste ins­tante. Porque a alternativa é sucumbir a Júnior Friboi, que já disse que não precisa dos petistas e que só precisa de Iris porque Iris o completa naquele de­ta­lhe: o carisma, o contato com o povo.

O que se resolve com Iris sendo candidato a senador, algo que, na lógica do empresário, Iris será obrigado a aceitar porque o PMDB vai exigir dele em convenção.

Sobre este último ponto, basta reparar como Friboi sempre se refere ao peemedebista como alguém que tem que ce­der, alguém que tem que se do­brar ao que “o partido decidir”.

Um partido cujo diretório, em virtude dos recursos estru­tu­rais disponíveis em sua conta, ele tem nas mãos para decidir no rumo que quiser. Ou alguém tem dúvida? Um partido boi no brete.

Friboi tem certeza de que tem o PMDB nas mãos; logo, ra­ciocina, tem Iris sob controle, a seus pés.

Assim como tem convicção de que, na hora certa, literalmente pagará para ver o PT se resignar ao seu poder de sedução, por não ter saída – como já disse, com subida convicção.

Está em Paulo Garcia a for­ça para colocar no prumo um jogo indefinido para PT e Iris.

Ele pode unir, em vez de assistir à conformação de uma ruptura que, em outros tempos, redundou em derrota.

É só lembrar o peemedebista Maguito Vilela, hoje prefeito de Aparecida de Goiânia, em 2002 e 2006.

Paulo sentiu, na pele, o po­der da unidade das duas legendas: ganhou duas vezes como vi­ce de Iris, e em 2012, no primeiro turno.

A não ser que ele queira outra coisa ainda, como voltar ao jogo logo mais para ser candidato ao governo, ou a vice, ou ao Senado; e que apenas recuou para melhorar a imagem de seu governo e ter tempo para escantear o agora adversário imediato: Gomide.

Ou que ele assina embaixo de uma dívida do PT com o PMDB datada da eleição passada em Goiânia, o que seu partido oficialmente não reconhece, mas que Friboi cobra abertamente, com a segurança genuína de quem é credor e vai resgatar a promissória.

Foi o que fez na semana pas­­sada, em entrevista à Rá­dio Mil FM.

Direto ao ponto: “Ele (Pau­lo) não faz nada mais, nada menos do que cumprir compromissos da instituição; pessoas mudam; o Paulo Garcia está de­fendendo na verdade os a­cordos; nós fizemos acordos e cumprimos. Em 2012 nós cumprimos.”

Ah! Friboi cobra com a se­gurança e com a autoridade de quem, reparem só, NÃO estava no PMDB em 2012, teoricamente ano do ‘acordo’. Na­que­le ano, Friboi fazia planos no PSB; só se filiou muito depois.

Ao contrário de Iris, que sempre esteve no partido, e que, pode-se dizer com base segura – sua avaliação positiva na ca­pi­tal é um notório saber, e sua importância na reeleição do petista é largamente reconhecida -, é mais credor que o próprio PMDB da eleição de Paulo Garcia, senão o verdadeiro credor, se é que há essa dívida em aberto.

Em tempo. Iris cobra a fatura? Não. Joga com ela. E o PT o respeita.

Fala, Iris

A voz de Iris, abafada como es­tá, cria fumaça. Falta o sinal de fogo.

Ou será que Iris de fato jogou a toalha?