Jornalista Cezar Santos, do Jornal Opção, publica na edição deste domingo uma demolidora análise do momento que vive as chamadas oposições em Goiás.
Veja o texto:
Uma oposição tonta, sem discurso e sem projeto
Cezar Santos
Talvez pelo processo sucessório exageradamente antecipado, oposicionistas começam a entrar em briga franca e, pior, batem cabeça centrados apenas na questão de nomes, esquecendo-se de apresentar um projeto alternativo ao eleitor goiano
A oposição, acertadamente, intuía que Marconi teria dificuldades imensas para consertar o desconserto herdado de Alcides e sua troupe inepta. Só depois de fazer isso, consertar o estrago, Marconi poderia deslanchar uma gestão relativamente eficiente. E nesse entretempo, a oposição poderia amplificar os problemas, as dificuldades, os nós, e ir minando o tucano. Para melhorar ainda mais as coisas para ela, no finalzinho de 2011, armou-se uma CPMI do Cachoeira, montada no Congresso pelo ex-presidente Lula da Silva e acólitos única e exclusivamente para torpedear a oposição, tendo Marconi como um dos alvos preferenciais. Quase deu certo.
Havia problemas pontuais no nascente governo Marconi, que seriam escolhidos a dedo pela oposição para martelar. Um exemplo, o imbróglio da Celg. A oposição disparou contra o governo em relação ao drama econômico-financeiro da estatal encalacrada. Nos três primeiros meses de governo, ela cobrava de Marconi a solução que Alcides não conseguiu em mais de três anos. E olhe que Lula da Silva esteve em Goiânia e prometeu à população goiana resolver o problema. O capitão do time alcidista, Jorcelino Braga, estivera várias vezes em Brasília e retornava dizendo que o problema estava resolvido, era só questão de dias. Não resolveu e o pepino ficou com Marconi, que teve de resolver, passando a empresa para controle federal.
Outro nó em que a oposição queria amarrar o tucano era o Centro Cultural Oscar Niemeyer. O problema é que no segundo dia de mandato, o governador reabriu o local que, desde então, mesmo faltando reparos e detalhes, tem abrigado eventos. Outro problema, a situação das rodovias, deixadas ao abandono por Alcides Rodrigues, seria martelado pela oposição. Marconi conseguiu aprovar o Fundo de Transporte (combatido pela oposição na Assembleia), que bem ou mal deu um mínimo de recursos para a recuperação das rodovias. Além disso, o governador foi atrás de financiamentos externos. Foi implantado o Programa Rodovida, também combatido pela oposição parlamentar.
Os exemplos são citados apenas para reforçar um fato: Marconi, aos poucos, desmontou (ou está desmontando) os pontos de combate para a oposição e entra no terceiro ano de mandato em condições muito melhores do que tinha ao assumir, em 1º de janeiro de 2010. Promoveu melhorias, implantou uma reforma administrativa. Obteve avanços inequívocos na Educação: Goiás cresceu 16% no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica-Ideb, saltando da 8ª posição em 2009 para a 5ª posição em 2011 nos anos iniciais do Ensino Fundamental e de 15º lugar o 6º lugar nos anos finais. Em relação ao Ensino Médio, foi um salto mais do que significativo: a rede pública estadual em Goiás saiu da 16ª posição para a 5ª colocação. Sem contar que passou a pagar o piso nacional salarial dos professores, o que não fizeram Estados governados pelo PT, como Bahia e Rio Grande do Sul.
Na Saúde, a cessão do gerenciamento das unidades hospitalares a Organizações Sociais (OSs) mostrou-se acertada. É uma forma mais moderna, racional e ágil para melhorar o atendimento à população, que quer saber de resultado. Esse foi outro projeto torpedeado pela oposição, mas os resultados são visíveis, embora o passivo nessa área seja imenso e há muito ainda a fazer. Mas veja-se que a Prefeitura de Goiânia — sob comando de um dos nomes fortes da oposição, o petista Paulo Garcia — também enfrenta uma barra e é alvo de reportagens críticas diariamente nos veículos de comunicação.
Em Goiás, a indústria cresce mais que a média nacional. O PIB goiano cresce quatro vezes mais que o pibinho de Dilma Roussef, que volta e meia expressa sua admiração pela gestão do tucano em Goiás.
Pois bem, aí chegamos ao ponto fulcral dessa Conexão. A oposição centrava sua esperança nos ataques aos problemas da administração de Marconi Perillo e aliados. E é bom que se diga, oposição tem que fazer isso mesmo, criticar, apontar os problemas, cobrar soluções. Mas, desamarrados alguns (os principais) nós, a oposição tem ficado meio sem assunto. Evidentemente, que sempre há questões pontuais a serem criticadas. Mas naquilo que realmente importa, Marconi e aliados têm respostas satisfatórias a dar. Tudo isso levou ao inevitável: a grita pela reeleição do tucano.
É quase unânime entre os integrantes da base que Marconi é o nome para 2014. A unanimidade não foi alcançada ainda por que muitos preferem cautela neste momento para não embaçar o ambiente administrativo. Preferem não precipitar a campanha por considerar que não é bom para uma gestão que está no meio e ainda devendo realizações.
O que se pergunta, então, é o que a oposição vai fazer. Vai continuar apenas jogando o jogo de desconstrução de Marconi, esperando ser ajudada pela fadiga de material do marconismo? Afinal, se o tucano ganhar mais uma, vai para 20 anos de poder — menos um pouco, observando-se o interregno alcidista. De qualquer forma, seriam cinco vitórias marconistas em sequência.
O discurso de desconstrução será suficiente para convencer o eleitor a tirar de Marconi Perillo a chave do Palácio das Esme-raldas e entregá-la a Iris? Ou a Paulo Garcia? Ou a Júnior Fri-boi? Ou a Vanderlan Cardoso? Ou a Ronaldo Caiado? Ou a Antônio Gomide? Ou a outro nome que possa surgir no de-correr do processo?
Há algumas semanas, o colunista ouviu algumas lideranças de oposição sobre qual deveria ser o discurso para desalojar Marconi e aliados do poder. O deputado licenciado Wagner Siqueira (PMDB), hoje secretário de Habitação de Goiânia: “Nosso discurso vai ser mostrar que o governo não está fazendo nada. Muitas obras estão paradas, e isso vai ser enfatizado na campanha oposicionista. Esse governo nasceu criando um Fundo de Transportes que não se materializou nas obras esperadas. A malha viária está precária. Não há investimentos. O Oscar Niemeyer não conclui, é o símbolo de que o infinito existe. O aeroporto, o centro esportivo, e tantas obras que foram anunciadas (estão paradas).”
Vanderlan Cardoso (sem partido) criticou principalmente a falta de investimentos do governo, atacando especificamente o aumento do endividamento. Vanderlan disse que será preciso buscar mecanismos para que se façam os investimentos necessários com a própria receita. “É preciso gestão para isso. O Estado não aguenta mais buscar dinheiro fora para fazer investimentos. Mesmo que o juro seja subsidiado, barato, mas isso deve ficar para uma obra emergencial, algo assim. Ao longo dos últimos anos, o Estado só faz investimento com recurso de fora.”
Osmar Magalhães (PT) disse que antes de tudo a oposição terá de ter o método da unidade, o que ele considera o primeiro desafio de PT, PMDB, PSB e demais partidos que formam a base da presidente Dilma em Goiás: “A oposição tem o grande desafio de apresentar um projeto de desenvolvimento para o Estado que seja sustentável em relação ao modelo que Marconi vem imprimindo nos últimos tempos. Hoje a prioridade é construir esse projeto, para apresentá-lo no momento certo para a sociedade.”
É aí que a porca torce o rabo. A oposição, até aqui, não tem sequer esboçado o que seria um projeto alternativo ao que Marconi e aliados estão praticando. O discurso da unidade, que é praticamente unânime entre os oposicionistas, também se mostra descosido. Na verdade, o que se tem visto nas últimas semanas é que PMDB e PT estão em início de pé de guerra, com cada qual se achando no direito de ter o nome na cabeça de chapa.
Farpas e cotoveladas estão sendo desferidas de lado a lado entre petistas e peemedebistas. Deslumbrados com as Prefeituras de Goiânia e de Anápolis, as duas maiores, há petistas que se esquecem que o partido não tem densidade eleitoral no interior do Estado. Daí, acreditam que podem vencer Marconi e aliados prescindindo do PMDB e de Iris Rezende. É bom ressaltar que o prefeito Paulo Garcia não tem feito esse jogo. Ele é plenamente consciente de que não seria prefeito se não fosse Iris, tanto pela herança da gestão em 2010 quanto pela “força” nos palanques na campanha em 2012, mesmo considerando que Paulo praticamente não teve adversário.
No PT, quem mais enfatiza essa vertente de “independência” é o deputado federal Rubens Otoni, que já se declara em franca campanha para fazer de seu irmão, o prefeito Antônio Gomide, o candidato da oposição ao governo em 2014. Otoni tem todo o direito de puxar a sardinha para a brasa de seu irmão. Mas pode ser mais um movimentos errático em relação a campanhas ao governo. Na passada, ele foi um dos que levaram a Lula da Silva a mensagem de que Marconi estava isolado em Goiás, e que seria fácil bater o tucano. Lula acreditou, deu força, veio a Goiás para desacatar o então senador Marconi, mandou dinheiro para a campanha peemedebista-petista. Não adiantou, sem contar com o governo estadual nas mãos de Alcides, Marconi ganhou de Iris, que tinha o governo federal e a Prefeitura de Goiânia na sua sustentação.
Por essas e outras, já há quem ponha em dúvida a manutenção da aliança que deu ao PMDB e ao PT duas eleições na capital, a de 2008, na reeleição de Iris, e a de 2010, na reeleição de Paulo Garcia. O que se tem até o momento, é PT e PMDB brigando por nomes, enquanto a terceira via de Vanderlan Cardoso, Júnior Friboi e Ronaldo Caiado gira tonta sem saber como se viabilizar, ela também se batendo por qual dos três será o “cara”. Nem PMDB-PT nem a hipotética terceira via formulam o tal discurso alternativo. Enquanto isso, Marconi continua, aos poucos, deslanchando seu governo.
Tucano inverte ciclo de poder
Marconi Perillo ganhou quatro eleições para o governo: 1998, 2002, 2006 e 2010. Nesse período, inverteu o ciclo antes dominado pelo PMDB, que ganhara todas as eleições após a redemocratização: 1982, 1986, 1990 e 1994. Em 1990, Paulo Roberto Cunha (então filiado ao PDC) disputou e perdeu para Iris Rezende. Em 1994, Lúcia Vânia (filiada ao PP), foi derrotada por Maguito Vilela. Nessas duas eleições, a oposição teve chances reais de vencer, mas dividiu-se e facilitou para o PMDB.
Agora o PT, que antes corria em raia própria, percebeu que sozinho não teria chances e se coligou ao PMDB, o que fez em 2008 na disputa pela Prefeitura da Capital. Também esteve com os peemedebistas em 2010, na sucessão estadual, mas a base marconista foi vitoriosa. A aliança foi repetida com sucesso em 2012, possibilitando a reeleição de Paulo Garcia na prefeitura. PMDB e PT devem caminhar juntos na sucessão estadual, se mantiverem o juízo e não deixarem a vaidade falar mais alto. Unidos, podem repetir na sucessão estadual o sucesso que estão tendo na Prefeitura de Goiânia.
Interessante que em meio à belicosidade dos mais jovens de ambos os lados, o veterano Mauro Miranda, fiel escudeiro de Iris Rezende e um dos responsáveis pelo sucesso peemedebista nos 16 anos em que a sigla mandou na política estadual, manifeste o que pode ser a chave do sucesso da oposição, que neste momento não tem discurso alternativo ao marconista. Segundo Mauro, o discurso terá de ser objetivo, falando ao indivíduo, acenando com melhoria para a vida da pessoa no seu dia a dia.
“O cidadão tem de saber o que vai melhorar para ele como pessoa, como morador de Goiás. Temas como o pleno emprego têm de ser fortalecidos, mas as questões mais práticas devem ser focadas no discurso da oposição”, disse Mauro Miranda ao Jornal Opção, há algumas semanas.
O marqueteiro Marcus Vinícius Ribeiro Queiroz fez uma provocação: em Goiás não existe oposição. Lembrou que oposição se faz a propostas, mas que atualmente está sendo feita em termos pessoais, na busca de destruir o adversário, o tal discurso de desconstrução. Ele vaticinou que, a continuar assim, Marconi tem uma grande vantagem, mesmo com todos os contratempos que sua administração estava tendo. “Se a oposição ficar apenas contra Marconi, vai ser o mesmo cenário de 2012 (na eleição municipal), uma turma contra a outra. Eles estão transformando debate eleitoral em debate pessoal. O PMDB está aí, mas não dá conta de fazer uma discussão interna para saber o que é melhor para Goiás. Estão discutindo se é Iris ou se não é Iris.”