Veja trecho de matéria do Jornal Opção sobre a novela Em Família, da Rede Globo:
Luana Alves Luterman, que é doutoranda em Linguística pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e professora no curso de Letras da Universidade Estadual de Goiás (UEG) em Inhumas, assim como a personagem fictícia Maria, também viu ao primeiro capítulo de “Em Família” e, como a última, achou um absurdo. Via Facebook, a professora conversou com a reportagem acerca do tema. Para ela, ao apontar para o estereótipo da selvageria e primitivismo goianos, a novela se descontextualiza.
A pergunta feita foi: “Analisando o discurso empregado pela novela, quem é o goiano?”.
Eis a resposta de Luana: “Para nós, goianienses (me sinto assim, apesar de carioca na identidade), como espectadores, é ainda pior, pois sabemos que não estamos em terras tão longínquas e ermas assim. Aliás, onde há grande sertão, se as veredas são multifacetadas pela grande rede que nos globaliza? Se considerarmos a visão dos neocolonizadores internos, RJ, SP, com certeza temos aqui um safári, seja cultural ou territorial. É difícil generalizar ou estereotipar, pois muitos goianienses também vão se posicionar favoravelmente aos neocolonizadores internos. Porém, no século 21, com certeza não vivemos isolados, [a cidade de] Goiás não é distante de Goiânia, nossos meios de transporte não se restringem a burros ou cavalos, como a novela retratou no primeiro capítulo que vi.”
A professora considera estapafúrdia a abordagem cultural, que, de acordo com ela, apresenta os goianos como uma população autóctone, sem contato externo, retrógrada nas ações e pensamentos sobre o amor, romântico e ideal, imaculado e sagrado. “É preciso avisar à [Rede] Globo que temos muita Valesca Popozuda por aqui. Ah, sim, o amor romântico é retrógrado, rsrsrsrs… e eu moro em Goiás. É preciso avisar à [Rede] Globo que a atrasada é ela”, aponta.