quinta-feira , 28 novembro 2024
Goiânia

Em nota, ex-Chefe de Gabinete de Paulo Garcia culpa Iris por rombo na prefeitura

Em nota divulgada à imprensa na noite de domingo, o ex-Chefe de Gabinete do prefeito Paulo Garcia (PT), Iram Saraiva Júnior, culpa o ex-prefeito e candidato a governador Iris Rezende (PMDB) pelo rombo que hoje existe nas contas da administração municipal.

“Aos olhos de Goiânia, não há como reconhecer que o mandato anterior ao de Paulo Garcia não tenha sido realizador. Ele o foi. Só que essas realizações estão sendo pagas por Paulo Garcia. O dinheiro deixado em caixa, como é dito, não seria suficiente para pagar o que havia sido gasto e não contabilizado e tampouco capaz de suportar os compromissos assumidos com os servidores nas futuras folhas de pagamento”, diz a nota.

Iramzinho afirma também que só tomou conhecimento do rombo depois que Paulo foi reeleito, em 2012. “As finanças da Prefeitura eram concentradas nas mãos de apenas três pessoas e isso era bradado como razão do sucesso da gestão. Hoje sei o porquê da falta de transparência”.

Nesta mesma nota, Iramzinho diz que por este e outros motivos desistiu de apoiar a candidatura de Iris a governador e que passa a caminhar, neste instante, ao lado do governador Marconi Perillo (PSDB).

Veja o texto na íntegra:

Carta aos goianos

Já se passaram 18 anos da decisão que tomei, ainda, como estudante de Direito, em Brasília, de voltar para casa e trilhar o caminho da política. Assim, recebi de Goiás e de Goiânia a responsabilidade de participar de decisões importantes sobre o seu futuro. Como foram generosos comigo! Os mandatos de Vereador por Goiânia e Deputado Estadual foram frutos do esforço de muitos companheiros e da confiança de milhares de goianos.
Sempre tive posições claras, às vezes até intransigentes, na defesa daquilo em que acredito. Ocupei funções relevantes tanto no parlamento quanto nas esferas internas do PMDB. Todas conquistadas no debate e no voto. As vitórias, derrotas, alegrias e tristezas foram encaradas com muito trabalho e espírito democrático.
Após a derrota de 1998, um dos momentos mais difíceis do PMDB, estive entre os poucos que fizeram o enfrentamento com o Tempo Novo na Assembleia Legislativa. Em 2000, fui convocado para ser candidato a vice-prefeito de Goiânia e não hesitei, consciente das dificuldades a serem encaradas pela chapa. Fomos derrotados, mas, mesmo assim, continuei acreditando naquele projeto. Até o último voto na Assembleia Legislativa fiquei leal a essa crença.
2004 foi um ano de conquistas. Fizemos a boa política. O PMDB voltou às ruas revigorado, repleto de novos nomes e, aparentemente disposto a se renovar naquilo que nos distanciara da sociedade. Eu me lembro, como se fosse hoje, o primeiro dia a pôr os pés no Paço Municipal, para a reunião das comissões de transição criadas pelo prefeito que deixava o cargo e pelo prefeito eleito. Que sabor diferente tinha aquela vitória. Tinha vencido a eleição de Vereador (1996) e Deputado Estadual (1998), mas os meus candidatos a prefeito e governador haviam sido derrotados. Foram vitórias que não tiveram o mesmo sabor.
No ano seguinte, cheguei com o PMDB à Prefeitura de Goiânia convicto que estava fazendo parte da reconstrução do partido. Partido que defendi com veemência durante todas as eleições e no exercício de cada mandato. Desde então, recebi missões das mais variadas, dirigi 10 órgãos da Prefeitura e coordenei as campanhas majoritárias de prefeito e governador. Dediquei-me de corpo e alma a cada uma delas.
Sempre reconhecido como um profissional capaz de encarar papéis variados na administração pública, nunca recusei uma missão. À época, adquiri uma paixão incomensurável pelo segmento da habitação. Recebi a missão de construir a Secretaria Municipal de Habitação a partir de uma única folha de papel, que era o decreto que me nomeava para o cargo. Constitui uma equipe talentosa, comprometida e estimulada. Em pouco mais de dois anos, deixamos ali a marca do maior programa de habitação da história de Goiânia, com mais de 6.000 casas construídas. Alguns tentaram se apropriar dessa conquista, mas a cada vez que entro em um desses bairros sinto uma alegria inebriante. Assistir, ainda que à distância, a realização do sonho de milhares de famílias não tem preço.
Mas em todos esses anos não houve só flores. Mantive minhas convicções, mesmo enfrentando o ciúme e as resistências daqueles que me enxergavam como um político com luz própria. Capaz de alcançar posições mais elevadas sem se submeter à bajulação ou ao apadrinhamento. Aprendi, ainda criança, que as conquistas são frutos de muito trabalho, esforço e dedicação. Incomodei muitos. Conquistei inimigos que não eram para serem meus. Preservei meu líder. Fui fiel. Fui leal.
Em 2008, conheci Paulo Garcia em um almoço com os amigos Francisco Azeredo e Agenor Curado. Ele disputava, no PT, a escolha do nome para ser candidato a vice-prefeito na chapa à reeleição do Prefeito de Goiânia. Foi vitorioso nas duas oportunidades. Convivemos pouco até a sua ascensão ao cargo de Prefeito. Fui surpreendido com o convite para ser seu Secretário de Governo. A partir daí construímos uma amizade. Confiança e compartilhamento da intimidade não só do cargo. Passei a admirá-lo como ser humano. Homem bom, digno e extremamente leal. Qualidades raras nos dias de hoje.
Quis estar ao seu lado na chapa à reeleição. Dediquei todos esses anos a isso. Eu me vi nessa posição até poucos instantes da decisão do PMDB. Sensibilizei a maioria absoluta dos companheiros do PMDB que votariam, a estarem ao meu lado. Debati com os demais postulantes de forma democrática, até o momento da intervenção desonesta e centralizadora já característica no partido. Característica essa que tem feito um mal enorme ao PMDB. Sucumbi à intervenção para não prejudicar a união do partido, preservar meus companheiros de retaliações e, principalmente, não prejudicar a candidatura do meu amigo Paulo. Dediquei-me à coordenação da campanha da mesma forma. Ao se reeleger, Paulo me colocou ao seu lado na Prefeitura. Por força das circunstâncias, a sala que ocupei na Chefia de Gabinete fica ao lado da sala do Vice-prefeito.
Depois das eleições, eu refletia quase que diariamente sobre a minha saída do PMDB. Relutei. Entretanto, sempre vinham as lembranças das opiniões emitidas por diversos companheiros, ao longo dos anos, que insistiam em dizer que ali não seria reconhecido, enquanto o comando do partido continuasse, de forma centralizadora, nas mãos de um único homem. Sem oportunizar espaços para os novos nomes. Comuniquei ao Paulo a minha decisão de sair do PMDB.
Dias depois, fui surpreendido com o convite feito por alguns amigos a ingressar no PT. Fiquei honrado com o convite, porque percebi que construíamos uma forte relação desde as eleições de 2008. Aceitei e me filiei ao PT, com a esperança renovada em um novo projeto. Esperei que com novos nomes colocados até então, no cenário das próximas eleições, permitissem a construção desse novo projeto. Mas, diante do sórdido jogo interno do PMDB, o cenário da fragorosa derrota de 1998 se repetiria mais uma vez.
Recebi o convite para estar na chapa do PT como vice-governador, mas diante do delicado momento familiar que vivia com a doença da minha querida mãe e o compromisso com a gestão de Goiânia, vi-me obrigado a declinar do mesmo. Decisão tomada com pesar! Conquistei muitos amigos no PT e espero preservá-los para eternidade. Sei que muitos receberão a notícia da minha saída com decepção e não compreenderão meu gesto. Mesmo assim, todos gozarão do meu respeito, por mais que seja desrespeitado por alguns. Peço apenas que me permitam ser como realmente sou: fiel ao que acredito. Não acredito na candidatura do PMDB.
Testemunhei muitas tomadas de decisão que saíram da sala de dois prefeitos. O primeiro, que ouviu a equipe apenas nos primeiros meses do governo; e o atual, que pratica a arte da política que é dialogar, principalmente com aqueles que estão próximos. Para muitos, talvez este seja o maior dos seus erros. Mas, com certeza, não o é. Paulo tem administrado diariamente os problemas causados pelas decisões monocráticas tomadas pelo antecessor. Tem sido obrigado a tomar decisões que, por mais que não demonstre, são como um punhal que o corta na própria carne.
Aos olhos de Goiânia, não há como não reconhecer que o mandato anterior ao de Paulo Garcia não tenha sido realizador. Ele o foi. Só que essas realizações estão sendo pagas por Paulo Garcia. O dinheiro deixado em caixa, como é dito, não seria suficiente para pagar o que havia sido gasto e não contabilizado e tampouco capaz de suportar os compromissos assumidos com os servidores nas futuras folhas de pagamento.
Alguns perguntarão por que não me manifestei anteriormente. Infelizmente, mesmo fazendo parte da administração anterior por mais de 5 anos, só passei a ter conhecimento sobre o difícil quadro financeiro da Prefeitura depois que Paulo foi reeleito. As finanças da Prefeitura eram concentradas nas mãos de apenas três pessoas e isso era bradado como razão do sucesso da gestão. Hoje, sei o porquê da falta de transparência.
Na última sexta-feira entreguei o cargo de Chefe de Gabinete do Prefeito. Foram quase 10 anos na Prefeitura de Goiânia. Difícil decisão. As relações de amizade criadas ao longo desses anos pesam em momento assim. A Prefeitura de Goiânia foi a minha segunda Universidade, com direito a um número incontável de especializações. Li muito, conheci muito, aprendi muito com os milhares de servidores e funcionários públicos que cumprem com amor e esforço quase sobrenatural a dura função de cuidar da nossa Capital. Mulheres e homens admiráveis e honrados que, mesmo nas adversidades, exercem com dignidade a árdua missão de fazer de Goiânia a melhor cidade do Brasil para se viver.
Essa decisão vem ao encontro daquilo que acredito. Goiás não merece viver o que Goiânia vem passando. Declinei do cargo para ter a liberdade de manifestar minha opinião acerca do futuro de Goiás.
Decidi apoiar a reeleição do Governador Marconi Perillo porque reconheço que meu Estado estará entregue a melhores mãos. Marconi tem feito um governo moderno e realizador, visto e reconhecido em todo canto de Goiás. Por motu proprio, procurei o Governador Marconi no Palácio das Esmeraldas para externar meu apoio e me colocar à disposição para contribuir com sua eleição nesses últimos dias.
Marconi já era conhecido de meus pais, mas só o conheci em minhas viagens pelo interior de Goiás. Líderes políticos de alguns Municípios de Goiás defendiam nossos projetos, mas nunca estivemos juntos no embate das urnas. O destino nos distanciou. À época, o improvável aconteceu. O jovem Deputado Federal tornou-se Governador de Goiás e a dobradinha sonhada por nossos apoiadores não se concretizou. Ficamos até hoje em lados opostos.
Ao longo dos anos, vários amigos em comum tentaram nos unir, mas sempre os fiz entender que não deixaria de defender aquilo em que acreditava. Os últimos dois anos me fizeram abrir os olhos para tudo em que acreditei. Mudei de opinião sem me envergonhar, como disse o escritor português Alexandre Herculano “Eu não me envergonho de corrigir meus erros e mudar de opinião, porque não me envergonho de raciocinar e aprender”.
Reconheço que haverá incompreensões, críticas e acusações das mais diversas, mas não me envergonharei em nenhum instante por fazer aquilo em que acredito. Agradeço a Deus pela vida de cada uma das pessoas que me acompanharam até aqui, rogando a ele que esse novo começo seja repleto de bênçãos.

Goiânia, 19 de outubro de 2.014
Iram Saraiva Júnior

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