Faz tempo que a crítica artística se envolve em uma discussão estéril e boba para definir o que é e o que não é arte.
Marcel Duchamp escandalizou com o mictório de cabeça para baixo e o seu monociclo apoiado sobre uma banqueta.
Era o surgimento do ready-made e o escancaramento do dadaísmo, que intelectualoides ignoraram e reportaram por lixo.
O mesmo comportamento preconceituoso atribuiu desprezo à pop art de Roy Lichenstein e Andy Warhol. Hoje, todo mundo vê suas intervenções como arte. Mas foi preciso que os anos se passassem para que estas manifestações fossem respeitadas tal qual os são as renascentistas, barrocas e medievais.
O jornal Opção se arrisca a cometer o mesmo erro histórico. Na edição desta semana, publica um artigo maluco de um advogado obscuro, Rafael Teodoro, que trata como “imbecilidade monossilábica” a nova fase da música sertaneja, feita de refrões fáceis, bastante decoráveis e razoavelmente dançantes.
Dispa-se de preconceitos, rapaz.
O sertanejo universitário documenta a postura dos jovens de hoje, em sua maioria hedonistas e materialistas. Não é culpa da música que valores do passado estejam se perdendo e dando lugares a outros novos. A roda gira, o relógio anda e nada do que foi será, de novo, do jeito que já foi um dia.
As novas duplas são produtos de uma sociedade em metamorfose tal qual foram Leandro e Leonardo ou Zezé di Camargo e Luciano – marcos do processo de urbanização do País, que trouxe a temática sertaneja para dentro das cidades e metrópoles.
É compreensível que muitos não gostem dessa barulheira monossilábica, mas com prudência antropológica o crítico verá que a mensagem é muito mais rica do que parece.
Ouça Elis, Rafael: é você que é mal passado e que não vê que o novo sempre vem.