Veja o editorial da rádio 730, nesta sexta-feira:
Lula finge que ouve e fala do que não ouve
Última atualização em Sexta, 19/07/2013
Um mês depois da grande manifestação que reuniu mais de 1 milhão de pessoas pelas ruas das cidades brasileiras, o ex-presidente Lula resolveu se manifestar. Mas não para o seu povo. Preferiu fazer sua análise sobre os protestos que abalaram as estruturas do poder no Brasil para o os americanos via agência de notícias do New York Times. Em seu artigo publicado mensalmente no jornal, Lula diz que seria mais fácil explicar o levante popular em países “não-democráticos” ou em países que passam por crise econômica.
O artigo do ex-presidente demonstra que ele não entendeu o recado das ruas. Ou prefere fazer ouvidos moucos às palavras de ordem gritadas aos sete ventos por estudantes, trabalhadores, donas de casa e idosos. O Brasil não foi para as ruas apenas para participar plenamente da democracia, como afirma Lula em seu insidioso artigo. Foi reclamar dos rumos da nossa democracia.
O País colheu sucesso nas áreas sociais, econômicas e políticas nas últimas décadas, como Lula ressalta? Certamente que sim, tanto nos governos tucanos como nos petistas. Mas não foi o que deu certo que levou as pessoas às ruas. É aquilo que não está dando certo. Lula lembra que os jovens que invadiram as ruas não viveram a inflação da década de 1980, mas esqueceu de dizer que essa conquista está ameaçada. A economia do País vive seu momento mais frágil desde a implantação do Real, com a alta dos preços ultrapassando a meta de 4,5%. E para o governo, a inflação batendo na casa dos 6% é normal. Mas não é. A inflação em países emergentes, que além do Brasil inclui Rússia, Índia e China, anda na casa dos 2%. O crescimento do Brasil também é bem inferior ao do grupo e da América Latina, que cresce em média 4,5% enquanto o PIB brasileiro não deve chegar a 2% este ano.
Lula disse ter entendido algo que ele na verdade não aceita: o povo não aprova a maneira que o governo petista vem torrando o dinheiro público. O povo não quer ver o resultado de três meses de trabalho que vão para os impostos ser gasto com estádio de futebol que serão entregues para a iniciativa privada lucrar mais tarde. O ex-presidente se esqueceu de que, ao pleitear ser a sede da Copa do Mundo, ele prometeu que o evento seria bancado pela iniciativa privada. Até agora foram gastos com estádio 28 bilhões dos cofres públicos. A contribuição da iniciativa privada virá depois da Copa. Não em investimento, mas na coleta dos lucros.
O povo quer probidade na administração, não reforma política. Ao hostilizar os partidos políticos nas manifestações, as pessoas hostilizaram o que eles representam hoje no Brasil: políticos que mamam nas tetas dos governos inchados de apaniguados. O governo da presidente Dilma Rousseff soma 39 pastas com status de primeiro escalão. Desde 1990, esta é administração federal com o maior número de cargos de primeiro escalão. O Executivo goiano é composto por 14 secretarias, sendo seis extraordinárias, além de 19 órgãos de assessoramento da governadoria. No âmbito municipal, o prefeito de Goiânia Paulo Garcia (PT) quase duplicou o número de secretarias em comparação ao governo de Iris Rezende (PMDB), seu antecessor. De 17, o número de secretarias passou para 32, entre 2008 e 2013.
Lula diz ter autoridade para falar sobre o Brasil, mas lhe passa despercebido que não é MAIS que as pessoas querem, como disse em seu artigo. Quem foi às ruas quer MENOS; menos corrupção, menos gasto com medidas populistas, menos gasto para manter esse conluio partidário no poder. O povo quer mais honestidade, quer políticos com visão republicana, quer estadistas na administração do País. A população quer transparência com a coisa pública, repudia as manobras que o governo vem fazendo para equilibrar as contas públicas e que colocam em risco grandes empresas estatais como a Petrobrás e a Caixa econômica Federal e o próprio BNDES.
Desde que as manifestações passaram a atingir o governo federal, que no primeiro momento dizia se tratar de pelengas com os municípios, Dilma Rousseff se reúne semanalmente com Lula. Deve ter partido dele a ideia de propor a estapafúrdia reforma política – por meio de plebiscito – para aclamar os ânimos da população, acreditando que assim poderia canalizar os anseios populares para uma mudança que beneficiaria o PT nas urnas. Diferente do que pensa Lula, o povo não precisa de melhores formas de participação. Eles já acharam uma maneira eficaz de dar seu recado: as ruas. O povo precisa ser ouvido e que sua mensagem seja corretamente entendida. O problema da comunicação está do outro lado; na surdez de Lula e seus companheiros.