Leia comentário do jornalista Euler Belém, editor-chefe do Jornal Opção, sobre a crise da TV Anhanguera e a missão de Orlando Loureiro:
TV Anhanguera está em crise porque não consegue “acessar” a nova sociedade goiana
O diretor de Jornalismo da TV Anhanguera, Orlando Loureiro, chegou com uma missão: retirar a televisão da família Câmara do segundo lugar. Um ano depois, o “Jornal do Meio Dia”, da TV Serra Dourada, continua dando um “banho” na concorrente. Jornalistas costumam dizer: “A TV Anhanguera é o SBT de Goiás”.
Loureiro é um profissional correto e competente. Mas, ao fazer o diagnóstico errado da crise da Anhanguera, não soube aplicar o medicamento adequado. Ao chegar, disse aos repórteres que a Globo não aceitava que uma emissora afiliada “devolvesse” a programação em queda obrigando a rede a elevá-la. Repórteres e apresentadores, apontados como responsáveis pela audiência em queda, foram transferidos de área e alguns deixaram de apresentar os telejornais — a imagem deles estaria desgastada e, com isso, desgastariam a imagem da emissora. Novos apresentadores e repórteres foram contratados. Não se pode dizer que são incompetentes, porque não são, mas não conseguiram elevar a audiência da emissora. Portanto, culpá-los isoladamente é o mesmo que culpar os profissionais anteriores. A crise tinha a ver com o desgaste de imagem — espécie de fadiga de material — dos apresentadores e repórteres? Tudo indica que não, ou pelo menos não inteiramente.
Mudanças foram feitas, no sentido de popularizar o telejornalismo da Anhanguera, que às vezes se torna o “Daqui” televisual. A rigor, o jornal continua plástica e tecnicamente bem feito, mas às vezes com conteúdo questionável. O que está ocorrendo, então?
Primeiro, talvez seja possível dizer que a Anhanguera perdeu sintonia com a sociedade goiana, especialmente com a goianiense. Segundo, os novos contratados não conhecem o Estado e seus, digamos, “segredos”. Terceiro, na tentativa de se aproximar do povão, o telejornalismo da Anhanguera tornou-se uma caricatura dos programas dos concorrentes. A tevê dos Câmaras fica no meio do caminho, aproximando-se do apelativo e, às vezes, tentando ser chique-classe média.
A indecisão parece confundir o telespectador, que, em dúvida, corre para a TV Record, para a TV Serra Dourada e, se classe média e elite, para a Globo News e outros igualmente sofisticados. Quarto, a Anhanguera, seguindo orientação da Globo, não é mais a “tevê diário oficial de Goiás”, mas o estigma permanece.
A saída? Não a temos. Mas a Anhanguera precisa definir o que é, o que quer ser (quer ser popular? Quer ser vista por todos? Abandonou as classes médias e a elite?). A partir daí, definido um eixo, deve retrabalhar seu jornalismo, reaproximando-se da sociedade. Hoje, fica-se com a impressão de que a Anhanguera tenta “folclorizar” os goianos, numa tentativa de criar uma identidade com alguma coisa que está no passado, não no presente. O goiano, se preserva suas raízes, está cada vez mais cosmopolita, viajando pelo país e para o exterior, conhecendo novas maneiras de se fazer jornalismo. A Anhanguera não está conseguindo “acessar” este “novo” goiano.