Veja matéria desta sexta-feira no jornal O Popular:
Infância
Babá prospera em meio à crise
Mercado de trabalho avança na ilegalidade para suprir falta de vagas em centros de educação
Cleomar Almeida 31 de janeiro de 2014 (sexta-feira)
A doméstica Maria Lúcia Rodrigues de Aquino tem 31 anos, recebe um salário mínimo e vai tirar quase a metade do dinheiro para alguém cuidar do filho mais novo, o Calebe Felipe, de apenas 10 meses. Ele é uma das cerca de 3 mil crianças que esperam entrar em Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) em Goiânia. O déficit de vagas faz prosperar um mercado paralelo de babás, muitas vezes na clandestinidade, que se apresenta como alternativa para cobrir o vácuo no serviço que deveria ser garantido pela Prefeitura.
Apesar de a Secretaria Municipal de Educação (SME) informar que cresceu 430% o número de vagas abertas em CMEIs, o déficit ainda persiste e castiga mães que não têm onde deixar as crianças. Maria Lúcia tem mais dois filhos, Weverton Mateus, de 14, e Júlia Vitória, de 10. Este mês, eles estão ficando com uma tia, Marinalva. A casa, de aluguel, está cheia. O problema se agrava porque a irmã da doméstica tem dois filhos, Gabriel Antônio, de 5, e Maria Clara, de 1, que também não conseguiram vagas em CMEI e, por causa disso, ela vai embora para Montividiu do Norte, no Norte goiano.
Maria Lúcia terá de pagar babá, como já fazia antes de deixar com a irmã dela. “Enquanto trabalho, fico pensando. Meu Deus, não vai sobrar nem para comprar comida”, lamenta a doméstica. “Choro direto por causa disso. Trabalho como doméstica, cuidando do filho dos outros e não tenho quem cuide dos meus”, emenda.
Enquanto a Prefeitura de Goiânia se afunda no impasse, babás como Marinalva Rosa de Lima, de 38, se apresentam como alternativa. Com a ajuda da cunhada Nayara, de 31, ela alugou um barracão de dois cômodos para oferecer serviço de berçário, no Jardim Mariliza, na Região Sudeste da capital. Por enquanto, ela cuida de quatro crianças, das 7 horas às 18h30, e cobra 250 reais por cada uma.
Em meio à crise de vagas em CMEIs, Marinalva Rosa aproveitou seus 11 anos de experiência como monitora de berçário para trabalhar por conta própria. O plano dela tem dado certo. “Comecei olhando só uma criança. Hoje, penso em ter um espaço maior, até com funcionários.”
E o mercado tem se tornado cada vez mais promissor. Além das babás, existem as “mães crecheiras”, conforme observa a Coordenação dos Conselhos Tutelares em Goiânia.
O problema se espalha por toda a cidade. A auxiliar de limpeza Ludiléia Ferreira de Souza, de 28, conta que também recebe um salário mínimo. Ela mora no Setor Buena Vista, na Região Sudoeste da capital. Até hoje não conseguiu vaga em CMEI para a filha, Lara Cristina, de 4. “É muito ruim a gente ficar só atrás de lugar para deixar o filho, e não encontrar. É um absurdo”, desabafa.