Artigo do vice-prefeito Agenor Mariano, publicado no DM desta quinta-feira:
Ali Vai Ladrão
Diário da Manhã
Agenor Mariano
Ao contrário do que muitos pensam, exercer a atividade política não é fácil. Nós e nossa família temos que estar sempre preparados (mesmo que não devendo) para enfrentar a calúnia, a agressão gratuita e ainda termos a honra ofendida. De fato é uma vida para quem tem um chamado. Eis um exemplo:
O ano era de 1981. Ainda me lembro como se fosse hoje. Na época, eu era um garoto de sete anos e estava na alfabetização. Morava com a minha família no Conjunto Caiçara, em Goiânia, e estudava na Escola Municipal Benedito Soares de Castro. Como fazia todos os dias, minha mãe tinha ido me buscar na escola. No caminho de volta para casa, orgulhoso e ávido para mostrar o meu progresso com as letras, parei diante de um muro e em voz alta li o que estava escrito numa pichação: “Ali Vai Ladrão.” Imediatamente fui repreendido por minha mãe que disse para eu nunca mais repetir aquilo, caso contrário seríamos presos. Esse fato me marcou para sempre já que foi a primeira vez que me confrontei com a possível consequência sofrida por aqueles que faziam oposição ao regime e porque depois tomei conhecimento que aquela frase era uma referência ao então governador de Goiás, Ary Ribeiro Valadão (1979-1983). Recentemente, inclusive, li uma entrevista do ex-prefeito de Anápolis, Olímpio Ferreira Sobrinho (1982-1983), no site www.ahistoriadeanapolis.com.br, onde ele afirma que Ary Valadão não gostava dele porque ele o havia chamado de “Ali Vai Ladrão “. Eu não sei nem posso afirmar se este apelido é o que melhor representa o ex-governador, Ary Valadão, pois não convivi com o mesmo nem conheci suas ações como pessoa.
Mas por que tudo isso me veio à cabeça agora? Eu digo a vocês: foi devido ao espanto que tive ao ler a entrevista concedida nesta semana (10/02/2014) pelo ex-governador, Ary Valadão, aqui no jornal Diário da Manhã. Do alto de seus 92 anos este senhor se comportou de maneira deselegante, fazendo acusações que não pode provar e se referindo ao também ex-governador, Iris Rezende, com termos criados por adversários políticos simplesmente para atacá-lo. Ora, Iris Rezende talvez seja, no Estado de Goiás, a pessoa que mais foi investigada pelo Ministério Público (MP) estadual e pelos Tribunais de Contas, que não encontraram nada que pudesse desaboná-lo em seus 55 anos de vida pública. Vale lembrar que Iris está há quase 20 anos fora do governo estadual. Chego a pensar que a motivação de tais acusações se dá por uma tristeza de alma, pois ambos foram governadores e ambos marcaram a história. Infelizmente, para Ary seu governo marcou a história como um período negro de repressão que só não pode ser esquecido para que não se repita. Período em que Goiás era referência de ausência de estradas, falta de asfalto (situação essa que inspirava a velha frase: “Ou vai de trem ou vai terra”, falta de infraestrutura, escolas, hospitais. Enfim, um Estado que era o retrato do atraso no País. Marcou ele a história como sendo o último governador de Goiás a representar o regime ditatorial que se instalara no País e que entregou o Estado ao seu sucessor, Iris Rezende, com mais de seis meses de atraso no pagamento dos funcionários públicos. E pensar, que o próprio Iris Rezende me contou anos atrás, que pouco antes da abertura política para as eleições diretas para o governo de Goiás foi chamado até a casa do jornalista Batista Custódio. Ao chegar lá se deparou com o então governador Ary Valadão que de pronto lhe fez uma proposta: aderir à frente governista para ser o candidato apoiado pelo governo. Iris Rezende não precisou mais do que 15 minutos para negar, agradecer o convite e dizer: “Se fosse para chegar ao governo, chegaria pelo voto do povo.”
Comparar o governo de Ary Valadão ao governo de Iris Rezende é mais covardia do que chamar um peso mosca para lutar com um peso pesado no MMA (Artes Marciais Mistas). Iris Rezende lutava pela democracia, colocando a própria vida em risco, sempre ao lado do povo. Em todos os mandatos chegou ao governo através do voto e com grande aprovação popular. Íris Rezende é lembrado como o administrador que resgatou a democracia no Estado e colocou Goiás no mapa. Foi o responsável por asfaltar a maior parte das rodovias estaduais, atrair indústrias, oferecer oportunidades aos cidadãos em diversos projetos sociais e criar um dos maiores programas de habitação popular do País, que depois foi copiado por outros. Citar todas as obras de Iris neste artigo seria impossível. Mas por tudo que fez para a história de Goiás e de Goiânia, Iris Rezende tem o reconhecimento da população, pois até quem não vota em Iris sabe que o Estado mudou para melhor depois dele. Por isso, ser leviano e ofender a história desse grande político é ofender também o nosso Estado .
Antes que as viúvas do regime ou os corvos de plantão venham acusar-me de que, por ocasião deste artigo, estaria eu a serviço de terceiros, afirmo que estou a serviço de minha própria consciência. Ou seja, fi-lo porque o quis.