Veja o artigo publicado pelo jornalista Pablo Kossa no site A Redação:
Ex-presidente colocaria em xeque seu prestígio
Goiânia – Quando parte da bancada do Partido da República (PR) declara publicamente seu apoio a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a coisa começa a ficar mais séria.
Não se trata mais de fofoquinha de corredor, passa a ter um status institucional. Estamos falando de gente com mandato (logo, votos; logo, dinheiro que financia as caríssimas campanhas) que assume sem medo o que rolava somente nos bastidores.
Se eu fosse a presidente Dilma Roussef, colocaria a barba de molho. Se eu fosse o Lula, correria para as montanhas. Nunca toparia uma roubada desse porte. Veja bem a posição de Lula: deixou o governo com a maior aprovação da história do Brasil, elegeu sua sucessora, tem um exército feroz que o defende de qualquer coisa que diga.
Responda para mim uma coisa: por qual razão colocar tamanho capital em uma empreitada que têm alguma possibilidade de dar muito errado? Vou me antecipar: o objetivo é a manutenção dos espaços dentro da estrutura do Estado brasileiro que o PT conseguiu nesses anos de governo. Ele coloca em xeque o prestígio pessoal que conquistou para preservar o poder de seu partido. Um risco que eu não toparia correr.
Não pense Lula que encarar o pleito é uma missão tranquila. E como um cara que entende muito de política, ele sabe perfeitamente disso. O ex-presidente já até fez uma de suas tradicionais metáforas o comparando ao heptacampeão do mundo de Fórmula 1, Michael Schumacher. O alemão deixou o automobilismo com o status de lenda absoluta. Voltou e não conseguiu repetir seu excepcional desempenho. Ficou no meio dos medíocres. Ele não precisava dessa mancha em seu brilhante currículo. Contudo, sei lá por que cargas d’água, resolveu topar o desafio e se deu mal.
A comparação é perfeita. É muito arriscado colocar na mesa de apostas um legado tão respeitável como o que Lula tem. Os números são incontestes. Teve outro presidente do Brasil que encarou também uma volta: Getúlio Vargas. Depois do fim do Estado Novo, Vargas se candidatou à presidência com forte apelo para seu retorno. Venceu o pleito, assumiu em 1951 e deu no que deu. Uma bala no peito após uma crise política violenta no País.
Além disso, durante toda campanha Lula teria que justificar o fiasco de sua sucessora. Por quais motivos o PAC empacou nas mãos da mãe do PAC? Por que a gerentona deixou a Petrobrás se sair tão mal no mercado? As explicações minariam tudo que Lula disse sobre Dilma em 2010.
Por fim, vamos super que Lula ganhe. Qual garantia ele terá que conseguirá repetir seu aprovado desempenho entre 2003 e 2010? Absolutamente nada. E o cenário que o Brasil enfrenta hoje mais complicado que o de 2011, quando Dilma assumiu.
A missão de salvador da pátria é ingrata. Ela costuma derrubar os mitos ao simplório padrão dos mortais. Será que Lula encara tal desafio? O pior é que eu acho que sim. Mas se fosse ele, ficaria no meu Instituto dando entrevista para veículos de comunicação de outros países que é uma posição bem mais confortável.