Veja artigo do vereador Elias Vaz, publicado nesta quinta-feira no Jornal O Popular:
A história da crise do lixo
A situação caótica em que se encontra o serviço de coleta de lixo em Goiânia é apenas o desdobramento de uma série de equívocos e irregularidades cometidos na gestão da Comurg. Até 2004 a polêmica do lixo se dava em torno do contrato da Prefeitura com a Enterpa. Através de uma CEI chegamos a constatar, dentre várias irregularidades, o pagamento de 81 horas por dia, de domingo a domingo, pelo aluguel de uma retroescavadeira. Era um verdadeiro escândalo. Em 2005 o ex-prefeito Iris Rezende rompeu o contrato e adquiriu uma frota própria, e vivemos um bom período em que a coleta de lixo deixou de ser motivo de escândalos.
A partir de 2010 aparecem problemas de duas naturezas. O primeiro em relação à saturação da frota, com cinco anos de uso sem renovação, começam a crescer muito os valores gastos com manutenção, inclusive, com indícios de irregularidades que culminou em ação civil pública movida pelo Ministério Público em 2014. O segundo problema era a quantidade de caminhões, que já não era suficiente para atender toda a demanda. Neste momento, começam os contratos emergenciais, com dispensa de licitação, referente à frota complementar. O argumento é que esta situação perduraria até à licitação para aquisição dos caminhões de coleta.
Com o passar do tempo, a situação foi se agravando, a frota própria foi ficando cada vez mais velha, chegando ao ponto de todos os caminhões serem paralisados por estarem, literalmente, sucateados. A partir daí toda a frota de coletores passa a ser locada com contratos sem licitação.
Em agosto de 2012 foi homologada a licitação para a compra de 70 caminhões com compactadores. A Prefeitura, alegando problemas financeiros, fez opção em continuar com as locações sem licitação. É inexplicável essa conduta, pois o prejuízo é óbvio. Só pra ilustrar, a aquisição de um caminhão compactador custaria para a Prefeitura R$ 209 mil. Este mesmo caminhão alugado da Metropolitana custou de agosto de 2012 até março deste ano R$ 654 mil, ou seja, o valor daria pra comprar três caminhões novos. É preciso não esquecer que quem estava dando manutenção nestes caminhões eram os mecânicos da Comurg e que também eram usados motoristas da companhia para dirigi-los.
Está claro que a Comurg tem sofrido ataques de gente inescrupulosa e descomprometida com a coisa pública. Vale lembrar a história dos altos salários, onde teve funcionário ganhando mais de R$ 80 mil em um mês e, até mesmo, dirigente sindical ganhando R$ 9 mil de hora extra por mês. Depois de tantos saques, a empresa está agonizando e quem está pagando o pato é a população, refém do caos que se instalou na cidade entupida de lixo. Também é vítima desta situação a maioria dos trabalhadores da Comurg, que ganha pouco e sequer tem o material de proteção para trabalhar.
Da presidência da Comurg, assistimos ou lemos algumas pérolas do tipo: “A população pode ficar tranquila que tudo se resolverá em junho”. Outra: “Quando o caminhão não passar, recolham o lixo de volta pra dentro de casa” e, a última, “vamos fazer um contrato emergencial de três anos”. Sobre o contrato emergencial, entendo que é o caso, até porque vivemos uma situação de calamidade pública e precisamos de uma solução rápida, só não posso concordar com um contrato emergencial prolongado por três anos.
A situação em que se encontra a Comurg é fruto de uma história de má gestão combinada com corrupção. Os responsáveis têm que ser punidos e o patrimônio público precisa ser respeitado. Afinal de contas dinheiro público não é lixo.
Elias Vaz é vereador em Goiânia pelo PSB