O prefeito Paulo Garcia (PT) perdeu uma boa oportunidade para economizar: em vez de trazer a Goiânia, a peso de ouro, a consultora de imagem Olga Curado para ensinar a equipe do Paço Municipal como se comportar para evitar crises e desgastes, poderia simplesmente ter copiado o artigo da jornalista Fabiana Pulcineli, na edição de segunda de O Popular, e distribuir entre os seus auxiliares.
Sairia grátis. Ou melhor: só pelo custos das xeroxs.
Fabiana escreveu um artigo em que avalia a contínua queda de popularidade do prefeito (13 pontos desde a sua reeleição) e localiza com precisão a origem dos desgastes que levaram ao baque na aprovação da administração municipal: amadorismo, falta de diálogo, arrogância, omissão, incompetência e dificuldade para dar respostas às demandas dos goianienses.
A jornalista dá o diagnóstico e a receita que Paulo Garcia foi procurar, pagando um preço que ainda não foi revelado, em uma consultora cujo primeiro conselho, segundo mostra O Popular na edição desta terça-feira, é constrangedor: “Cautela quando responder a questionamentos da imprensa”.
A recomendação de Fabiana Pulcineli para o prefeito Paulo Garcia, sem cobrar nada, pode ser resumida em uma frase: “parar de minimizar os problemas e enxergar a realidade”.
Pra isso, não precisa gastar com consultoria.
Leia o artigo de Fabiana Pulcineli. É de graça:
Avanços que não vieram
Com a menor aprovação popular registrada em um ano, segundo o instituto Serpes, o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), sofre os efeitos de tropeços da nova gestão e das dificuldades do Paço em dar respostas às cobranças e demandas dos goianienses.
A nova pesquisa, feita nos dias 1º e 2 de junho e divulgada ontem pelo POPULAR, mostra que o desempenho do prefeito é avaliado de forma positiva por menos de um terço da população – 32,4%. Foi o menor índice de classificação do desempenho do governo petista como bom (27,9%) nos últimos 12 meses. Outros 42,6% dos entrevistados consideram a gestão regular e 19,2% a avaliam de forma negativa.
Na semana que antecedeu as eleições, em 7 de outubro do ano passado, o prefeito tinha 45,2% de aprovação. Mesmo considerando a exposição em período eleitoral e a maior atenção da população sobre questões administrativas e políticas, a queda é alta – de quase 13 pontos.
Ele volta agora a um cenário próximo de um ano atrás, quando contava com 36,3% de aprovação e registrava 17,2% de avaliação negativa, com 42,9% de índice regular. Considerando a margem de erro, de 4,89 pontos, o desempenho praticamente não mudou.
Deveria mudar, já que a promessa era de que, no novo mandato, o prefeito faria uma gestão mais a seu estilo, com maior espaço de atuação, sem tanto peso da dependência dos aliados e com foco em visão mais moderna, de desenvolvimento sustentável, avanços na área política e mais resultados.
No entanto, em todos os principais problemas relacionados à Prefeitura este ano – coleta de lixo, falta de médicos e demora no atendimento em unidades de saúde, mudanças no Plano Diretor e transporte coletivo –, o que se viu foi o esforço em minimizar a gravidade dos fatos, dificuldades em explicar os problemas e um tom de arrogância ou omissão que não combinam em nada com uma gestão moderna.
É comum ouvir do prefeito em entrevistas a reclamação de que se fala sobre determinado assunto sem se ter conhecimento. Falta a ele considerar que cabe à Prefeitura dar explicações e reconhecer falhas na comunicação do Paço.
No caso mais recente da questão do transporte coletivo, o petista se manteve em silêncio durante semanas sobre protestos que mexeram com a cidade, como se o problema não fosse com ele. A interlocutores disse que não foi ele quem fez a licitação, não foi ele quem prometeu passe livre aos estudantes e que o que cabia a ele estava sendo feito – estudos sobre desoneração e implantação de corredores.
E mais: o prefeito tem repetido que recebeu convite da prefeitura de Belo Horizonte para dar palestra sobre o transporte coletivo daqui, usando o fato para afirmar que a qualidade do serviço aqui não é ruim como se costuma dizer. É um dos melhores do País, diz, num tom desconcertante até mesmo para aliados, segundo relatos dos mesmos.
É a insistência em minimizar os problemas ou não querer enxergar a realidade. Nesse caso, é bom voltar à pesquisa Serpes, que incluiu nessa rodada a pergunta sobre avaliação do transporte coletivo em Goiânia. Metade dos goianienses respondeu que o serviço é péssimo. Considerando os que consideram o transporte ruim, a avaliação negativa alcança 67,5%.
Ao dar nota de 0 a 10, a população avaliou o transporte com 2,54. Há algum jeito de dizer que o que está aí está bom?
Diante dos desgastes e dos alertas das pesquisas internas, o prefeito decidiu anunciar na semana passada o cartão chamado Ganha Tempo, que permitirá três viagens em intervalo de duas horas e meia aos usuários. Semelhante ao Cartão Integração, que já existia, e paliativo, o programa não exime a Prefeitura de fazer o que nunca fez: cumprir o contrato não só na parte que trata de reajuste anual da tarifa, mas também naquela que exige melhorias na qualidade do serviço.
A Prefeitura precisa tratar das questões da cidade com menos amadorismo, melhor comunicação – e isso não se resume a campanha publicitária, que o Paço reforçou este mês –, mais diálogo e menos arrogância. Precisa convencer a população de que está trilhando o caminho do desenvolvimento sustentável, discurso que está sendo desconstruído nos últimos meses, com atos e gestos.
Do contrário, o alto índice de avaliação regular, que caracteriza a gestão petista e que aponta para a expectativa da população a respeito da administração, caminha para cair em direção à avaliação negativa.
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