sábado , 27 abril 2024
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Eleitor radicaliza em eleições para Legislativo, mas não vota em “aloprados” para presidente, governador ou prefeito, diz Jornal Opção

O jornal Opção publica nesta semana não um mero editorial, mas um chamamento à razão endereçado ao eleitor de Goiânia. O texto sugere que a população tenha sobriedade na hora de escolher o candidato a prefeito e rejeite postulações de políticos “aloprados” ou “perigosos”.

O editorial afirma que, em eleições para deputado e vereador, o eleitor permite-se radicalizar na escolha de candidatos. Transforma o Legislativo em uma espécie de “laboratório” de políticos. Exemplos clássicos que confirmam a tese: Waldir Soares, Celso Russomano e Jair Bolsonaro. Mas pondera, em tom de alívio, que o cidadão é mais responsável na hora de escolher presidente, governador ou prefeito.

“Para o Executivo, o eleitor prefere políticos moderados no discurso, centrados no comportamento e experientes em termos administrativos. Pode-se dizer que, para eleição de presidente, governador e prefeito, o eleitor não aposta em ‘aloprados’ e ‘milagreiros’ monotemáticos – desses que avaliam que os problemas da sociedade podem ser resolvidos a partir de uma ideia brilhante e única, aproximando-se de uma religião”.

Confira, abaixo, o texto na íntegra: 

Eleitor não banca candidato que, não sendo gestor, quer usar Goiânia pra obter experiência

Se o eleitor é um ser complexo, cujo humor varia de acordo com o que vai lendo (jornais), vendo (televisão) e ouvindo (ruas) durante a campanha, pode-se dizer que se comporta de maneira dual. Quer dizer: o eleitor brasileiro vota de uma maneira para o Legislativo e de outro modo para o Executivo. Parece confuso, mas não é. Sobretudo, é uma prova de sua maturidade. Curiosamente, trata o Executivo como mais seriedade do que trata o Legislativo.

O eleitor patropi trata o Legislativo como um espaço no qual se pode fazer experiências e, assim, testar políticos. Para vereador e deputado, o eleitor costuma radicalizar, se o verbo correto é mesmo este. Políticos que se apresentam de maneira radicalizada, prometendo resolver problemas históricos e candentes da sociedade — como a crise da segurança pública —, às vezes conseguem se eleger para a Câmara dos Deputados. Podem ser citados como referências Jair Bolsonaro, do Rio de Janeiro, Waldir Soares, de Goiás, e Celso Russomanno, de São Paulo — três defensores de ideias mais caras à direita.

Maduro, o eleitor sabe que é no Parlamento que se votam projetos para criar leis, como a redução da maioridade penal, cujo objetivo é reduzir a criminalidade. Por isso, ao votar, escolhe políticos que avalia como afinados com suas ideias de sociedade.

Há o aspecto de que, durante quatro anos, o eleitor examina o que o “seu” deputado fez, se se destacou. Jornais frequentemente realçam que poucos eleitores lembram-se em quais candidatos a deputado votaram. Não se trata de uma informação falsa, não. Mas, se o deputado foi muito bem, acabará por ser notado — assim como se for muito mal. Ao seu modo, com certa displicência e ar blasé, o eleitor sabe o que está acontecendo com seu país. Pesquisas, sobretudo se quantitativas, raramente capturam com precisão a opinião das pessoas sobre política e sexo. Mesmo com os eleitores cada vez mais independentes, há receio de opinar — ao menos de maneira precisa e, também, polêmica — sobre determinados temas. Daí se dá uma resposta do tipo “em cima do muro”. Trata-se mais de omissão, como uma espécie de proteção, do que de mentira.

Mas por que o eleitor tem o hábito de fazer experiência e, às vezes, de votar até por brincadeira em determinados candidatos, como Tiririca, para deputado e vereador? Primeiro, porque parece avaliar que o Legislativo é, como se sugeriu antes, um lugar adequado para “testes” de políticos. Segundo, porque parece entender que um político sem experiência faz pouco mal ao país, aos Estados e às cidades se for eleito para o Parlamento. O eleitor é, portanto, mais sábio do que imagina a vã filosofia de alguns cientistas políticos. A cabeça do eleitor é mais complexa do que explicam os manuais de figuras exponenciais da ciência política.

Executivo

Se para o Legislativo, o eleitor experimenta, por qual motivo se comporta de modo diferente quando se trata de uma eleição para o Executivo? Para presidente, governador e prefeito, parece não apreciar experiências, experimentos. Só o faz, quando o faz, se os demais candidatos são ruins ou parecidos e não há uma terceira via que percebe como mais consistente e capaz.

Para o Executivo, o eleitor prefere políticos moderados no discurso, centrados no comportamento e experientes em termos administrativos. Pode-se dizer que, para eleição de presidente, governador e prefeito, o eleitor não aposta em “aloprados” e “milagreiros” monotemáticos — desses que avaliam que os problemas da sociedade podem ser resolvidos a partir de uma ideia brilhante e única, aproximando-se de uma religião.

Falemos especificamente sobre eleições municipais, que estão em pauta. O prefeito eleito fica quatro anos no poder. O período é curto se o prefeito for eficiente e criativo. Porém, se for ruim, a cidade e os cidadãos sofrem em suas mãos. Não raro, dependendo da incapacidade do gestor, do mau gestor, o trabalho de anos feito por vários prefeitos é destruído. É como se, administrando quatro anos, o prefeito ruim tenha ficado de oito a 12 anos no poder.

Um prefeito ruim maltrata a cidade e seus cidadãos, cria um caos geral na sociedade e, até, na economia. Em quase todas as cidades, das pequenas às grandes, as economias locais dependem, em larga medida, de como as prefeituras são administradas. Se atrasam o salário dos funcionários públicos, o que ocorre com frequência em todo o país, abalam o comércio, a área de serviços e, mesmo, o agronegócio. Se deixam a cidade suja, contribuem para o aumento de doenças e, também, para retirar ou reduzir a beleza estética de uma cidade jovem, como é o caso de Goiânia.

Goiânia é uma metrópole, com 1,4 milhão de habitantes, mas com uma população flutuante muito maior — a ligação com as cidades de seu entorno é visceral, como se fossem, e no fundo são, uma única cidade. Bem administrada, a Prefeitura de Goiânia, com um orçamento mensal próximo de mais de 400 milhões de reais — muito superior à movimentação financeira de algumas empresas de grande porte —, é indutora de crescimento e desenvolvimento. Um prefeito capaz e atento — Nion Albernaz é dos principais responsáveis pelo conceito de cidade limpa e bonita (nem sempre o que é limpo é bonito), com a criação de jardins e limpeza das ruas — cria a imagem de cidade moderna, que pode inclusive atrair novos empreendimentos. Uma cidade atraente, agradável de se viver, é a porta de entrada para investimentos. Uma cidade mal administrada (“que raízes são essas que se arraigam,/que ramos se esgalham/Nessa imundície pedregosa?”, anota o poeta T. S. Eliot, em “A terra devastada”), com a prefeitura contribuindo para abalar o crescimento da economia, é a porta de saída para a fuga de capitais e empreendedores.

Por saber que um mau prefeito pode tornar sua cidade uma terra devastada, ou desolada, é que o eleitor por certo não vai fazer experiências com a eleição para a Prefeitura de Goiânia. Por saber que está lidando com a vida de todos, inclusive com a sua, é que o eleitor vota em candidato para o Executivo com responsabilidade, sem pensar em experimentos “aloprados” e “perigosos”. É até provável que, num primeiro momento, como se estivesse em funcionamento uma espécie de inconsciente coletivo, o eleitor use um candidato — que se julga acima do bem e do mal — para dar um susto nos candidatos mais tradicionais. Mas, na hora agá, sob o peso da ética da responsabilidade, o eleitor, consciente e maduro, decide por aquele — ou aqueles — que tem condições políticas e técnicas de gerir sua cidade.

O eleitor de Goiânia sabe que este Editorial é sobre ele e sua responsabilidade no dia 2 de outubro. Sabe que, se “brincar”, como às vezes faz para o Legislativo, pode contribuir para destruir sua bela cidade. Não se trata de induzi-lo a votar neste ou naquele candidato. Mas um chamamento à razão. Quem vai sofrer possíveis consequências das ações de um “gestor maluco” — aliás, se é maluco, nem pode ser chamado de gestor — e “contencioso”, que tem paixão por desagregar, são todos os goianienses, inclusive o eleitor que optar, quiçá brincando, pela desrazão. Mas insistimos: o eleitor de Goiânia é maduro-sábio e, para o Executivo, não brinca nem aprecia experimentos, pirotecnias e ideias miraculosas.

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