Veja o texto postado pelo jornalista Euler Belém agora há pouco no Jornal Opção Diário:
Ao focar crítica mais em Marconi Perillo, setores organizados destoam da crítica mais ampla das massas autônomas
Euler de França Belém
Talvez seja dizer possível que na manifestação de quinta-feira, 20, nas principais ruas do Centro de Goiânia, havia (ou há) duas vertentes: uma organizada e uma espontânea. A organizada, por mais barulhenta que seja, era minoritária. A maioria dos manifestantes era gente insatisfeita com o status quo — não apenas contra o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), e a presidente da República, Dilma Rousseff (PT). Trata-se de uma multidão, instruída, que está insatisfeita com o país, com os desmandos generalizados dos políticos de praticamente todos os partidos. Trata-se de uma massa — mas não ignara — que está cansada. Cansada de apenas votar — às vezes escolhendo não o “melhor”, mas, na falta deste, o “menos pior”.
Entretanto, além do protesto espontâneo — que, na verdade, não “perdoa” nenhum político e nenhum partido e defende uma mudança de fato, e não cosmética —, houve o “Fora Marconi!”, que, tudo indica, parece ter sido organizado pelas forças radicais da política, como PSTU, PSOL e setores mais ortodoxos do PT. Nada há de ilegítimo nisto, pois, como o país é democrático, os grupos políticos têm o direito de manifestar publicamente suas posições e divergências. É saudável que exponham suas discordâncias. É o oposição que faz o poder mexer-se e, às vezes, não permite as acomodações. No caso, porém, as ruas estão dizendo que todos estão acomodados — o que, de algum modo, sinaliza para uma falência das oposições.
Porém, ao concentrar-se no slogan “Fora Marconi!”, numa crítica articulada (com faixas e cartazes muito bem preparados — nada de cartazes singelos) e unidimensional, os setores organizados se postaram, de algum modo, contrários às massas, que, a rigor, não representam. Não que as massas tenham defendido Marconi, mas sua crítica era mais ampla. Pode-se dizer que, ao menos neste caso, as massas estiveram na frente, como críticas mais amplas, dos setores tidos como organizados.