sexta-feira , 29 março 2024
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Resumo dos últimos 10 dias de Bolsonaro: preconceito, dados falsos e sarcasmo. Relembre

Os últimos dez dias de Jair Bolsonaro (PSL) foram marcados por uma série de declarações recheadas de conteúdo falso e preconceituoso. Entre os alvos estão os jornalistas Miriam Leitão e Glenn Greenwald, os governadores do Nordeste e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Nesta segunda, ele também ironizou o desaparecimento de Fernando Augusto Santa Cruz durante da ditadura militar. Fernando era pai de Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Relembre:

MIRIAM LEITÃO:
“Ela estava indo para a guerrilha do Araguaia quando foi presa em Vitória. E depois [Míriam] conta um drama todo, que teria sido torturada, sofreu abuso, etc. Mentira. Mentira”.

A jornalista Miriam Leitão foi presa, espancada, torturada e ameaçada de estupro pela ditadura militar em 1973, em Vitória. Na época, tinha 19 anos e estava grávida. Ela ficou três meses detida. Miriam nunca participou da luta armada nem esteve na guerrilha do Araguaia. Na época em que foi presa, era jornalista da rádio Espírito Santo e militante do PCdoB.

NORDESTINOS
“Daqueles governadores de paraíba, o pior é o do Maranhão [Flávio Dino, do PCdoB]. Tem que ter nada com esse cara”.

O termo “paraíba” é usado pejorativamente no Rio de Janeiro, estado onde Bolsonaro se erradicou, para se referir a nordestinos. A expressão, quando usada para ofender uma pessoa ou um grupo, é considerada preconceituosa/racista e pode originar um processo judicial.

FOME
“Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora, passar fome, não. Você não vê gente mesmo pobre na rua com físico esquelético como a gente vê em alguns outros países do mundo”.

Segundo o Datasus, 15 pessoas morreram de desnutrição por dia em 2017. Dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) estimam que havia cerca de 5 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar no país entre 2016 e 2018.

INPE
“Com toda a devastação que vocês nos acusam de estar fazendo e de ter feito no passado, a Amazônia já seria se extinguido. Isso acontece com muitas revelações, como a de agora, e inclusive já mandei ver quem está à frente do Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais] para que venha explicar em Brasília esses dados que foram enviados à imprensa. Nosso sentimento é que isso não coincide com a verdade, e parece até que [o presidente do Inpe] está a serviço de alguma ONG”.

Bolsonaro se referia à notícia de que monitoramento do Inpe havia constatado aumento de 57% no desmatamento da Amazônia entre maio e junho.

Diversas autoridades científicas do país, como a Academia Brasileira de Ciências e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, saíram em defesa do Inpe e do sistema de monitoramento utilizado, que mapeia queimadas e desmatamento via satélite.

MEIO AMBIENTE
“Só aos legados que comem só vegetais [consideram importante a questÃo ambiental]. Outros países com baía não tão exuberante como a de Angra conservam o meio ambiente. Se quiséssemos fazer uma maldade, cometer um crime, nós iríamos à noite ou em um fim de semana qualquer na baía de Angra e cometeríamos um crime ambiental, que não tem como fiscalizar”.

Bolsonaro tem defendido, desde a campanha, que seja alterado o status de Estação Ecológica (Esec) de Angra dos Reis. Ele, que tem uma casa na região, foi multado por pescar em local proibido.

GLENN GREENWALD
“Ele [Glenn Greenwald] não se encaixa na portaria. Até porque ele é casado com outro homem e tem meninos adotados no Brasil. Malandro, malandro, para evitar um problema desse, casa com outro malandro e adota criança no Brasil. Esse é o problema que nós temos. Ele não vai embora, pode ficar tranquilo. Talvez pegue uma cana aqui no Brasil, não vai pegar lá fora não”.

Bolsonaro se referia à portaria do Ministério da Justiça que autoriza a deportação sumária de estrangeiros considerados “perigosos”, ainda que não tenham sido condenados judicialmente.

Glenn é jornalista do site The Intercept, que vem publicando, desde 9 de junho, reportagens baseadas em um pacote de mensagens trocadas no aplicativo Telegram entre a força-tarefa da Lava-Jato e o hoje ministro da Justiça Sérgio Moro.

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