Em artigo publicado no site A Redação (www.aredacao.com.br), o engenheiro civil Marcos Garcia afirma que a prefeitura de Goiânia “optou pelo caminho economicamente mais fácil” ao demolir a casa da família Sabino na Rua 20, centro da Capital. O imóvel era um dos últimos remanescentes do patrimônio art déco em Goiânia e foi destruído porque, segundo a administração, havia se tornado ponto para consumo de drogas e prostituição.
Marcos diz que, em vez de jogar a casa abaixo por conta das drogas, a atitude correta seria expulsar os inquilinos indesejados do local e investir na restauração e preservação da obra. “Imagino a dificuldade na manutenção das bibliotecas. Toda vez que um livro fosse encontrado com sinais de traças melhor seria queimá-lo, evitando a contaminação de outros exemplares. As técnicas para recuperação de suas páginas são difíceis, demoradas e de custo elevado, mas certamente esta seria a atitude adotada, visando a preservação daquela história ali contada”.
O engenheiro classifica como “equivocado” o desfecho dado ao episódio da casa da Rua 20. “Por falta de sensibilidade, o poder público, os familiares e até parte da vizinhança escolheram destruir um importante exemplar da história da arquitetura de Goiânia. Como em outros casos em que problemas afetam a preservação do nosso patrimônio, existem soluções”.
Leia a íntegra do artigo:
O caminho mais fácil nem sempre é melhor
Goiânia – Imagino quantas vezes não nos deparamos com fotos antigas, dentro de caixas esquecidas, dividindo espaço com insetos e mofos. Dificilmente jogamos fora. Apesar da situação encontrada, tratamos com carinho estas fotos, ansiosos para mostrar aos familiares um pouco da nossa vida.
Imagino a dificuldade na manutenção das bibliotecas. Toda vez que um livro fosse encontrado com sinais de traças melhor seria queimá-lo, evitando a contaminação de outros exemplares. As técnicas para recuperação de suas páginas são difíceis, demoradas e de custo elevado, mas certamente esta seria a atitude adotada, visando a preservação daquela história ali contada.
Imagino um museólogo se deparando com cupins devorando uma escultura em madeira. O risco de que estes insetos acabem com o acervo é enorme. Melhor seria sumir imediatamente com o foco. Mas o procedimento escolhido será o da preservação, já que existem ações capazes de resolver o problema, devolvendo à comunidade a possibilidade de conviver e aprender por muitos anos com aquela obra de arte.
Uma cidade se parece com uma caixa de fotos, uma biblioteca ou um museu, onde temos de cuidar do nosso patrimônio arquitetônico como cuidamos de nossas fotos, livros e esculturas. Sempre serão encontrados problemas, mas precisamos ser capazes de encontrar a melhor solução. Temos obrigação de cuidar da nossa história.
No recente caso da Rua 20, deparamo-nos com uma solução equivocada. Por falta de sensibilidade, o poder público, os familiares e até parte da vizinhança escolheram destruir um importante exemplar da história da arquitetura de Goiânia. Como em outros casos em que problemas afetam a preservação do nosso patrimônio, existem soluções.
Se a causa é problema social, a demolição não é uma solução. O argumento de que a casa precisava ser demolida por ser local utilizado por excluídos e marginais para atos inaceitáveis para a comunidade está longe de ser um argumento convincente. Imagine se adotássemos a demolição como solução para todos estes casos no mundo.
Se o problema é econômico, a demolição também não é a solução. Vejam os diversos casos similares no Brasil e no Mundo onde a restauração de edificação de valor histórico é incorporada a novos empreendimentos habitacionais ou de lazer, valorizando o produto final.
Na verdade, foi escolhida por todos os envolvidos a solução economicamente mais fácil. Faltou, mais uma vez, pensar o que é bom para a cidade.
Goiânia perde novamente.
Manoel Garcia é engenheiro civil.