Reportagem-análise de Daniel Gondim, publicada na Tribuna do Planalto, indica que Marconi Perillo “elegeu” Iris Rezende como o adversário preferido na eleição de 2014.
O repórter político conclui que o velho peemedebista é um nome mais fácil de ser derrotado na sucessão do ano que vem do que um candidato com perfil de novidade.
Veja a matéria:
Marconi ‘elege’ Iris adversário
Alternando ataques e respeito ao ex-prefeito, governador cria clima antecipado de enfrentamento e escolhe peemedebista como rival para 2014
Daniel Gondim – Repórter de Política
O governador Marconi Perillo (PSDB) ainda nem admite a possibilidade de ser candidato à reeleição, mas o adversário ele já ‘escolheu’. Caso viabilize a busca de um quarto mandato, o tucano dá sinais de querer enfrentar o ex-governador e ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende (PMDB) ao atacar o peemedebista em certos momentos e, na sequência, demonstrar preocupação com a força do adversário. Com isso, o tucano acaba ignorando outros pré-candidatos da oposição, polarizando o debate e antecipando o enfrentamento com seu histórico rival.
A estratégia fica clara nas declarações recentes do governador a respeito de Iris. No início de julho, respondendo a um ataque do peemedebista, Marconi criticou o ex-prefeito relembrando episódios dos governos do PMDB. Menos de duas semanas depois, ao jornal O Popular, o tucano disse que, caso não dispute mesmo a reeleição, o peemedebista surge como nome mais forte para vencer a corrida pelo Palácio das Esmeraldas em 2014.
A menos de um ano para o início do período eleitoral, Marconi ainda sofre com problemas políticos e administrativos. Mesmo que se recupere, Perillo vai chegar à eleição com um desgaste natural de quem está em busca do quarto mandato como governador. Por isso, nada melhor que enfrentar um adversário também muito conhecido.
Além disso, as vitórias sobre Iris em 1998 e 2010 deixam uma sensação entre os aliados de que Marconi sabe como derrotar o peemedebista. “O modo do Iris fazer campanha é previsível. Ele é um adversário forte e muito difícil, mas, em um momento de crise como esse, o melhor é enfrentar alguém conhecido”, garante um deputado integrante da base marconista na Assembleia Legislativa.
Motivos
Grande parte das discussões sobre a eleição de 2014 gira em torno do fim da polarização entre PSDB e PMDB. Por isso, a preferência dos marconistas em enfrentar Iris soa como uma tentativa de neutralizar o discurso que o próprio Marconi Perillo usou em 1998, quando venceu o peemedebista se apresentando como a renovação na política goiana.
Para 2014, além dos dois rivais históricos, há pelos menos dois pré-candidatos que poderiam se encaixar no perfil do “novo”. O prefeito de Anápolis, Antônio Roberto Gomide (PT), e o empresário Júnior do Friboi (PMDB) seriam as principais referências para quem deseja a entrada de novos quadros na disputa pelo comando do Estado.
Em menor escala, o ex-prefeito de Senador Canedo Vanderlan Cardoso (PSB) também poderia ser enquadrado no quesito, mesmo tendo disputado o governo em 2010. Se comparado com Iris e Marconi, por exemplo, o socialista levaria vantagem em relação a ambos.
Já com três mandatos como governador e outro como senador, além de ter sido deputado federal e estadual, Marconi não teria ao seu lado o argumento de renovação, caso enfrentasse um dos três nomes citados, especialmente o de Gomide. O petista, que está em seu segundo mandato como prefeito de Anápolis, tem a seu favor a popularidade no município e a fama de bom gestor.
Se o adversário for Iris Rezende, porém, a situação seria diferente, já que o peemedebista comandou o Estado em duas oportunidades e estaria na quinta disputa pelo Palácio das Esmeraldas. Assim, outra disputa com o ele sepultaria o argumento de renovação que já começa a ganhar força na própria oposição. Além disso, esse cenário de novo embate pode até ser mais favorável ao governador. “Mesmo os dois sendo experientes e tenho trajetórias políticas extensas, a diferença de idade poderia ser uma pequena vantagem para Marconi”, argumenta um aliado.
Por isso, não foi à toa que o governador chegou até a propor que ele e o peemedebista deixem de disputar a eleição em 2014. “O ideal seria que ele (Iris Rezende) e eu abríssemos mão da candidatura”, disse o tucano, em entrevista ao O Popular. No fundo, a intenção é justamente reforçar a ideia de que candidaturas de Iris ou Marconi só fariam sentido se ambos se enfrentassem. Se Iris for à disputa, como aliados do governador acreditam, o seu oponente natural é o tucano.
Outro cenário em que ambos poderiam anular os pontos fracos do adversário é justamente o que mede a rejeição dos dois entre os eleitores. Por ocupar o cargo de governador, Marconi enfrenta problemas administrativos resultantes dos problemas da atual gestão, mas, mais do que isso, ele já sofre com desgastes naturais de quem está há muito tempo no poder. O mesmo acontece com Iris, que, além de já ter sido governador, tem no currículo mandatos como prefeito de Goiânia, senador e períodos como ministro da Justiça e da Agricultura.
Aqui, mais uma vez, Marconi levaria desvantagem caso concorresse com Gomide, por exemplo. Em seu segundo mandato como prefeito de Anápolis, o petista sairia na frente, pois seria um contraponto ao do governador. Em termos estaduais é considerado um nome ‘arejado’.
Por fim, os aliados de Marconi ainda comemoram outra vantagem (e não menos importante) dele em relação a Iris Rezende, que é o de o tucano investir maciçamente em estrutura de campanha. “O Marconi vai investir tudo o que pode e até o que não pode. Já o Iris a gente sabe que no final da campanha falta dinheiro para gasolina”, ironiza um aliado do governador.
Em 2010, por exemplo, uma das principais diferenças entre o tucano e o peemedebista foi justamente a capacidade financeira do primeiro. Até hoje, aliados de Iris Rezende reclamam das dificuldades na campanha do ex-prefeito de Goiânia. Na avaliação de alguns deles, a diferença a favor do tucano no fim da eleição pode até ser creditada a esse fator.
Nesse sentido, quem poderia colocar medo na base aliada seria o empresário Júnior do Friboi, que não esconde que um dos seus principais trunfos é mesmo a capacidade financeira. Outros motivos, porém, deixam os aliados do governador mais tranquilos em relação ao peemedebista. “Dinheiro ajuda, mas tem de ter pelo menos um pouco de discurso. Isso ele não tem”, analisa o mesmo aliado de Marconi na Assembleia.