O Diário da Manhã trouxe ampla cobertura sobre as agressões contras líderes comunitários retirados à força das galerias da Câmara de Goiânia ao cobrar mais investimentos em serviços públicos, durante prestação de contas do prefeito Paulo Garcia.
O jornal usa fotos do Goiás 24 Horas, que mostram o uso de força desproporcional e truculência contra os manifestantes, que faziam um protesto pacífico e pagaram um preço alto pela intolerância do prefeito, que mandou a Guarda Municipal agir com violência.
Veja a reportagem:
Expulsos pelo poder na casa do povo
Líderes comunitários da região leste são retirados da Câmara ao cobrar mais investimentos em serviços públicos
Diário da Manhã
Elpides Carvalho
Apesar de vivermos em um estado democrático de direito, exercer a cidadania plena em Goiás nem sempre é possível. Isso porque na última quinta-feira (8), três líderes comunitários foram hostilizados enquanto exerciam sua liberdade de expressão política, durante prestação de contas do prefeito Paulo Garcia, na Câmara Municipal de Goiânia. Na ocasião, segundo os contribuintes, eles estavam apenas cobrando as benfeitorias prometidas às suas respectivas comunidades e se surpreenderam com ação truculenta dos agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM), além da Polícia Militar (PM). Vereadores tiveram ainda que intervir pela segurança dos manifestantes.
Na solenidade, também estiveram presentes servidores descontentes, líderes de bairros, fornecedores sem receber e concurseiros da saúde não empossados. Eles foram unânimes no que tange as insatisfações e indignações com a atual administração de Garcia.
No entanto, os três líderes comunitários procuraram a reportagem do Diário da Manhã para expor os maus-tratos sofridos pela segurança da Câmara Municipal, a mesma casa que convida os goianienses a participar de ações de interesse da comunidade também expulsa o povo.
Segundo Valdemir Filho, 42, presidente do 6º Conselho de Segurança e educador social, a princípio, ele não tinha ido à prestação de contas para manifestar, mas para assistir ao evento por ter sido convidado por amigos. “Tenho interesse em participar de tudo que envolve minha comunidade, pois, afinal os gastos prestados lá, também é dinheiro meu. Ao chegar à Câmara percebi que tinha muitos funcionários municipais no local para aplaudir o prefeito e outros para revindicar. No entanto, quando ouvi Paulo Garcia se referir a região leste como paraíso, não pude me conter e aderi à manifestação”, conta.
O líder Valdemir disse ainda que a partir dá revindicação por melhorias e cobranças das promessas durante campanha eleitoral, um servidor da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (Semob), tentou intimidá-lo e, em seguida instigou briga.
“Nós estávamos num canto da galeria manifestando quando percebi que seguranças do local começaram a cercar a gente. O funcionário da Semob, Wanderley, falou para meu companheiro calar a boca porque ele tinha vindo para ouvir o prefeito. Eu conversei com ele e pedi para que nos deixasse reivindicar, pois estava ali desde o início, não ia calar porque o espaço é democrático, pago imposto, sou cidadão e tenho direito de manifestar. O Wanderley com intuito de tumultuar veio para meu rumo e me acertou um soco começando o tumulto”, explica Valdemir.
Neste contexto, a reportagem do DM tentou contato por telefone com a Semob para comentar o caso, mas não obteve respostas. Assim, como também foi procurada a assessoria de comunicação da prefeitura de Goiânia, no entanto, ela não atendeu as ligações.
De acordo com Davi Moreira, 40, líder comunitário da Vila Concórdia, região leste de Goiânia, a intenção era cobrar do prefeito as benfeitorias para o local. “Nós não comparecemos a sessão com máscaras, pedras ou armas, apenas levamos três cartolinas com os nossos dizeres e demandas da região. Não fomos à prestação de contas do prefeito para brigar, mas como cidadãos de bem, eleitores e contribuintes. Esse indivíduo da Semob começou a confusão a mando do Luciano de Castro, presidente do órgão”, indigna.
Ainda segundo Davi, eles foram recebidos na casa do povo, que se dizem democráticos, com agressão desnecessária por parte da PM e Guarda Municipal. “Fui enforcado pelo capitão Murilo da PM, dentro da Casa que também é minha e do goianiense. A polícia deveria estar nas ruas coibindo a cracolândia em volta da Câmara e não dentro dela, batendo, asfixiando o contribuinte”, exalta.
Roberto Ladislau, 40, comerciante e presidente da Associação de Moradores do Bairro Dom Fernando I, questiona porque a polícia e a Guarda Municipal coibiu apenas eles, sendo que o servidor da Semob começou toda a confusão. “Ouvi do rádio do segurança quando foi dado ordem para colocar a gente para fora do evento. Eu estava dentro da Câmara como cidadão de bem e defendendo os direitos dos moradores da minha região. O servidor da prefeitura que deu início a tudo, ninguém o tirou de lá,” esbraveja.
Em nota o comando da Guarda Civil Metropolitana informa que na última quinta-feira, durante a prestação de contas do prefeito, apenas teria intervido em uma briga entre manifestantes, retirando-os do local para preservação da ordem e da segurança. A assessoria de comunicação da Polícia Militar também foi procurada para comentar o incidente envolvendo polícias. Mas segundo o coronel Walter da PM, responsável pela comunicação, a polícia não tinha conhecimento dos fatos.
Reivindicação
Os líderes comunitários apontaram à reportagem do DM várias reivindicações e demandas de seus respectivos bairros, que segundo eles, o prefeito Garcia até o momento não teria atendido a nenhuma delas. Entre elas: creches, continuação da avenida Leste Oeste, Unidade de Pronto Atendimento (UPA), praças abandonadas, construção dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), iluminação das ruas e escrituração de lotes. Eles pedem ainda que o prefeito chame as comunidades para conversar e debater os problemas de cada região da Capital.