O jornalista Pablo Kossa passou por uma situação de urgência em sua casa e ligou para o Samu para pedir atendimento. Foi uma decepção. Para compartilhar sua malsucedida experiência, ele escreveu um texto que foi publicado no jornal digital ARedação. Confira:
Samu não vale nada
No meio do expediente da tarde de sexta, recebi uma ligação de minha mulher:
– Caí com a Nara (nossa filha) no colo. Não consigo me levantar e nem mexer as pernas.
Desesperei. Com as pernas tremendo de nervosismo, desliguei o computador e fui para casa. No caminho, mensagens dela no celular: “Pode chamar uma ambulância”. Tensão total. Preferi chegar ao local primeiro e analisar a situação antes de qualquer decisão. Quando a vi, ela estava estatelada ao lado da cama, com a Nara no colo de nossa diarista. Vi que a situação era drástica, ela chorava de dor. Precisávamos mesmo de uma ambulância.
Como todo cidadão brasileiro que vive uma situação de emergência médica, liguei para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Sabia que não seria fácil, mas nem no meu pesadelo mais apocalíptico pensei que seria tratado com tal nível de desprezo. O atendente Júnior me pediu uma descrição do acidente, informações pessoais e endereço. Disse que me transferiria para um médico. Tive o diálogo mais aterrorizante da minha vida com esse profissional da saúde:
– Boa tarde, como o paciente está?
– Boa tarde, como é o nome do senhor?
– Não tenho autorização para responder a esse tipo de pergunta. Para qualquer efeito, essa conversa está sendo gravada e você pode solicitar a gravação. Como está o paciente?
– Bem… Minha mulher caiu e não consegue mexer as pernas e nem se levantar. Precisamos de uma ambulância para levá-la ao hospital.
– Não temos veículo disponível agora.
– Mas ela não consegue se levantar, nem mexer as pernas. Pode ser algo na coluna, coisa séria.
– Não temos veículo disponível. Mais alguma informação?
– Eu gostaria do número de protocolo dessa ligação.
– É 789 do dia 15 de março, às 17:18. Mais alguma coisa?
– Não, obrigado. Boa tarde.
Nunca imaginei que o serviço médico do Samu era tão ruim e despreparado. Ainda bem que com o Corpo de Bombeiros foi completamente diferente. Atendimento cordial, serviço ágil, profissionais educados. Levaram minha mulher para o Hospital de Acidentados com rapidez e competência. Eles poderiam dar um workshop para o Samu ver se aprende algo.
Não tem nada mais agressivo do que ser tratado como lixo quando precisamos de um serviço de saúde na hora da emergência. O sentimento é de indignação, revolta, desamparo. É inaceitável que um médico tão tosco faça atendimento ao público. E se ele nem tem autorização para se identificar, está claro que o trato bruto é regra, não exceção. Do jeito que está, o Samu nada mais é do que um arremedo de atendimento, algo porcamente feito só para mostrar que existe algo para a urgência. Mas, na real, ele não atinge seu fim. O Samu está imprestável.
Depois de raio-x, exames e medicamentos na veia, minha mulher foi diagnosticada com uma lombalgia causada pela queda. Ela foi receitada com uma pancada de medicamentos e recebeu atestado médico de cinco dias para ficar em repouso até a melhora da dor. Não atingiu a coluna. Dos males, o menor.