A morte de Mauro Borges encerra uma das maiores desídias da política em Goiás. Ex-governador no período 1961-1963, Mauro teve um único desafeto político em vida: Iris Rezende Machado. Na época em que foi afastado do governo, Iris e Mauro estiveram do mesmo lado: contra a ditadura.
E durante a reabertura política, em 1983, também participaram juntos do arranjo partidário que se armou contra os filhos da UDN e Arena. Entretanto, logo após assumir o governo de Goiás, Iris Rezende optou por afastar Mauro Borges de seu grupo político.
Na época, ele temia a força e expressividade de Mauro Borges. Em seu velório e enterro, um fato para a história: peemedebistas e agora também os petistas ignoraram a dor da família Ludovico Teixeira. Não participaram da solenidade de despedida de uma dos maiores homens públicos de Goiás.
Eleito senador ao lado do Iris governador, Mauro testemunhou o que ele chamava de “inveja de Iris”. “Tudo que ele queria era desfazer o que tínhamos feito”, costumava dizer Mauro antes de desenvolver mal de Alzheimer.
Iris Rezende, por exemplo, tentou desarticular a Metago – a empresa de Goiás para explorar a produção mineral. Conforme Mauro, Iris também desmontou o sistema de estradas de ferro que ele construiu durante sua gestão no início da década de 1960 e ignorou o Crisa e a Iquego. Por fim, fechou o Banco do Estado de Goiás (BEG) e Caixego – todas heranças da era Borges.
Mauro citava Iris como um político que tinha muito ódio e inveja. Outro desafeto de Iris Rezende, Ary Valadão, governador anterior a Iris (1982- 1985), também acusa o peemedebista de ser vingativo e ajudar a destruir, por exemplo, o projeto Rio Formoso.
Tanto Mauro Borges quanto Valadão reclamavam do cacique peemedebista, que desejava construir na história política de Goiás um lugar de destaque para ele e outro bem menor para os concorrentes.
O problema é que a prática de Iris Rezende foi outra. Mauro Borges entrou para a história pela ousadia: foi o governante que reinventou Goiás, criando o planejamento público. E também foi um político mais corajoso do que Iris, pois está nos livros de história de todo país, no episódio da ‘Crise da Legalidade’.
Mauro defendeu a posse do presidente Jango e pagou caro por isso: foi cassado durante a ditadura, sendo obrigado a se isolar em uma fazenda em Corumbá de Goiás. E Iris Rezende cresceu exatamente na ditadura, sem ter sido, de fato, perseguido.