Em artigo neste domingo em O Popular, a editora-chefe Cileide Alves defende uma tese no mínimo esdrúxula: a de que os jornalistas constituem uma classe especial, acima dos demais segmentos da sociedade.
Segundo Cileide, quando um jornalista sofre um ato de violência, “é a democracia que está sendo golpeada”. Já contra as pessoas que não são jornalistas, a violência seria corriqueira e sem importância. Ou seja: a democracia não é golpeada.
Isso porque atos de violência contra jornalistas, conforme o texto da editora-chefe de O Popular, seriam diferenciados do “mero ataque a mais um cidadão”, já que jornalistas são encarregados de levar as informações à sociedade e seriam “componente vital da saúde de qualquer Estado democrático”.
O raciocínio de Cileide, além de elitista, é perigoso e antidemocrático: por que a violência sofrida pelo cidadão comum deveria ser vista e inclusive reprimida de modo diferente que o ataque a um jornalista? E por que uma determinada profissão, no caso a de jornalista, deveria ser considerada superior às demais e qualificar as pessoas que a exercem como “representantes” da democracia?
Em uma sociedade democrática, onde vigora o Estado de Direito, todo ato praticado fora da lei – inclusive a violência – deve ser recebido como “um golpe contra a democracia” e combatido com rigor. Não pode haver distinções para nenhum tipo de vítima, nem para um jornalista nem para um lixeiro nem para ninguém.
Todos somos iguais – é a ideia, que Cileide desprezou em seu artigo deste domingo.