Esqueça o jogo de cena entre PT e PMDB quando o assunto é a eleição de 2014: a guerra está deflagrada nos bastidores. O PMDB não admite a possibilidade de apoiar uma eventual candidatura do prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), a governador. É o que diz o jornal Tribuna do Planalto na edição desta semana.
O Tribuna ouviu as figuras mais importantes do peemedebismo antes de chegar à conclusão. Sob condição de anonimato, reforçaram que o partido, em hipótese alguma, será coadjuvante na próxima disputa ao Palácio das Esmeraldas. Independente de Iris Rezende topar ou não se colocar no pleito.
“Não acho, definitivamente. Pessoalmente, lutarei contra isso [o apoio do PMDB a Paulo]. A militância do PMDB exige um candidato próprio”, afirma, na reportagem, o ex-secretário-geral do partido, Kid Neto – expoente da chamada”velha guarda”, formada por lideranças históricas do partido.
Leia um trecho da reportagem:
“O pensamento de Kid é reflexo de um sentimento forte dentro do PMDB. O problema é que o partido, atualmente, vê uma disputa intensa entre quem defende mais uma candidatura de Iris Rezende para o Palácio das Esmeraldas e quem prefira um nome novo. Sem entrar em consenso, as duas alas deixam a sigla à deriva, abrindo espaço para o surgimento de lideranças em outras legendas de oposição ao governo.
Com o impasse, o nome de Paulo começou a ganhar força nos bastidores por uma razão principal: quando virou vice-prefeito, em 2008, Paulo Garcia se aproximou muito de Iris. Hoje Paulo e Iris tem uma afinidade inabalável. Como tem grande influência no partido, o peemedebista, caso não seja candidato e não enxergue nos novos nomes uma possibilidade, poderia bancar o petista.
No entanto, mesmo que Iris consiga mesmo convencer politicamente o PMDB a apoiar Paulo, os peemedebistas teriam ressalvas de ordem administrativa contra o petista. “Ele [Paulo Garcia] ainda não tem uma marca. Ele ficou dois anos na prefeitura, mas não conseguiu ter uma grande administração. Justamente por isso que é difícil pensar que em pouco mais de um ano ele conseguirá mudar isso”, atesta uma liderança do partido que prefere o anonimato.
TROCA
Além da proximidade de Iris e Paulo, um argumento que poderia convencer os peemedebistas é que, caso o petista seja candidato ao governo, terá de deixar o cargo de prefeito. Com isso, o PMDB, com o vice-prefeito Agenor Mariano, assumiria o Paço Municipal, voltando a comandar a prefeitura da capital – numa inversão do que ocorreu em 2010, quando Iris deixou o Paço para o petista e candidatou-se ao governo.
Isso, porém, não seria suficiente para os peemedebistas.”Não trocamos um mandato de governador por meio mandato na prefeitura de Goiânia”, resume Kid. “Isso não pode ser colocado na mesa, não tem nem de entrar na discussão. O Paulo tem de ser candidato se tiver viabilidade”,defende o ex-prefeito de Goianésia e ex-deputado estadual, Gilberto Naves. “Isso pode ser do interesse do PMDB de Goiânia, mas não é do PMDB de Goiás”, sentencia o ex-prefeito de Quirinópolis Gilmar Alves.
Além da volta à prefeitura de Goiânia não empolgar, o veto ao nome de Paulo seria motivado também por uma defesa dos interesses peemedebistas. “Nós não fazemos reparo ao Paulo. Temos um grande apreço por ele, que conquistou os peemedebistas como vice-prefeito e também como prefeito, mas é que temos uma tradição de sempre lançar candidato ao governo”, defende Kid Neto.
O respaldo ao argumento de Kid é histórico. Desde 1982 com Iris, o PMDB tem um candidato ao governo de Goiás. Em 1986, o candidato foi Henrique Santillo, enquanto em 1990, Iris voltou a disputar o cargo. Em 1994, foi a vez de Maguito, com Iris de volta em 1998. Maguito tentou de novo em 2002 e 2006, com Iris em 2010 sendo o último da lista.
É justamente por causa disso que os peemedebistas ainda não dão o braço a torcer sobre um apoio a um candidato de outro partido. “O PMDB é oposição por convicção. O PT, hoje, também é oposição. O Vanderlan ainda não é oposição, assim como o Caiado, que fala que é, mas nunca foi. Mesmo brigado, acaba junto com o Marconi e ainda consegue colocar o vice”, explica Kid Neto.
ESTRATÉGIA
Apesar do discurso, o PMDB terá de correr contra o tempo para manter a tradição de ter a cabeça de chapa. Para isso, o partido já sabe o caminho, que é o de superar as disputas internas e definir um nome. A discussão sobre a candidatura ou não de Iris Rezende, portanto, teria de ser decidida agora, dando tempo para que a sigla buscasse alternativa caso o nome do ex-prefeito fosse descartado.
Como a decisão não será tomada por agora, a solução é deixar Iris em “stand-by” e criar um nome novo. Eleito presidente do diretório regional do partido, o deputado estadual Samuel Belchior declarou, em entrevista à Tribuna em dezembro, que serão feitas viagens pelo interior para organizar a sigla pensando em 2014.
Se, apesar dos esforços, o PMDB não chegar a um consenso, a solução será mesmo de apoiar um nome de outro partido. Nesse sentido, talvez ainda sobre uma esperança para o sonho de Paulo Garcia ser o candidato da oposição abençoado por Iris Rezende. “Eu acho que o PMDB tem que ter um nome, mas também acho o Paulo Garcia extremamente competitivo. A população quer renovação e ele pode representar isso, mas também precisa ter uma administração um pouco melhor”, avalia uma liderança peemedebista”.