Tradicionalmente comedido e voltado para os assuntos de economia, o jornalista Wanderley Faria mudou o tom e extravasou indignação na página de opinião de O Popular, neste sábado, batendo pesado na Assembleia Legislativa em razão da farra dos supersalários criados secretamente pelo presidente Helder Valin.
Em estilo panfletário, Wanderley dirigiu-se diretamente aos parlamentares estaduais e bradou: “Senhores deputados, tenham paciência. Não cola mais essa de ninguém viu, ninguém sabe o que está votando”.
“Vocês deram um tapa na cara do eleitor goiano“, afirmou Wanderley Faria.
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Não subestimem o eleitor
Não vou falar de inflação, Produto Interno Bruto, taxa básica de juros e da PEC das Domésticas. Mas da decisão da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás em criar 12 cargos com salários de até R$ 44 mil ou mais. Uma desfaçatez sem tamanho. Tão absurdo quanto o valor a ser pago aos escolhidos – que devem ser sumidades em conhecimento e competência nas áreas pelas quais serão responsáveis – é o processo de aprovação pelo plenário dessa medida proposta pela mesa diretora da Assembleia.
Senhores deputados, tenham paciência. Não cola mais essa de ninguém viu, ninguém sabe o que está votando. Falta transparência à Assembleia. Não é de hoje que essa prática se tornou corriqueira. A edição do POPULAR de ontem mostrou que os deputados estaduais aprovaram matérias sem tomar conhecimento do conteúdo que estavam votando, como nos casos do limite de alunos por sala de aula, mudanças no regime interno, criação de 1.616 cargos comissionados no Estado e o pagamento do 14º e 15º salários. Cuidado, se continuar esse descaso em aprovar projetos dessa forma, uma hora vocês aprovam a própria cassação.
Por favor, não subestimem nossa inteligência. Vocês deram um tapa na cara da população goiana. Os vossos eleitores, senhores deputados, pagaram R$ 28,1 bilhões em impostos no ano passado, dos quais R$ 12,4 bilhões só em tributos estaduais. Parte desse dinheiro, a que a Assembleia tem direito no Orçamento do Estado, não deveria ser usada para essas e outras benesses. Mas sim para a atuação de um Legislativo com qualidade, voltado mais para os interesses da população e para o desenvolvimento de Goiás do que para os interesses dos apadrinhados.
Com a falta de recursos para as áreas de saúde, segurança e educação, seria uma boa oportunidade para reavaliar o orçamento da Assembleia. Para encher as contas bancárias de poucos, só pode estar sobrando dinheiro no Legislativo ou a distribuição está malfeita.
A população precisa se mobilizar para acabar com esses desmandos. Exigir dos políticos a aplicação correta do dinheiro do contribuinte é um exercício de cidadania. Afinal, todos os deputados estaduais, sem exceção, só estão em seus cargos porque foram eleitos pelos cidadãos de Goiás. Por isso, é preciso transparência.
O impacto das decisões dos políticos em nossas vidas e, portanto, em nossos bolsos, é grande. O efeito será bom ou ruim dependendo das nossas escolhas. Não aguentamos mais a elevada conta da má gestão e da corrupção, seja em qualquer Poder, Legislativo, Executivo ou Judiciário.
Mas, acima de tudo, é a consciência do cidadão que terá de evoluir no sentido de participar da fiscalização dos gastos governamentais e excluir da vida pública os políticos que gastam mal ou desviam dinheiro. Ou seja, reclamações não vão mudar o País. O voto consciente, sim, pode mudá-lo, e muito.