Uma coleção de episódios lamentáveis manchou a história do município de Bela Vista de Goiás. O pano de fundo da crise é a divergência entre o prefeito Eurípedes do Carmo (PSC) e a vice-prefeita Nárcia Kelly (PR), a quem familiares e amigos do prefeito, num acesso de fúria, teriam chamado de “puta”, “sem vergonha”, “cachorra” e “vagabunda” (segundo a própria vice-prefeita).
Nárcia conta ao blog Goiás 24 Horas que cortou relações com Eurípedes no início do mandato, quando ele teria dito a ela que “o cargo dela era a perspectiva de poder”.
A crise começou quando o prefeito tirou férias no começo do mês com o suposto objetivo de obrigá-la a assumir o Executivo municipal no começo deste mês e, assim, impedi-la de disputar um mandato de deputada estadual este ano (em função da lei eleitoral). Nárcia poderia atrapalhar a reeleição do irmão de Eurípedes, o deputado Luiz Carlos do Carmo (PMDB).
Ao assumir a prefeitura, Nárcia exonerou o procurador-geral os secretários de Finanças e Administração. “Precisava disso. Não confiava neles”. O Ministério Público suspeita que os três de obrigaram os demais auxiliares a também pedir exoneração sob ameaça de ficarem desempregados quando o titular voltasse.
“O resultado”, diz a vice-prefeita, “foi o caos generalizado em toda cidade. Houve paralisação em todos os serviços”. Ao todo, mais de 90 funcionários comissionados pediram demissão – forçada ou voluntariamente. “Tinha gente à espera de atendimento nos postos de saúde há horas, ruas cheias de lixo e transporte coletivo suspenso. Tudo parado até segunda ordem”.
Eurípedes voltou ao município três dias depois e, segundo Nárcia, veio acompanhado de um exército de correligionários dispostos a ofendê-la e reassumir a prefeitura. “Fui chamada de puta, sem vergonha e vagabunda pela turma do prefeito. Achei que fosse apanhar. Fiquei muito assustada e precisei da escolta de cinco policiais para não ser agredida, como meu primo foi”.
O quadro com a sua foto, pendurado na parede quando começou a sua interinidade, foi jogado ao chão e estraçalhado – segundo a vice-prefeita – pelo secretário de Administração, Vanderlan Celso e Silva.
A vice-prefeita enxerga na “invasão” do prefeito e sua turma um ato deliberado de desrespeito à figura da mulher. “Se eu fosse homem não teriam agido daquela forma. Episódios como esse desencorajam a participação feminina na política”. Ela diz que está fazendo terapia para superar o episódio.
AÇÃO PÚBLICA
O promotor Carlos Vinícius Alves Ribeiro propôs ação civil pública contra os três secretários exonerados por Nárcia e outros quatro por incitar a desordem administrativa e ameaçar os comissionados que continuaram no cargo, o que configura abuso de poder. Ribeiro pede o afastamento de todos eles.