Virou moda na imprensa goiana, nas últimas semanas, jornalista escrever análises altamente negativas para os partidos de oposição. A impressão é que esses profissionais estão revoltados com a inapetência e incompetência dos oposicionistas que estariam frustrando seus desejos pessoais.
Neste fim de semana, mais uma análise foi publicada neste sentido, desta vez no semanário Tribuna do Planalto. O autor é Filemon Pereira, conhecido no meio jornalístico pelas suas estreitas ligações com o PMDB e outros partidos de oposição. Filemon já ocupou assessoria da deputada Iris Araújo e não esconde sua veia peemedebista no Twitter.
O jornalista diz que a oposição tem complexo de vira-lata e que não consegue aproveitar os desgastes de Marconi Perillo.
Veja a análise:
Por que a oposição tem medo de Marconi?
Filemon Pereira
Em Goiás, os partidos de oposição foram acometidos de um complexo de vira-lata ao longo dos últimos anos. A jovialidade do governador Marconi Perillo (PSDB) e os anos de sucesso do seu projeto de poder, o chamado Tempo Novo, retraiu os contrários. No início, parecia antiquado não respaldar o jovem governador, que havia derrotado o ‘velho’ Iris Rezende e desalojado do poder o PMDB, que há 16 anos mandava e desmandava em Goiás.
Com o tempo, Marconi ganhou musculatura política, fortaleceu seu grupo, transformou-se de fato em um dos protagonistas da história política do Estado. Com isso, o que no começo era apenas constrangedor, passou a ser uma missão difícil. Desafiar o poder do tucano era para poucos. O PMDB definhava (com novas derrotas em 2002 e 2006) e o PT, em Goiás, ainda muito incipiente.
A política goiana só voltou a ter ares de mudança com a ruptura política entre Marconi e o então governador Alcides Rodrigues (PP), em 2010. Apesar de fraco politicamente, com baixa popularidade, o governo pepista arranhou a imagem do tucano. Marconi passou a ser alvo constante de questionamentos e parte de sua popularidade foi solapada. Ainda assim, Marconi reuniu forças, arregimentou grupos diversos, e venceu a apertada disputa eleitoral de 2010, voltando ao governo.
Marconi retornou ao poder, mas jamais voltou a ter a força de antes. Já não gozava do mesmo prestígio político de quando deixou o governo, em 2006, para ser praticamente aclamado senador. No primeiro ano de seu terceiro mandato pouco fez. Confessou, ao final, que havia sido um ano perdido apenas com a arrumação da casa. O tucano esperava deslanchar no ano seguinte.
Mas 2012 foi ainda mais cruel com Marconi. Além de greves, aumento substancial da violência, infraestrutura precária da malha viária, crise no atendimento a Saúde, etc, etc… o governador foi engolfado por um escândalo político: o chamado Caso Cachoeira. Entre manchetes nacionais diárias, protestos de rua, demissão de auxiliares e depoimento em Comissão de Inquérito, o tucano perdeu mais um ano. E perdeu o rumo.
Até entre os aliados do governador o sentimento é de que Marconi tem em 2013 um ano decisivo pela frente. Precisa, em pouco tempo, deslanchar seu governo e deixar as sucessivas crises no passado. Ainda assim, uma nova candidatura ao governo, pela quarta vez, é vista com preocupação e reserva. Além do esgotamento natural de um projeto político (como ocorreu com o PMDB de Iris), muitos entendem que a reversão dos desgastes não é fácil e, muito menos, rápida.
Ainda assim, a oposição em Goiás pouco ou quase nada produz para manter o foco de desgaste com o governador Marconi. Na Assembleia, o trabalho é meio que envergonhado. Nem PMDB nem PT incomodam o tucano, com poucas exceções. A desculpa atual, a mais repetida, é a de que o momento é de se fazer um projeto para Goiás e que a população não quer saber de críticas. Pura balela. O projeto até pode e deve ser pensado, mas o momento de apresentá-lo é só na eleição, no segundo semestre do ano que vem.
O mais provável é que muitos continuam a temer a força de Marconi. Imaginam friamente que, ao final, o tucano prevalecerá mais um vez. Assim, cuidam de seus projetos particulares (manutenção de seus mandatos) sem ocupar-se de ambições maiores – um defeito comum a quem não tem espírito de liderança nem ambições maiores. Dispensável citar exemplos…
Há ainda aqueles que avaliam ser de fato possível derrotar Marconi em 2014. Porém, uma avaliação mais detida encontra certa arrogância nesse grupo. Quem entende, por exemplo, o ex-prefeito de Senador Canedo, Vanderlan Cardoso (sem partido)? É candidatíssimo ao governo, mas não se opõe ao tucano (desafio alguém encontrar uma crítica de Vanderlan a Marconi sobre o Caso Cachoeira, por exemplo). Ao contrário, Vanderlan brigou com PMDB e PT, dividiu a oposição e isolou-se. Deve crer que chegará ao governo pelas mãos divinas…
Até mesmo o deputado Ronaldo Caiado (DEM), outro pré-candidato, peca nesse sentido. Caiado passa seu tempo fazendo oposição ostensiva a presidente Dilma Rousseff. Na semana passada, desfilou no Congresso com um carrinho de supermercado para criticar Dilma pela alta da inflação. Um desavisado pensaria que Caiado quer disputar a sucessão presidencial e não a de Goiás. Mas alguém sabe o que Caiado, defensor do setor produtivo, pensa sobre as condições das rodovias no Estado? Pois, é.
“Oposição calada não é oposição. Oposição agachada não é oposição. Precisamos vestir a camisa e assumir nossos papeis. Se não concordamos com a atual gestão, não podemos negociar. Não há barganha de interesses na política. Ou não há política de verdade. Se alguém concorda com Marconi, que assuma como situação”. A frase acima foi disparada pela deputada federal Iris de Araújo (PMDB), durante discurso em Ceres, na primeira viagem da chamada Caravana das Oposições, na última sexta-feira, 12.