Em julho de 2013, no espaço nobre das páginas de O Popular, o mais importante jornal do Estado, a repórter política Fabiana Pulcineli publicou um artigo “aconselhando” o governador Marconi Perillo a não disputar a reeleição para não manchar a sua biografia com uma derrota.
Fabiana disse, no artigo, que Marconi estava muito desgastado, que o seu Governo já havia se inviabilizado e que não haveria tempo para se recuperar e apresentar uma candidatura com possibilidade de vencer em 2014.
Segundo a jornalista, o Governo se defrontava com “barreiras para avançar” e deveria “enxergar as fragilidades, os desgastes, as dificuldades, a perda de credibilidade e, principalmente, avaliar em quais aspectos um quarto mandato poderia trazer algo positivo” tanto para Marconi quanto para Goiás.
Um ano e três meses depois da publicação do artigo, Marconi foi reeleito com a maior vantagem já obtida dentre todas as eleições que enfrentou.
Veja, na íntegra, o artigo histórico (e bola fora) de Fabiana Pulcineli (lembrando mais uma vez: datado de julho de 2013) apostando alto na derrota de Marconi em 2014:
Passo de alto risco
Mesmo que abra portas para especulações em contrário, o governador Marconi Perillo (PSDB) trabalha, sim, dia e noite, para chegar a 2014 com boas condições de disputar a reeleição. Considera que lhe tiraram, injustamente, a possibilidade de um voo mais alto (nacional) e acha que terá chances de, com uma possível vitória em 2014, “limpar” manchas que ficaram em sua biografia política com o caso Cachoeira.
Não é fato, portanto, que, diferentemente de 2010, não tem “motivação especial” para querer novo mandato no Executivo. À época, ele teve seu patrimônio político abalado por uma gestão (do ex-governador pepista Alcides Rodrigues) que rompeu com o PSDB e acusava ter recebido uma herança de rombo nas contas do Estado.
Agora, Marconi aposta na melhoria de sua gestão e é estimulado pela falta de um candidato forte na oposição para tentar seu quarto mandato. Vencer novamente seria a “prova maior” de força política e de manutenção de sua liderança no Estado, mesmo depois de tantos desgastes. Desistir de disputar representaria, dizem interlocutores, a admissão de fraqueza por conta dos maus momentos do governo.
De outro lado, a imagem de apego excessivo ao poder é um risco. Pode representar mais desgastes e também é tema de alertas dirigidos ao governador. O próprio tucano costuma destacar o ineditismo de quatro mandatos eletivos consecutivos em cargos majoritários – se reeleito em 2014 seriam três no governo e um no Senado. Precisa de mais?
Marconi elegeu-se governador em 1998 como representante do novo e de uma visão moderna, condenando práticas políticas ultrapassadas, defendendo o fim de métodos retrógrados na gestão, prometendo avanços. Seu primeiro governo conseguiu deixar uma marca desse sopro de modernidade. O segundo também terminou com grande aprovação, embora sem o frescor do primeiro.
Em 2014, o grupo governista completará 16 anos de poder, 12 deles com Marconi, e agora com um governo com aprovação abaixo dos dois anteriores. Mesmo que o governo aposte que vai deslanchar a partir de agora, o tempo é curto para cumprir tantas promessas de campanha, superar os desgastes políticos e avançar em relação aos outros mandatos. Além disso, a administração tem amarras das quais Marconi não vai se desvencilhar – se tivesse condições, já teria se desvencilhado.
Ao contrário, a tendência, diante da baixa aprovação da gestão e das dificuldades da disputa, é que o governador tenha de fechar ainda mais compromissos políticos-eleitorais do que aqueles feitos em 2010, para ter boas chances de se reeleger. Compromissos que o impedem atualmente, por exemplo, de dar um novo sopro de modernidade à gestão tornando a máquina menos inchada, em resposta às cobranças da onda de manifestações por todo o País, de redefinir as prioridades de seu governo ou, ainda, de não depender de uma política de comunicação tão ultrapassada.
É moderno querer brigar a todo custo por um quarto mandato com tantas amarras? Combina com o discurso de novas práticas políticas não abrir espaço para outras lideranças, incentivando à reciclagem de ideias e de projetos?
Os aliados mais entusiasmados dizem que Marconi sabe se reciclar, se adaptar ao novo e que é atento aos anseios da população, mas é preciso reconhecer as barreiras que a gestão encontra para avançar. É necessário enxergar as fragilidades, os desgastes, as dificuldades, a perda de credibilidade e, principalmente, avaliar em quais aspectos um quarto mandato poderia trazer algo positivo – para a política e para o Estado.
Ao articular e fortalecer uma candidatura dentro da base, tornando-a competitiva, Marconi poderá também provar seu poder político, preservar sua liderança e mostrar desprendimento coerente com o discurso de modernidade na política. A falta de discernimento, a vaidade e o menosprezo às cobranças ou críticas do eleitorado são perigosas. As derrotas do PMDB, especialmente a de 1998, servem de exemplo.
O ex-prefeito de Goiânia, Nion Albernaz (PSDB), costuma contar que se arrepiava ao ouvir incentivos para se candidatar depois de deixar a Prefeitura, em 1999. A tentação era grande, mas se manteve firme porque, diz, é “preciso saber o momento de se descasar da política”. E o momento certo é aquele em que são preservadas as lembranças positivas, o patrimônio político, a liderança, a coerência e a popularidade.
Marconi, claro, está longe de deixar a política, até por sua idade e também por seu perfil, mas as reflexões sobre a necessidade de desapego para valorizar a biografia podem ser adaptadas à discussão da disputa pela quarta candidatura ao governo.
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