sexta-feira , 3 maio 2024
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Vereadores evangélicos e católicos de Goiânia dizem que gays ridicularizam fé cristã e chamam Parada LGBT de “pouca vergonha”

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Viviany Beleboni, atriz transexual cruxificada na parada LGBT: alvo da hipocrisia de quem explora a fé

Vereadores evangélicos e católicos da Câmara Municipal de Goiânia uniram-se, nesta terça-feira, em um ato lamentável de exploração política e eleitoral da fé cristã.

Capitaneados pelo pastor Fábio Lima (PRTB), que excedeu-se numa exposição teatral pouco comum neste seu primeiro mandato, os colegas Célia Valadão (PMDB), Divino Rodrigues (Pros), Rogério Cruz (PRB) e Paulo Magalhães (SD) embarcaram na canoa furada da intolerância, do preconceito e da ignorância e deram um show de homofobia.

Aos berros, Fábio Lima rasgou uma cópia de jornal que estampava a imagem do homossexual crucificado na 19ª Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) neste domingo (7). “O cara quer ser gay, bi, tri, tetra, penta, que seja. Mas não se zomba da fé cristã. Não venham ridicularizar os símbolos da fé cristã nessa pouca vergonha de Parada Gay e depois vir falar de respeito, amor e direitos. Querem respeito? Então se deem respeito”.

O primeiro a pedir aparte foi Rogério Cruz (PRB), evangélico, para dizer que a Bíblia condena o homossexualismo. Citou trechos dos livros de Levíticos (“Não se deite com um homem como quem se deita com uma mulher; é repugnante”), Deuteromônio (“Não haverá traje de homem na mulher, e nem vestirá o homem roupa de mulher”) e Coríntios (“Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas…”).

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Vereadora Célia Valadão (PMDB), que se diz católica: “Jesus ama, infelizmente, até essas pessoas”

O segundo a prestar apoio foi Divino Rodrigues – que apesar de ser contra os homossexuais, certamente é a favor da contratação de servidores fantasmas na Câmara, uma vez que já recorreu a este expediente no seu gabinete (é o que dizem Ministério Público e Polícia Civil). Na sequência, a católica Célia Valadão (PMDB) disse: “Jesus ama, infelizmente, até essas pessoas”.

Por fim, Paulo Magalhães (SD) afirmou, saudoso: “isso é um absurdo. Sou do tempo que se pedia ‘bença”.

Coube a Elias Vaz (PSB) e Dra. Cristina (PSDB) dar o sopro de lucidez e bom-senso que contrastou com o obscurantismo destes vereadores oportunistas e ignorantes. “Não podemos esquecer que um importante líder da igreja de vocês chutou a imagem da Nossa Senhora e poucos de vocês se levantaram contra esse ato de intolerância contra um símbolo da fé cristã”, lembrou Cristina, que se referia ao bispo Sérgio Von Helde, da Igreja Universal do Reino de Deus, que protagonizou este episódio em 1994.

“Homem com homem não é coisa abominável. Eu não posso ouvir isso e ficar calado”, respondeu Elias Vaz, resgatando, em muitos que assistiam a sessão, o pouco que restou da nossa fé na humanidade.

A atriz transsexual cruxificada na Parada Gay é Viviany Beleboni, de 26 anos.Ela se prendeu à cruz, encenando o sofrimento de Jesus, para “representar a agressão e a dor que a comunidade LGBT tem passado”. “Nunca tive a intenção de atacar a igreja. Usei as marcas de Jesus, que foi humilhado, agredido e morto. Justamente o que tem acontecido com muita gente no meio GLS, mas com isso ninguém se choca”.

Em cima da cruz, uma placa foi colocada com o texto: “Basta de homofobia”. “As pessoas não sabem ler? Coloquei a placa justamente para ficar claro que era um protesto. E mais: tudo bem encenar a paixão de cristo, mas quando é um travesti não pode, não é?”.

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